6 de julho de 2011

Misfits - A 2ª Temporada

Devo salientar de antemão, que a segunda temporada de Misfits sofreu de altos e baixos. Nos sete episódios (um a mais que a anterior comentada aqui) houve muitos momentos bons e muitos momentos dispensáveis, o que em comparação com a primeira temporada, que apesar de simples conseguiu ser muito bem executada, deixou um pouco a desejar do que se esperava.
Em primeiro lugar a série perdeu o caráter da individualização dos personagens comum anteriormente (até porque era necessário a sua apresentação), e não houve um episódio se quer que desse maior destaque à vida pessoal de alguns deles. Curiosamente, a produção me pareceu mais carente de cenários do que a temporada anterior (alguns fóruns chamam a série de "Mutantes com baixo orçamento"), e vemos poucas ambientações além do centro onde os "desajustados" cumprem seu serviço comunitário. É verdade, no entanto, que essas poucas ambientações aparecem como foco da vida dos cinco jovens fora do centro, e a maioria de suas aventuras ocorrem nesses lugares.

A série continua do ponto exato onde parou no episódio seis. Após a morte acidental da supervisora do centro comunitário pelas mãos de Simon (Iwan Rheon), fato que o próprio mantinha em segredo dos amigos, todos eles começam a ficar sob suspeita de investigações, enquanto remoem a suposta morte do porra-louca Nathan (Robert Sheeran). À espreita deles está uma misteriosa figura (que salvou Nathan de um linchamento anteriormente), e que parece ser uma espécie de anjo da guarda dos desajustados. Esse homem misterioso alerta Kelly (Lauren Socha) de que ela deve visitar o túmulo de Nathan sem maiores explicações, e com os outros três amigos ela vai até o cemitério, quando então ela houve os pensamentos do rapaz durante um sonho erótico dentro da cova. Como descobrimos no último episódio da série, Nathan recebeu o poder da imortalidade durante a tempestade, e coube aos demais desenterrá-lo, já que ele estava vivo para alegria (ou não) de seus companheiros. Com Nathan de volta, os desajustados ficam sob o comando de um novo supervisor do centro, muito menos preocupado do que seus antecessores (o termo correto seria "pouco se fodendo"), e a partir de então eles começam a viver novas aventuras livres da marcação cerrada.
Nessa temporada vários personagens fazem rápidas aparições durante um episódio no máximo, e no final deles ou morrem ou desaparecem. É o caso de um irmão bastardo de Nathan chamado Jamie que surge em sua vida para que ele tenha uma chance de se reconciliar com seu pai, que o abandonou ainda jovem junto da mãe.

Os irmãos de afeiçoam logo por terem uma vida de abandono semelhante, e eles começam a frequentar vários lugares juntos, tentando aproveitar o tempo perdido. Enquanto um flerte começa a surgir entre Nathan e Kelly, o desajustado e seu irmão conhecem uma moça com os poderes de congelar o que toca, e enquanto os dois "dividem" as moças em uma casa noturna (Nathan decide ficar com Kelly), os demais desajustados descobrem que drogas causam um efeito reverso em seus poderes e todos eles começam a experimentar sensações nunca antes vividas. Enquanto Simon em vez de ficar invisível começa a atrair as pessoas a seu redor e Alisha (Antonia Thomas) passa a repelir as pessoas em vez de atraí-las sexualmente, Curtis (Nathan Stewart Jarrett) tem um vislumbre do futuro e nele o ex-atleta vê todos os amigos mortos e a si mesmo vestido de super-herói sobre um telhado, na presença de uma moça desconhecida com o qual parece ter um caso romântico. Até então, este parece ser um fato isolado, mas a cena volta ser apresentada mais tarde quebrando completamente o que eu julgava que não aconteceria em Misfits, diferente de Heroes: Viagens temporais.

Além do irmão de Nathan surge também um amigo de Kelly que trabalha em um estúdio de tatuagem e que é capaz de manipular o sentimento das pessoas que "tatua", além de dar vida aos desenhos. Ao conhecer Nathan ele o manipula para que ele se torne um gay (são hilários os momentos em que ele começa a azarar o pobre Simon!), e no final de tudo eles são salvos pela intolerância do "vilão" a... Amendoins (!!).
A segunda temporada foi marcada pelo surgimento de diversos casos de pessoas superpoderosas que entraram em contato com os desajustados. A tempestade misteriosa que concedeu seus dons, diferente do que se pensava, não atingiu apenas os cinco jovens, e de repente Misfits ficou muito parecido com a série animada do Super-Choque, onde o acidente que deu os poderes a Virgil Hawkins em Dakota, atingiu também praticamente toda a cidade, e fez com que várias pessoas desenvolvessem superpoderes.

Nessa temporada teve de tudo: Desde um maluco que achava que estava vivendo dentro de um jogo de vídeo game (estilo GTA) a um gorila que havia "evoluído" a uma aparência humana devido a tempestade, e que chega a ter um caso (sexual) com Kelly, num dos episódios mais surreais da temporada toda.
Em meio a todo esse processo, um novo desajustado (meio hippie) surge no centro comunitário com os poderes de se teleportar a curtas distâncias, porém ele não dura o suficiente até que os espectadores criem um vínculo com ele e logo é assassinado, o que cria o mote para que seu coração seja transplantado para o corpo de uma moça frágil cuja morte é iminente devido seu estado de saúde delicado. Essa moça chamada Nikki (Ruth Negga) é a mesma que Curtis visualizou sobre o telhado, quando "visitou" o futuro, e a relação dos jovens com ela só é criada quando Simon segue o homem misterioso que os ajuda e acaba chegando ao apartamento da garota.

Nikki recebe o coração do desajustado riponga, e curiosamente recebe também seus poderes de teletransporte, passando a fazer parte do grupo, atraída por Curtis, que se separa de Alisha.
Alisha por sua vez, descobre o segredo do homem misterioso que passa a salvá-la toda vez que ela corre perigo, e ao acordar em seu esconderijo ela fica chocada em saber que ele na verdade é o próprio Simon, vindo do futuro! (OK, eu avisei que minha teoria de que Misfits não apelaria para viagens temporais tinha ido por água abaixo).
Olha que curioso o que postei aqui anteriormente:
"Uma vantagem Misfits tem em relação a Heroes, uma vez que não trata o assunto heróis de forma espalhafatosa usando como muleta efeitos especiais, roteiro que se perde fácil com viagens no tempo e personagens fora de contexto".
Isso é o que eu chamo de queimar a língua!

Embora eu ache que Heroes tenha se perdido quando começou a usar o tema viagens no tempo, vi em Misfits muito mais potencial do que em sua contraparte mais rica. É bem certo que transformar o personagem mais quieto e tímido em um super-herói corajoso e destemido vindo do futuro tem muito mais a ver com o Hiro de Heroes do que eu possa admitir, porém o mote em Misfits era muito mais fácil de ser trabalhado, mas não acabou funcionando muito bem porque os roteiristas meio que não souberam o que fazer com o Simon do futuro no final das contas, alegando que ele estava ali apenas para dar um alento a Alisha (que se apaixona por seu salvador) e para dar um rumo ao Simon do presente, já que seria o amor de Alisha que faria com que ele se tornasse aquele cara corajoso do futuro.

Quando o viajante do futuro acaba morrendo para evitar que um tiro acerte Alisha, toda aquela história se perde, e nem ao menos descobrimos como Diabos ele veio parar no presente (eu achava que tinha algo a ver com os poderes do Curtis, mas enfim!). A base secreta do Simon Mascarado possui vários arquivos relacionados aos desajustados, incluindo uma foto em que Simon posa ao lado de Alisha em Las Vegas (tirada num futuro possível) e uma entrevista em video que a garota dá para a TV, falando abertamente sobre seus poderes.

Outra coisa que me desagradou foi no episódio seis dessa segunda temporada em que visualizamos o que aconteceria se os poderes dos desajustados se tornasse de conhecimento público. Depois que um garoto vem a público para exibir seus fantásticos dons sobre o leite (!)... (É sério! Ele pode comandar o leite e seus derivados!), e que o supervisor do centro comunitário descobre que seus comandados também possuem super-poderes, a vida dos desajustados é virada do avesso e eles se tornam super-astros, ganhando uma agente publicitária que se aproveita dos seus e dos dons de vários heróis que vão surgindo em busca da fama, para enriquecer.
Diferente do que pode se imaginar, o quinteto (mesmo que Simon não concorde com a exposição) é levado a uma vida de glamour longe do centro comunitário, porém não aproveitam sua fama quando começam a ser caçados implacavelmente pelo garoto da lactocinese (achei fantástica essa definição), que se vê menosprezado depois que pessoas com poderes muito mais interessantes do que os dele começam a ganhar notoriedade. Ao matar uma garota capaz de curar as pessoas com um toque, o "incrível garoto do leite" acaba tentando incriminar Nathan, que estava no quarto com a menina na hora tentando resolver a doença venérea que ele havia contraído. Depois disso, ele vai caçando um por um, matando Kelly, Alisha, lobotomizando Nathan com mussarela (!!) e apunhalando Simon por último. Cabe a Curtis voltar no tempo para impedir que aquele futuro negro se torne realidade, e após deter os planos do garoto lactose de se expor para a mídia, tudo realmente acaba ficando bem.
Mas, afinal, Rodman, o que não o agradou no 6º episódio, me pergunta você, jovem Padawan, e eu respondo: A solução fácil da viagem no tempo.

A volta no tempo acabou se tornando uma espécie de muleta para a série, e embora seja bem chocante ver as várias formas em que os personagens podem encontrar seu fim, às vezes é um alívio ver Curtis salvando a pátria sempre que a coisa acaba mal de verdade. O que me desagrada é que são criados plots muito interessantes para a série, mas tudo acaba se tornando meio vago, sem o impacto necessário, quando constatamos que a volta no tempo pode salvar a todos sempre.
O último episódio, apesar de mal executado em aspectos técnicos é um dos mais surpreendentes da série toda, porque mostra o surgimento de um mercador de poder, um sujeito capaz de comprar poderes e também de vendê-los, à escolha do cliente.
Alisha é a primeira a oferecer seus poderes, uma vez que ela nunca mais pôde tocar uma pessoa como acontecia naturalmente com o Simon do futuro (sabe-se lá Deus como), e ao saber que seus poderes poderiam estar à venda e que sua atual situação financeira não é boa após o fim do serviço comunitário, os demais desajustados decidem fazer negócio com o mercador, vendendo assim seus dons em troca de dinheiro. A felicidade que o dinheiro lhes traz, no entanto, é efêmera, e os jovens começam a perceber que perder seus dons foi a pior coisa que poderia lhes acontecer.
Nota para a citação de Simon: “Lembrem-se que quando Superman desistiu de seus poderes para ficar com a Lois Lane, o General Zod dominou Metrópolis!”, mencionando a história do filme Superman II. Representando o General Zod, metaforicamente falando, claro, surge Elliot, um homem que decide chamar a si mesmo de Jesus Cristo, fazendo demonstrações impressionantes como andar sobre a água e de manipular objetos com a mente usando telecinésia. Elliot, um ex-padre frustrado, compra seus poderes do tal mercador de poder e passa a fazer demonstrações públicas em troca de reconhecimento. Dessa forma ele começa a juntar seguidores fanáticos em uma espécie de seita, incluindo um assaltante que ao tentar roubar os desajustados acaba acertando um tiro em Nikki, matando a garota. É curioso notar que nem falam mais nada depois disso, e Nikki simplesmente evapora, sem um funeral e nem nada do tipo, encerrando assim a participação de uma personagem que tinha tudo para se fixar no elenco regular da série. Carisma ela tinha.

Desesperados, os desajustados tentam recuperar a todo custo seus poderes, principalmente Curtis, que pretende voltar no tempo para impedir todo aquele desenrolar trágico, mas eles descobrem que não é possível. O mercador exige uma quantia que eles não tem, e isso faz com que eles entrem em conflito com o Jesus Cristo mercenário e deem cabo dele acidentalmente (deve ser o quarto ou quinto personagem que eles matam dessa forma). Com o dinheiro que eles recuperam do “dízimo” do "Jesus do mal", os desajustados resolvem recuperar os poderes, e entra a questão: Eles precisam mesmo recuperar os poderes que já tinham ou podem escolher novos poderes? Qual será o destino de Curtis e Alisha, uma vez que seus poderes não estão mais disponíveis (o dele foi vendido a um judeu vingativo que queria voltar no tempo para matar Hitler e o dela morreu junto do Jesus Evil)?
A série se encerra no momento exato em que o mercador começa a fazer a transferência de poderes para Kelly, e fica um plot claro (e bem interessante) para a próxima temporada, que espero eu, os produtores saibam manejar melhor do que essa. Sem mencionar todas as possibilidades em aberto com a exploração do tema viagens temporais feitas pelo personagem conhecido como Superhoodie (Simon do futuro).

O divertimento da série bem como os momentos escatológicos (como Nathan defecando na cama de Nikki e pisoteando a placenta da garota que ele conhece no último episódio) ainda estão presentes na série, como na temporada anterior. O humor negro é ainda mais acentuado dessa vez, como o pouco caso que os personagens têm com religião em plena época de Natal, por exemplo, transando dentro de uma igreja ou “desabrigando” o menino Jesus da manjedoura do presépio. Cenas de sexo, aliás, rolam a rodo, e praticamente todo mundo transa com todo mundo nessa temporada (em relações heterossexuais, claro). Não há do que se reclamar quanto ao sarcasmo da série, o que ficou a desejar mesmo foi o roteiro dos episódios, que possuía um princípio muito interessante, mas que deslizava feio na execução e no resultado final em alguns casos.
Apesar dos altos e baixos, nada que tenho visto em matéria de série tem me animado tanto quando Misfits, e espero ansioso pela continuidade dessa saga na terceira temporada.

NOTA: 8


NAMASTE!

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