10 de outubro de 2010

Superman & Batman - Apocalypse

Esse post pode conter SPOILERS casuais!


Houve um período da minha vida que decidi parar de colecionar quadrinhos, em meados de 2000 a 2002. Esse período marcou justamente a transição da publicação das HQs da Marvel e da DC — que até então era da Editora Abril — para a Panini. Eu havia parado de colecionar em especial pelo preço das revistas que passaram a ser bem salgados, e outra porque já não tinha mais tanto espaço para armazená-las em casa.

Por volta de 2002, comecei a me interessar novamente pelas HQs após dois anos longe desse universo, e passei a comprar a revista Wizard (hoje Wizzmania) para me interar das novidades (sites de notícias “HQzísticas” ainda não eram populares). Umas das sagas que me interessou e muito foi “Apocalypse” (que no Brasil foi lançada como a "Supergirl de Krypton" nas edições 1,2,3 e 4 da revista Superman e Batman pela Panini), onde o Superman e o Batman se uniam em volta de um mistério que trazia uma possível kryptoniana em rota de colisão com Gotham City. O roteiro era assinado pelo controverso Jeph Loeb e os desenhos ficavam a cargo de Michael Turner (artista falecido em 2008), que fez sua fama rabiscando para a Image Comics. Eu estava de volta às HQs recentemente, o formato americano mensal era novidade (antes eram publicadas apenas minisséries no formato) e pra mim tudo era lindo e belo. Eu até que curtia os desenhos irregulares do Turner na época, achava a Supergirl que ele desenhava uma fofura e hoje me atrevo a dizer que o roteiro do Loeb chega a ser simpático, embora não seja nenhuma maravilha e tenha mais furos que um queijo suíço.



Superman/Batman – Apocalypse é mais uma animação da DC que tira um arco completo das HQs e transforma em desenho animado, e é muito bem executada, como todas até hoje. Vai ser muito difícil você me ver criticar a parte técnica das animações da DC por aqui, porque nesse quesito eles não erram. O que me deixa curioso é, se eles tem os recursos em mãos, porque não ousam em projetos mais emblemáticos como um Entre a Foice e o Martelo (HQ do Superman escrita por Mark Millar), Contrato de Judas (história dos Novos Titãs escrita por Marv Wolfman) ou mesmo Crise de Identidade (de Brad Meltzer)? Os roteiros de Jeph Loeb são pra lá de rasos (não que eu queira profundidade em desenhos animados), mas podíamos ver um longa metragem animado de qualidade ao invés de ter sempre que engolir o mais do mesmo junto com porradaria desenfreada.


Vamos ao review.

“Apocalypse” é a animação mais fiel que já vi de uma história em quadrinhos, embora isso só valha até certo ponto. Bem próximo da metade do filme toda a HQ aparece em cena com levíssimas alterações para tornar o roteiro mais compreensivo. No início, uma locução de TV nos informa o que aconteceu anteriormente ligando inteiramente o começo da história com o fim de Inimigos Públicos (outra animação do qual não fiz review mas que vi), onde o Batman, a bordo de um robô gigante (?) destrói um meteoro de Kryptonita, impedindo o fim do mundo. Depois disso, as pedras verdes se espalham aos milhares pela Terra e o Homem de Aço é obrigado a se confinar na Fortaleza da Solidão a fim de que não seja exposto à radiação mortal do metal alienígena.


Logo em seguida, uma nave despenca dos céus em direção à Gotham e cai no rio onde o Batman recolhe alguns fragmentos de Kryptonita. A partir de então somos apresentados a uma belíssima menina loira (nua) que começa a andar a esmo pela cidade falando um idioma estranho e entrando em conflito com alguns moradores, aparentando ter superpoderes muito similares aos do Superman.


Na cronologia oficial da DC, atualmente, aquela Supergirl que morreu em Crise das Infinitas Terras jamais existiu, por isso Jeph Loeb teve passe livre para recontar uma nova origem para a heroína, mesmo reaproveitando muitos conceitos já usados, como a menina ser filha de Zor-El, irmão de Jor-El, o pai do Superman e dela ter sobrevivido à destruição de Krypton por ter sido enviada antes do planeta explodir. Na época eu não entendia nada do assunto, mas imaginava que toda a história antiga havia mesmo sido limada com o fim da Crise.

Após adormecê-la e examiná-la em sua batcaverna, Batman chega à conclusão de que a menina é alienígena e que possui os mesmos padrões que o Superman, embora metabolize as propriedades do sol (o que dá seus poderes) de forma mais intensa que o próprio.


Pense na história de um homem que passou a vida toda acreditando que é o único sobrevivente de um planeta extinto que de repente encontra outra pessoa da sua raça caída do céu. Não é difícil imaginar a afeição instantânea que o Superman assume pela prima, e conforme o tempo passa, embora a desconfiança do Batman sobre a verdadeira origem da menina aumente, o Superman está cada vez mais paterno com a moça, e eles começam a entrar em conflito.

Na HQ a desconfiança sobre a veracidade da história de Kara é constante, mas na animação isso nem é percebido, exceto pelas atitudes do Batman que não acredita de imediato que ela seja uma Kryptoniana legítima. A atitude de “paizão” do Superman começa a deixá-lo descuidado, e aliado a Mulher Maravilha, o Batman prepara uma emboscada para convencer Clark a deixar a amazona treinar a inexperiente menina no uso de seus poderes. Embora consternado, ele é obrigado a aceitar, e Kara passa uma temporada na Ilha Paraíso (nome sugestivo para um lugar onde só podem morar mulheres!).


De fácil digestão, a história corre bem animada e carismática até esse ponto, é quando a veia “massa véio” de Loeb começa a falar mais alto. Enquanto as visões da vidente Precursora (uma das moradoras da Ilha) dizem que um futuro estarrecedor ameaça a vida da jovem Kara Zor-El, e a Trindade discute o que deve ser feito da menina, um tubo de explosão vindo de Apokolips se abre diante dos três e traz ninguém menos que o próprio Apocalypse, a criatura alienígena (Kryptoniana!) que matou o Superman

Tudo parece sob controle, “ah, é só O Apocalypse” quando, de repente, surge de dentro do mesmo tubo de explosão um verdadeiro exército de Apocalypses, o que faria tremer qualquer herói juvenil, mas não a Trindade e o exército das amazonas. O que se segue é uma sequência de absurdos que me deixaram sentindo vergonha alheia.


Quando surgiu nos quadrinhos, o Apocalypse era capaz de trucidar a Liga da Justiça inteira (tudo bem que não eram os membros mais poderosos) sozinho e isso sem nem rasgar a roupa. Ele não só espancou o Superman até a morte como se manteve vivo e ainda detonou com Apokolips e o próprio Darkseid. Depois de tudo isso, o personagem começou a se tornar cada vez mais fraco, e em todas as suas aparições ele era derrotado com extrema facilidade. Em Crise Final ele chega a ser derrotado pelo Superman da Terra 1 com UM soco.

Os Apocalypses que são trazidos à Terra são cópias mal feitas do original (claro), mas mesmo assim são derrotados com tanta facilidade que chega a causar vergonha. O Batman derrota alguns deles aplicando chutes (!!!) e depois os que restam são pulverizados por uma hiper visão de calor disparada pelo Superman (cujo resultado ficou bem fraco na animação). Quando li “um exército de Apocalypses” lá na extinta Wizard que citei no começo do post, eu imaginei algo muito mais grandioso.

O resultado é que o exército de monstros só serve para distrair a trindade enquanto o próprio Darkseid surge de dentro de outro tubo de explosão e rapta Kara, matando a Precursora no caminho. O senhor de Apokolips leva a garota para seu mundo de olho em seu enorme potencial e a hipnotiza na intenção de torná-la capitã de sua guarda de honra, um bando de mulheres perigosíssimas chamadas de Fúrias que são treinadas pela Vovó Bondade.


A fim de salvar a prima dos braços pérfidos de Darkseid, o Superman e os amigos Batman e Mulher Maravilha vão atrás de alguém que possui um meio rápido de viajar até Apokolips, e se encontram com Barda, a antiga capitã das tropas de Darkseid, que hoje vive num bairro pacato de alguma cidade americana (não especificada). 

Barda, à princípio tenta dissuadi-los de viajar até o Planeta Inferno, mas cabeçudos, os três não mudam de ideia, e Barda decide não só ajudá-los a chegar em Apokolips como também ir junto, e para isso, além da caixa materna que é um dispositivo que entre outras coisas abre tubos de explosão (portais entre os mundos), a guerreira disponibiliza alguns apetrechos do marido Sr. Milagre, outro ilustre ex-habitante de Apokolips. 

É interessante notar que exceto para os fãs, mesmo os que tenham informações rasas dos personagens, não há qualquer explicação sobre de quem são os apetrechos que Barda deixa disponível à Trindade, o que considero um furo no roteiro. O Sr. Milagre merecia ao menos uma citação que fosse.

Chegando em Apokolips, enquanto o Batman (com os aparatos voadores do Sr. Milagre) enfrenta cães gigantes e parademônios (os soldados de Darkseid), a Mulher Maravilha e Barda enfrentam as Fúrias, sobra para o Homem de Aço resgatar a inocente prima, que agora está sob o domínio de Darkseid. 

Sem perder tempo o Mestre do Mal volta a menina contra o Superman e decidido a não reagir, ele toma uma tremenda surra da loirinha. Na HQ ele usa o anel de Kryptonita que ele deu ao Batman para situações de emergência para vencer a prima (!!) mas na animação isso nem é citado.


Ele acaba com a menina na porrada mesmo, a Mulher Maravilha junto com Barda derrota as Fúrias subjugando também a Vovó Bondade, e o Batman dá uma cartada final invadindo o depósito de armamentos de Darkseid, reprogramando os chamados “esporos do inferno” e ameaçando explodir o planeta todo se o vilão não entregar Kara ao Superman. 

No final, como na HQ, o Batman é surrado por Darkseid e ele admite que entre os membros da Trindade, o morcego é o único capaz de jogar sujo.

Na HQ, depois que eles retornam à Terra fica bem claro que Darkseid não deixará barato aquela derrota e volta para o planeta a fim de executar o Superman. Quando ele lança um de seus feixes ômega em direção ao kryptoniano, sua prima assume a frente e é fulminada pela descarga fatal do vilão. O Superman se enfurece, e numa batalha épica (mas nem tanto) chuta quase que literalmente o traseiro cinzento de Darkseid até o espaço, fazendo-o posteriormente se perder num cemitério de entidades celestiais (A Muralha da Fonte). Quando o Superman volta à Terra ele revela que na verdade a Supergirl não está morta e que ela foi transportada pouco antes de ser fulminada e blábláblá. Final pra lá de decepcionante.

Na animação, Darkseid realmente vem atrás do Superman, mas em nenhum momento a Supergirl é fulminada. Ela e o Superman são atingidos dúzias de vezes pelos feixes ômega (aparentemente Darkseid esqueceu de carregar as baterias!) e nada acontece a eles (!) fora o atordoamento típico. Ainda mais ridículo que isso, Kara chega a enfrentar Darkseid sozinha (com direito a golpes de Street Fighter que deixariam Chun Li com inveja) e espanca o Senhor de Apokolips. Depois, ela é derrotada. O Superman espanca Darkseid. Depois o Darkseid vence o Superman. Aí a Supergirl espanca o Darkseid... E assim sucessivamente num baita espetáculo “massa veístico”. 

É a luta mais exagerada que já vi em uma animação da DC. Não há emoção, só um monte de cenas de ação estúpidas e inimagináveis nas HQs. Por um momento me senti vendo Akira (que é um clássico) ou aqueles desenhos japoneses super apelativos, o que estragou e muito o resultado final do filme.

Um breve comentário sobre os poderes de Darkseid: é certo que o vilão pode usar suas rajadas como bem entender, e os nomes também variam entre Sanção Ômega, feixes Ômega e Efeito Ômega. De qualquer forma, não faria sentido ele usar seus poderes com intensidade baixa sendo que ele estava ali para acabar com o Superman. Pelo menos na HQ isso não acontece, e o Superman é salvo de ser pulverizado duas vezes, uma por Kara e outro pelos braceletes da Mulher Maravilha.

Como disse anteriormente e repito agora Superman/Batman - Apocalypse (ainda não sei por quê o nome!) não chega a ser uma animação ruim, mas por se tratar de uma história de Jeph Loeb começa bem, mas tem um fim muito aquém do esperado. De qualquer forma vale por algumas lutas como as de Diana e as Fúrias (outra vez com direito a golpes de WWE!) e o enredo leve que nos faz ter uma certa afeição pela SuperGirl.

Superman/Batman – Apocalypse foi lançado recentemente e pode-se encontrar versões em DVD e em Blu-Ray.

Nota: 7

Dublagem
Já elogiei aqui a competente dublagem brasileira nas animações estrangeiras, e certos filmes são quase que impossíveis de se assistir com suas vozes originais, é o caso de Toy Story, Monstros S/A e Procurando Nemo. Já nos desenhos animados a história se repete e quase toda a equipe que dubla Liga da Justiça e Liga da Justiça sem Limites retorna em Superman/Batman Apocalypse, dando um show de interpretação. Se o longa não chega a ser nenhuma perfeição, o mesmo não pode ser dito dos dubladores.

O carismático Guilherme Briggs volta a emprestar sua voz ao Homem de Aço como aconteceu nos desenhos da Liga e também no longa animado A Morte do Superman, e apesar do Azulão não dar chance para o dublador exercitar sua veia cômica (o que é uma marca nos personagens que dubla), seu trabalho continua impecável, assim como esteve em A Múmia (dublando Brendan Fraser, minha dublagem preferida), em Toy Story (Buzz Lightyear) e em Lost (dublando o Sawyer).

Por trás do Batman está a inconfundível voz de Marcio Seixas que dubla o personagem desde a primeira animação criada para o Batman nos anos 90 após os filmes de Tim Burton (Batman e Batman o Retorno) e do qual sou um grande fã. Quem não se lembra do tenente Frank Dreblin da série Corra que a Polícia vem aí na voz de Seixas? É de rachar de rir.

Completando a Trindade, Priscila Amorim volta a dublar a Mulher Maravilha o que já se tornou uma constante. É difícil imaginar outra voz feminina para Diana que não seja a dela. Seu tom firme mas não menos sexy casa perfeitamente com a bravura da Amazona e a meu ver, só Priscila poderia dublar a personagem.

Para dublar a Supergirl a escolhida foi Fernanda Fernandes, voz pelo qual sou apaixonado desde que ela dublou a Vampira dos X-Men ainda na primeira versão do desenho animado. De lá pra cá, Fernanda dublou praticamente todas as aparições da mutante em todas as mídias, incluindo a versão cinematográfica. O jeitinho angelical da prima do Superman também combinou com a voz levemente rouca de Fernanda. Nota 10!

Para completar minha homenagem aos dubladores do filme, não poderia deixar de citar Carlos Seidl, a voz do eterno Seu Madruga que ficou encarregado de dublar a “bondosa” Vovó Bondade, o braço direito do vilão Darkseid. Seidl é conhecidíssimo no ramo e duvido que tenha alguém que costuma ver filmes, seriados e desenhos que nunca tenha ouvido sua voz. Só pra citar rapidamente alguns dos personagens que ele já dublou vai desde o C3PO da trilogia clássica de Star Wars, passando por Lionel Luthor (pai do Lex) em Smallville até o palhaço Krusty dos Simpsons.

Graças a esses profissionais, vale a pena de vez em quando deixar de ver a versão original de alguns filmes e descansar os olhos das legendas por um tempo. Viva os atores e dubladores brasileiros!



NAMASTE!

2 comentários:

  1. Oi amigo ^--^ Eu sei que a postagem é antiga, mas ainda assim gostaria de fazer uma pergunta, caso você possa me responder, é claro.
    Bom, eu amei a animação, e a sua crítica também ficou sensacional, com isso, gostaria de ler a HQ, gosto muito da arte do Michael Turner e gostaria de vê-la nessa obra, você saberia me responder a onde posso encontrar a HQ para comprar ou ler online?
    Grata ^---^

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  2. Olá, Dora!
    Eu tenho essas edições aqui. Se quiser eu te vendo! Hehehehe!
    Brincadeiras à parte, acho difícil você não encontrar essas edições de Superman&Batman aqui: http://actionsecomics2.blogspot.com.br/2013/10/hq-batman-os-novos-52.html

    Boa sorte!

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