24 de abril de 2014

Capitão América 2 - O Inverno está chegando


Depois de Os Vingadores e o frenesi retumbante que a reunião dos Maiores Heróis da Terra ocasionou no mundo do entretenimento, o que fez com que o filme abocanhasse a terceira maior bilheteria do cinema de todos os tempos (ficando atrás apenas de Avatar e Titanic), era natural que esperássemos nada menos do que sequências à altura desse sucesso pela Marvel Studios, o que tirando as devidas proporções, acabou não ocorrendo com os filmes que vieram logo depois. Homem de Ferro 3 e Thor 2 acabaram sendo filmes divertidos, mas nada que fizesse sequer sombra ao que Os Vingadores representou em termos técnicos e em grandiosidade. Acabou ficando aquela sensação de desgaste no ar, uma preocupação de que, enfim, o gênero super-heróis havia encontrado seu derradeiro declínio e que nenhum coelho mais iria sair da cartola.

Então veio Capitão América 2 – O Soldado Invernal... E todos se regozijaram.  


Dirigido pelos irmãos Anthony e Joe Russo, que além de alguns seriados para TV têm no currículo comédias como Máfia no Divã (Com Robert De Niro) e Dois é bom, Três é Demais (com Owen Wilson), Capitão América 2 – O Soldado Invernal é um baita de um filme de ação e espionagem, recheado de elementos que, até então, só encontrávamos nos quadrinhos. Vendo a filmografia dos dois diretores (que já estão confirmados para Capitão América 3), é difícil acreditar que eles tivessem faro para cenas tão bem coreografadas e incrivelmente visuais como são as sequências de batalha, perseguição e tiroteio de Soldado Invernal, mas os caras provaram que dão conta do recado, transformando o roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely (que também colaboraram com o texto de Capitão América – O Primeiro Vingador e Thor 2) num dos melhores filmes de super-heróis até esse momento.

O enredo mostra Steve Rogers (Chris Evans) dois anos após os eventos mostrados em Os Vingadores. O antigo herói de guerra ainda está tentando se adaptar ao novo mundo onde fora despertado após passar décadas congelado, e agora ele presta serviços à SHIELD, descobrindo que, apesar de ter ajudado a organização a salvar o mundo da invasão Chitauri, seu chefe Nick Fury (Samuel L. Jackson) ainda não confia totalmente nele, escondendo detalhes importantes das missões que lhe são dadas. 


Após uma bem sucedida missão de resgate de agentes da SHIELD sequestrados por piratas em um barco (entre eles o agente Jasper Sitwell, vivido no filme e também na série Agents of SHIELD pelo ator Maximiliano Hernandez), o Capitão América ao lado da intrépida e misteriosa Viúva Negra (Scarlett Johansson) se vê frente a frente com um soldado argelino (que fala francês) conhecido por Batroc (vivido pelo lutador de MMA Georges St. Pierre), o que o mantém ocupado tempo suficiente para que a Viúva roube um pendrive contendo informações sigilosas sobre um projeto secreto da SHIELD que estava nas mãos dos piratas. Irritado por não ter o controle total da missão que lhe foi dada, Rogers confronta Fury e o velho soldado acaba descobrindo que a SHIELD tem planos nada amistosos para proteger os cidadãos americanos. Três gigantescos porta-aviões estão armados e preparados para fazer a “segurança” americana deixando o Sentinela da Liberdade em dúvidas sobre o que realmente é justiça para Fury e seus comandados.


Enquanto Rogers questiona o Modus Operandi da SHIELD e se adapta a esse admirável mundo novo com a ajuda do ex-combatente Sam Wilson (Anthony Mackie), o próprio Fury começa a se ver enrascado com a alta cúpula da SHIELD, presidida por Alexander Pierce (Robert Redford), uma vez que ele questiona a utilização do Projeto Insight que visa determinar ameaças globais em meio à população civil antes que elas aconteçam, e a verdadeira razão desse projeto existir. Incriminado e colocado como arquiteto do roubo ao barco da SHIELD por razões escusas, Fury se vê emboscado por falsos policiais num cruzamento de Washington, e sem apoio, acaba se tornando vítima de um atentado concluído pelo Soldado Invernal, uma espécie de agente “fantasma” utilizado através das décadas para dar cabo de altas personalidades capazes de mudar o rumo da história. O enredo entra num crescendo colocando Rogers como o principal alvo por trás do atentado a Fury, e tanto ele quanto a Viúva Negra, que se dispõe a ajudá-lo, são obrigados a fugir da própria SHIELD que é colocada contra os heróis, enquanto Alexander Pierce e seu principal agente Brock Rumlow (Frank Grillo) colocam em prática o Projeto Insight que envolve os três porta-aviões transformados em máquinas de guerra.


Numa mistura incrível do seriado 24 Horas (em que sempre vemos a UCT invadida por algum espião traidor), dos filmes de Jason Bourne e do próprio roteiro de Ed Brubaker para as HQs do Sentinela da Liberdade (a meu ver a melhor fase do herói nos últimos 50 anos), Capitão América 2 – O Soldado Invernal é o filme mais ousado da Marvel no quesito ação. Os Vingadores possuem cenas memoráveis e lutas inesquecíveis como o quebra-pau entre Thor e Hulk ou entre os demais heróis e Loki, mas em Capitão América 2 temos combates mais realistas e plausíveis, como a primeira luta entre Rogers e Batroc (o lutador francês de savate que nas HQs queria roubar o escudo do Capitão), que só complementa a melhor sequência inicial de um filme da Marvel. 


Toda a invasão do Capitão e da Viúva ao barco da SHIELD é sensacional, e nunca antes havíamos visto o herói bandeiroso retratado no cinema como ele é nos quadrinhos como vemos nesse longa. Passou longe em O Primeiro Vingador, chegou perto em Os Vingadores, mas ele só se revelou genuíno nesse segundo filme, usando e abusando de suas habilidades acrobáticas e sua técnica apurada de combate. O bom e velho escudo também nunca antes havia sido tão bem utilizado no cinema, e a arma, que em teoria só serviria de defesa, expande o alcance do Capitão de forma incrível, exatamente como sempre vimos nas HQs ao longo dos mais de 50 anos de história do personagem.


Sem dar grandes SPOILERS sobre o filme, sou obrigado a citar também a cena do elevador, em que Rogers se vê cercado por mais de vinte soldados da SHIELD e da Tropa de Elite da organização, a STRIKE (liderada no filme pelo personagem Rumlow, que nas HQs é o homem por trás da máscara do Ossos Cruzados). Assim como se tentassem dominar um animal feroz, os agentes usam tudo que podem para conter Rogers, que entre pancadas, choques elétricos e muita força bruta derrota todos, como podemos ver já no trailer do filme. 


Ao Capitas resta apenas a fuga, e numa sequência que lembra bastante a deserção de Steve Rogers na primeira edição de Guerra Civil, o herói escapa de todo o poderio bélico da SHIELD, derrubando um jato ao melhor estilo “sou foda, na cama te esculacho”. Toda a sequência é de cair o queixo, e depois disso o clima de conspiração vai ladeira a baixo, com o Capitão e a Viúva perseguidos por todos os lados e a sensação nos espectadores de que há algo de muito podre no reino da SHIELD. Hail HIDRA!!

Personagens

Capitão América – o Soldado Invernal não é um filme só de Steve Rogers. A Viúva Negra e Nick Fury também possuem participação muito grande no filme, fazendo a liga essencial para que a trama funcione. Enquanto Steve não consegue confiar totalmente àqueles a sua volta, tanto Natasha quanto Fury procuram por seu apoio, vendo que sua coragem e liderança são essenciais para expurgar os agentes invasores que começam a dissecar a SHIELD.


Mais pé no chão (trocadilho infame para o único personagem que possui asas no filme!), no entanto, está a figura de Sam Wilson, o Falcão, que dá o suporte humanizador que Rogers necessita quando tudo mais falha e ele não pode confiar em mais ninguém. Apesar de achar forçado o início da amizade de ambos (o que podia ser resolvido facilmente se eles já fossem amigos quando o filme começa), fica claro que o Falcão está ali para ser a figura que traz Rogers mais próximo de sua humanidade (afinal, o Falcão é “só” um cara que voa!), além de servir como alívio cômico. 


A parceria de ambos é bem construída durante a história (dois soldados que perderam amigos na guerra), apesar do início mal ajambrado, e ficamos tão confortáveis com a presença do personagem na trama devido seu carisma (e também de Anthony Mackie) que nem nos damos conta de o quão é inútil um cara que só possui asas em um combate aéreo, servindo de alvo... 


Mas damos um desconto porque as cenas de voo são muito bem executadas.

O retorno de Bucky Barnes nas HQs foi um dos ressurgimentos mais interessantes que já aconteceram em toda a história da Marvel. Sem apelar para clones, possessão alienígena ou socos na realidade, o escritor de quadrinhos Ed Brubaker foi lá e apenas pensou como seria se o Bucky não tivesse morrido na explosão do avião do Barão Zemo, tivesse perdido um braço e tivesse sido transformado num soldado à serviço dos russos em plena Guerra Fria. Como se não bastasse, Brubaker também substituiu o braço humano de Bucky, perdido na explosão, por um biônico, o que somado a enxertos de memória e um treinamento militar extensivo, tornaria Barnes um soldado especial de alta periculosidade: O Soldado Invernal.


O passado do “falecido” Bucky Barnes em Capitão América 2 é um pouco diferente das HQs, mas sob a supervisão do próprio Brubaker, ele é funcional, já que faz com que a HIDRA, a principal organização nazista da década de quarenta, seja também a responsável por transformá-lo no Soldado Invernal. Assim sendo, congelado de tempos em tempos para ser preservado e ativado quando for necessário, Barnes é uma perfeita máquina de matar posto à serviço da organização de várias cabeças, o que o torna dessa forma, o principal adversário do Capitão América, tanto física quanto mentalmente. Os quebra-paus entres os dois no filme estão também entre as grandes cenas de combate realizadas pelos irmãos Russo. 


O braço biônico é utilizado à máxima potência, e em alguns momentos dá a entender que Barnes também possui algum tipo de aprimoramento de força. Sempre achei que quando Steve o encontra na base do Caveira Vermelha no primeiro filme, haviam feito experimentos com ele (até porque ele estava amarrado a uma maca), mas isso não ficou claro pelo roteiro. Vai saber. Seja como for, o Soldado Invernal é um dos grandes destaques do filme, méritos também ao ator Sebastian Stan que o interpreta. Aguardemos o retorno do personagem nas próximas atrações da Marvel.

Elenco

Chris Evans parece que finalmente conseguiu se sentir à vontade no papel do Sentinela da Liberdade depois de dois filmes (sem contar sua participação hilária em Thor 2), e atualmente conseguimos vê-lo como alguém digno de vestir o traje bandeiroso do Capitão América. Embora algumas cenas pudessem ter exigido mais da capacidade de atuação do moço, como o reencontro com Peggy Carter (Hayley Atwell), nós vemos que nas cenas de tensão e ação ele se sai bem, apesar de ainda não possuir a carranca de um velho soldado de guerra. 


É triste saber que o próprio ator já não se sente bem mais atuando, e em entrevistas recentes ele já admitiu que pretende parar de atuar logo que seu contrato com a Marvel se encerrar. Vale lembrar que ele ainda tem três filmes para viver o Capitão América antes de pendurar as chuteiras de ator, e esperamos que no mínimo, ele saiba respeitar o personagem até o fim do contrato, algo do qual sempre duvidamos.


Robert Redford atua como é de costume para um ator com anos e anos de estrada. Seu papel não é definido como um vilão logo de início, porém ele apresenta nuances perversas quando a casa ameaça cair para as principais pessoas que realmente controlam a SHIELD. Na história ele é o cara que colocou Nick Fury no comando da organização e ambos chegaram a atuar juntos em algumas missões, e para Redford, um papel de comando cai feito uma luva. Havia boatos de que seu personagem Alexander Pierce seria na verdade a nova faceta do Caveira Vermelha (sugado pelo Tesseract no primeiro filme), porém nada disso é confirmado, fazendo com que Pierce seja (SPOILER!!) o grande manipulador da HIDRA infiltrado na SHIELD. Redford segura bem o papel de chefão, e sem usar de artifícios comuns a esses personagens como trejeitos exagerados e tiques, seu Alexander Pierce parece ser ameaçador sem que sua expressão sequer se altere.


Scarlett Johansson já está bem à vontade na pele da espiã russa Natasha Romanova (ou Romanoff) e tanto nas cenas de ação, quando então ela senta o braço (e o tiro) nos inimigos, ou quando tem que agir com a frieza de uma verdadeira espiã, sem demonstrar grandes emoções, Scarlett se sai muito bem. Seu papel já é aceito sem nenhum questionamento quando se trata da presença feminina no nicho super-heróis, e embora ela vá dividir esse espaço com a Feiticeira Escarlate em Os Vingadores 2, ela por enquanto, é a principal heroína do universo Marvel cinematográfico, mesmo que essa palavra não descreva exatamente o que ela é. O que mais posso dizer sobre Scarlett... Hmm! Bem...


Danada!

Em suma Capitão América o Soldado Invernal é hoje o segundo melhor filme da empreitada Marvel Studios no cinema, e isso somando todo o resultado final. Roteiro, direção, fotografia, elenco... O filme não peca em quase nenhum desses fatores , transformando o Blockbuster num grande sucesso (comprovado pela bilheteria), batendo de longe as últimas fitas do estúdio. Só não ganha de Os Vingadores porque a união dos Maiores Heróis da Terra não é apenas um filme e sim a maior aposta já feita com relação a super-heróis desde o primeiro Superman de 1978. Nunca havia se visto uma junção de personagens com tanta química na mesma tela dentro de uma trama tão cativante e ativa como vimos em Os Vingadores, e por essa razão Capitão 2 ainda não consegue destronar o filme como o melhor do gênero quadrinhos na tela. Mas tá quase lá.


Eu sempre fui fã do personagem Capitão América e já dissertei as razões disso em infindáveis posts (aqui, aqui e aqui, por exemplo), e esse segundo filme me deixou muito satisfeito pela maneira respeitosa com que ele foi tratado na telona, nos mostrando porque afinal, ele é o líder dos Vingadores por mérito e direito. Já aguardo ansioso para ter seu Blu-Ray adicionado a minha coleção.

Ps. Não me admiro que a SHIELD tenha sido infiltrada pela HIDRA. Com Charles Widmore de LOST e o contador Lau de The Dark Knights fazendo parte da alta cúpula da organização isso só podia dar merda, Capitão!

Ps. 2 – Fiquem até o final dos créditos. O filme possui duas cenas pós crédito, sendo que a primeira dá um gancho lindo para OsVingadores 2.

Ps. 3 - Esperava uma participação mais ativa da Sharon Carter, a Agente 13 vivida pela atriz Emily VanCamp (de Revenge). Nem sequer foi citado seu parentesco com a Peggy Carter, se é que nesse filme elas serão parentes. Quem sabe em Capitão América 3?

NOTA: 9,8

NAMASTE!

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