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28 de março de 2022

No Ritmo do Coração do Oscar 2022

No ritmo do coração do Oscar 2022


Aconteceu na última noite, em Los Angeles, a 94ª cerimônia do Oscar. Com poucas surpresas entre os vencedores e uma festa razoavelmente melhor que a do ano anterior — bastante sem ritmo ainda por conta da pandemia de Covid-19 —, a maior premiação do cinema foi ciceroneada pelas atrizes Regina Hall (Todo Mundo em Pânico), Amy Schumer (Descompensada) e Wanda Sykes (Família Upshaw), mas quem acabou roubando a cena desta vez foi um dos apresentadores dos anos anteriores...

COM BARRACO!

Sem mais delongas, vamos ao listão dos campeões e campeãs — Campion, hein? Hein? — da celebração com alguns comentários breves deste que vos fala.

DUNA

Como já era previsto por 11 entre 10 especialistas em cinema, Duna de Denis Villeneuve foi o grande vencedor da noite e papou 6 dos 12 prêmios que disputava. 

O filme levou por Efeitos Visuais — derrotando os rivais da Marvel Studios Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis e Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa —, Melhor Fotografia (feita por Greig Fraser), Melhor Montagem (Joe Walker), Melhor Direção de Arte (Patrice Vermette e Zsuzsi Sipos), Melhor Som e Melhor Trilha Sonora, composta por Hans Zimmer


No Ritmo do Coração Oscar 2022
Duna e Denis Villeneuve


Nesse quesito, aliás, Duna foi muito elogiado, principalmente por quem teve a oportunidade de assistir ao filme num cinema de qualidade.

Apesar de fazer a limpa nos prêmios técnicos — algo merecido, porque o filme é muito bem executado —, como eu havia adiantado no post sobre os 10 Indicados ao Oscar de Melhor Filme, Duna não tinha muitas chances na categoria principal da noite e adiou por mais um ano a expectativa de quem esperava que outra obra dirigida por Denis Villeneuve levasse o maior prêmio da Academia. Vale lembrar que A Chegada — dirigido por Villeneuve — foi consagrado Melhor Filme em 2017.

MELHOR FIGURINO E MELHOR MAQUIAGEM

O live-action de Cruella da Disney disputava poucos Oscars, mas faturou o de Melhor Figurino (para Jenny Beavan), o que não deixa de ser justo, já que o filme fala justamente sobre moda e caprichou nesse quesito. 


No Ritmo do Coração do Oscar 2022
Jessica Chastain e um dos figurinos de Cruella


O prêmio de Melhor Maquiagem e Penteados foi para Os Olhos de Tammy Faye (Michael Showater) e o filme consagrou também Jessica Chastain como Melhor Atriz por seu papel principal no mesmo longa, batendo a já veterana em Oscars, Olivia Colman, de A Filha Perdida — o único que conferi das indicadas a Melhor Atriz.

DOCUMENTÁRIO E CURTA DE ANIMAÇÃO

A categoria Melhor Documentário de Longa-Metragem premiou Summer Of Soul do diretor Questlove, enquanto o Melhor Curta-metragem em Live-Action foi dado a The Long Goodbye, dirigido por Aneil Karia e escrito e estrelado por Riz Ahmed (de O Som do Silêncio), que foi quem subiu ao palco para receber a estatueta.

O melhor Curta-Metragem de Animação foi para o simpático A Sabiá Sabiazinha — disponível na Netflix e com a voz da eterna Scully de Arquivo X, Gillian Anderson. Já o Melhor Documentário de Curta-Metragem ficou com A Rainha do Basquetebol de Proudfoot, que derrotou Audible — sobre um time de futebol americano formado por garotos surdos — e Onde Eu Moro, doc que fala sobre moradores em situação de rua nos EUA, dirigido pelo brasileiro Pedro Kos.

Eu não assisti ao vencedor da noite nessa categoria por pura falta de acesso ao filme, mas assisti a Audible e Onde Eu Moro através da Netflix. Ambos são filmes tocantes e não importasse o que os demais concorrentes apresentassem de inovador, eu podia jurar que o prêmio ficaria com um dos dois por conta dos temas delicados que tratam. Em especial Audible, num ano que o Oscar resolveu premiar as diversidades.

Mas tal qual Jon Snow, eu não sei de nada!

NÃO FALAMOS DO BRUNO NESSE POST

Era esperado que a Disney faturasse mais um prêmio com Encanto em Melhor Animação  o que já se tornou até "lugar comum" para o estúdio do Mickey nessa categoria — e tendo em vista o tremendo sucesso que a trilha sonora do desenho fez no mundo todo — as músicas são REALMENTE muito pegajosas. No entanto, seria bacana se a Academia inovasse esse ano e trilhasse novos caminhos, dando o Oscar à A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, que em termos de diversão, é muito melhor que Encanto.


No Ritmo do Coração do Oscar 2022
A Família Madrigal contra a Família Mitchell


Como se não bastasse "Dos Oruguitas" (de Lin-Manuel Miranda) da trilha sonora de Encanto disputar o prêmio de Melhor Canção Original, ainda tivemos um número musical de "Não Falamos do Bruno" ao vivo no Oscar, interpretado por Becky G e o porto-riquenho Luis Fonsi. E claro que a letra ficou na cabeça por mais 24 horas consecutivas!

SEM TEMPO PARA MORRER, IRMÃO

Por falar em música, quem levou para casa a estatueta de Melhor Canção Original foi Billie Eilish com "No Time To Die" da trilha de 007 - Sem Tempo Para Morrer. A cantora disputava o prêmio com ninguém menos que Beyoncé — em sua performance de "Be Alive" de King Richard: Criando Campeãs — e acabou vencendo após performar a canção ao vivo no palco ao lado do irmão Finneas O'Connel


No Ritmo do Coração do Oscar 2022


Além de Be Alive, confesso que não ouvi nenhuma outra das demais indicadas a Melhor Canção, mas No Time To Die tem um ar melancólico excelente que combinou muito com o clima de despedida de Daniel Craig da franquia 007. Muito antes do filme estrear, a música já fazia parte da minha playlist no Spotify e se tornou fácil uma das mais ouvidas em 2021. Estava torcendo bastante por ela.



BELFAST E NO RITMO DO CORAÇÃO

Acusado de montar um filme especificamente para ganhar o Oscar, Kenneth Branagh acabou provando aos invejosos que VALE SIM A PENA lançar um produto pré-fabricado e foi condecorado por contar a sua própria história em Belfast. Branagh fez um discurso forte sobre legado ao receber o Oscar de Melhor Roteiro Original — escrito por ele — e fez bonito na cerimônia.


No Ritmo do Coração do Oscar 2022
Kenneth Branagh e Belfast


A estátua de Melhor Roteiro Adaptado foi para No Ritmo do Coração (Coda) e a própria diretora — e escritora — Sian Heder subiu ao palco para receber a honraria, em seu vestido deslumbrante de "luzes de discoteca" como ela mesma descreveu. 


No Ritmo do Coração do Oscar 2022
Sian Heder


O filme é uma adaptação de um longa-metragem francês (La Famille Bélier) e após sair da posição de "azarão" nas maiores casas de apostas, conseguiu também o prêmio máximo da noite, que foi recebido pelos produtores, a diretora e parte do carismático elenco.

Vários momentos me causaram comoção ao longo da noite de premiação e ver um dos meus filmes preferidos entre os 10 indicados ganhar a disputa foi um dos que me encheram os olhos de lágrimas. Coda realmente me tocou de uma maneira muito particular e assim que terminei de assistir, tive a certeza que estaria acrescentando mais um filme na minha não tão longa lista de filmes da vida

Merecidamente por seu trabalho maravilhoso como o pai da protagonista "ouvinte" em No Ritmo do Coração, Troy Kutsur fez história ao ser consagrado como o primeiro ator surdo a conquistar o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Falando em libras no palco, o artista agradeceu ao apoio da família, ao elenco que o ajudou a realizar o filme e à diretora Sian Heder por acreditar em seu trabalho. 


No Ritmo do Coração do Oscar 2022
Troy Kutsur



ARIANA DEBOSE

Diferente da categoria Melhor Atriz, que comentei só ter assistido a um dos filmes pelas quais as artistas tinham sido indicadas ao prêmio, em Melhor Atriz Coadjuvante, tive a chance de assistir a TODOS os trabalhos pontuados e devo concordar com a Academia em coroar Ariana DeBose como a melhor — não que isso faça alguma diferença, claro!


No Ritmo do Coração do Oscar 2022


Como salientei em minha crítica a Amor, Sublime Amor (West Side Story), DeBose simplesmente ofusca o papel da protagonista do filme vivida por Rachel Zegler e não só desempenha um trabalho maravilhoso no campo dramático, como também dá um show nas sequências de dança do musical.


No Ritmo do Coração do Oscar 2022
Cena de West Side Story


Apesar do talento inegável de Judi Dench (Belfast), Jessie Buckley (que interpreta a versão mais jovem da personagem de Olivia Colman em A Filha Perdida) e de Kirsten Dunst (Ataque dos Cães), não achei que houvesse em seus trabalhos, aqui específicos, nada demais que as alçasse ao posto de Melhor Atriz Coadjuvante. Nenhuma delas rouba a cena ou mesmo se destaca a ponto de ganhar um prêmio por isso, diferente do que acontece com Ariana. 

Aunjanue Ellis como a mãe das irmãs Venus e Serena em King Richard era a única em pé de igualdade com DeBose para disputar com ela nesse ano e qualquer uma das duas que vencesse seria justo, como acabou sendo. 

JANE CAMPION CAMPEÃ

Considerado o grande injustiçado da 94ª edição do Oscar, Ataque dos Cães levou apenas um dos 12 prêmios que disputou, mas acabou consagrando a neozelandesa Jane Campion como Melhor Diretora, batendo ninguém menos que Steven Spielberg (Amor, Sublime Amor) e Paul Thomas Anderson (Licorice Pizza).


No Ritmo do Coração do Oscar 2022
Vera Holtz... digo, Jane Campion


Campion já havia disputado um dos prêmios de maior prestígio do cinema em 1994, pela direção de O Piano, e na ocasião, ela perdeu a estatueta justamente para Steven Spielberg, que venceu por A Lista de Schindler

Além de Campion, agora apenas mais duas mulheres podem dizer que já ergueram o Oscar de Melhor Direção, e a neozelandesa se junta à chinesa Chloé Zhao, que levou em 2021 por Nomadland e à norte-americana Kathryn Bigelow, que venceu em 2009 pelo filme Guerra ao Terror.


No Ritmo do Coração do Oscar 2022

 

Que orgulho dessas mulheres, hein?

DIRIJA MEU CARRO

Drive My Car (Doraibu Mai Kā), meu favorito absoluto na noite do Oscar, não levou Melhor Filme, mas foi devidamente premiado na categoria Melhor Filme Estrangeiro, o que já serviu para fazer justiça a uma das obras de arte mais delicadas sobre luto que já tive o privilégio de assistir nessa vida. 


No Ritmo do Coração do Oscar 2022


O filme japonês preenchia todos os requisitos necessários para faturar a estátua principal da cerimônia por ser, de fato, o melhor entre os indicados, mas acredito que vencer a categoria destinada a filmes de fora dos Estados Unidos já signifique alguma coisa. 

Tomara que agora as plataformas de streaming tragam Drive My Car para os seus catálogos e que mais pessoas tenham acesso a essa beleza oriental da sétima arte. 

A pergunta que não quer calar é: o que, afinal, a assistente do Ryusuke Hamaguchi estava anotando naquele caderninho na hora da entrega do prêmio?


No Ritmo do Coração do Oscar 2022
Será que a assistente estava com um Death Note só anotando os nomes de quem não aplaudisse?


UM MALUCO NO PEDAÇO vs. TODO MUNDO ODEIA O CHRIS

Para fechar o post, é interessante salientar aqui que já era justo HÁ MUITO TEMPO que a Academia premiasse o talento de Will Smith como Melhor Ator — bateu na trave em 2002 depois da sua atuação em Ali e em 2007, por A Procura da Felicidade — e que não é justo dizer que o Oscar "deu o prêmio de consolação" ao eterno Fresh Prince Of Bel-Air como o fez com Leonardo DiCaprio em O Regresso (2015).


No Ritmo do Coração do Oscar 2022


Assim como citei com Kirsten Dunst em sua categoria, Benedict Cumberbatch — o maior concorrente de Will Smith esse ano — fez mesmo um trabalho muito bom em Ataque dos Cães, mas não consegui enxergar nada em sua interpretação que fosse excepcional ou fora da curva como o próprio ator conseguiu em seu papel de Alan Turing de O Jogo da Imitação (2014). 

Por sua vez, Andrew Garfield é um dos melhores atores da sua geração — entre os Homens-Aranha é com certeza o intérprete de Peter Parker mais completo, não no personagem em si, mas em sua carreira — e Tick, Tick, Boom! é um ótimo filme, especialmente pela carga emocional imposta por Garfield no papel do diretor de teatro musical Jonathan Larson.

Porém, King Richard TINHA que ser a consagração da carreira de Will Smith por um dos pontos que o próprio ator salientou em seu discurso de agradecimento; a questão de tanto ele quanto seu personagem elevarem a família em primeiro lugar.


No Ritmo do Coração do Oscar 2022
Cena de King Richard: Criando Campeãs


Embora distintos em vários pontos, Richard e Smith acabam se "encontrando" no quesito amor de família e o tapa na cara do apresentador e comediante Chris Rock, apenas minutos antes de Will receber a estatueta de melhor ator, só corrobora com essa atitude "familiar", já que ele saiu de seu papel de ator diante de zilhões de espectadores pelo mundo para se colocar no papel de marido, defendendo a esposa (Jada Pinkett-Smith). 


No Ritmo do Coração do Oscar 2022
"Slap!"


Mais do que questionarmos se Rock merecia ou não o tabefe, é necessário entendermos o que realmente motivou Smith a ter aquela atitude e para quem assistiu, isso ficou bem claro. 

O discurso de vitória foi forte e carregado de emoção — do lado de lá e de cá da tela — e para quem acompanhou toda a trajetória de Will, desde Um Maluco no Pedaço, passando por Bad Boys, MIB, até chegar na sua primeira disputa pelo Oscar em 2002, não tem como não ficar realmente comovido pela consagração de um dos atores mais carismáticos da sua geração, mesmo tantos anos depois de ele já ter feito por merecer isso. 


No Ritmo do Coração do Oscar 2022


Seja como for, é difícil acreditar que em plenos anos 2022 todas as fofocas de um Oscar estariam girando em torno do dia em que Um Maluco no Pedaço SENTOU A MÃO na cara do Todo Mundo Odeia o Chris, não é mesmo?

É como se a nossa adolescência estivesse em conflito e nós não soubéssemos de que lado deveríamos ficar.

Afinal, o tapa foi bem dado ou não?

A cara da Lupita Nyong'o lá atrás enquanto o Will xingava o Rock foi o que entregou na hora do acontecido que os dois atores não estavam encenando uma briga e sim partindo para as vias de fato na real.


No Ritmo do Coração do Oscar 2022


P.S - Esse ano a Academia resolveu colocar em votação popular cinco dos momentos considerados mais icônicos do cinema e o vencedor foi a sequência em que o Flash (Ezra Miller) usa a Força de Aceleração para voltar no tempo e salvar a Liga da Justiça

A cena pode ser vista no polêmico Zack Snyder's Cut - Justice League lançado há um ano e caiu no gosto popular, vencendo a reunião dos Homens-Aranha em Spider-Man: No Way Home e o momento "Avante Vingadores" de Avengers: Endgame.


No Ritmo do Coração do Oscar 2022


Mano... nem sei o que dizer. Eu nem lembro direito dessa cena. Depois de quatro horas de enrolação, perto do fim do Snyder cut, eu já estava morrendo de sono e nem saberia descrever o que acontece nesse momento do filme. Independente da cena ser boa ou não, nada vai superar o "Avengers Assemble" dito pela primeira vez em Vingadores: Ultimato. Naquele momento, eu já estava cagado de lágrimas no cinema e nunca mais, provavelmente, vou sentir sensação parecida numa sessão. Foi de arrepiar. 

Snyder cut de cu é rola perto disso!

P.S. 2 - Rever o trio Uma Thurman, Samuel L. Jackson e John Travolta reunido mais uma vez para celebrar os 28 anos de Pulp Fiction no palco do Oscar foi outro dos momentos mais emocionantes da noite. Eu só não chorei porque estava me vendo representado pela careca do Travolta e rindo com a referência à maleta misteriosa do filme cujo conteúdo até hoje ninguém sabe do que se trata... exceto o Tarantino.


No Ritmo do Coração do Oscar 2022


NAMASTE!

23 de março de 2022

10 Melhores Filmes do Oscar 2022

10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Como já se tornou tradição no Blog do Rodman, mês de março é para falar de Oscar, então 'bora fazer um top 10 por ordem de preferência das produções indicadas esse ano para o grande prêmio da noite, o de Melhor Filme.

And the Oscar goes to…

 

10 - "Belfast"

10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Passado no final dos anos 60 e tendo como foco principal o cotidiano de uma família comum da Irlanda, Belfast é praticamente uma autobiografia do diretor e roteirista norte-irlandês Kenneth Branagh, que em sua infância, viu de perto as implicações de uma verdadeira guerra civil entre protestantes e católicos naquela mesma década.

Filmado em grande parte em preto branco e com uma fotografia capaz de capturar com bastante precisão as nuances dos cenários de época, Belfast retrata fielmente um período conturbado da história irlandesa — a guerra santa citada anteriormente no texto e que mais tarde, originou canções como "Sunday Bloody Sunday", do U2 —, embora esse conflito não seja o que mais importa na trama.

Na história, acompanhamos as aventuras de um menino de 9 anos chamados apenas de “Buddy” — com o ator mirim Jude Hill representando o próprio Branagh — vivendo num bairro de subúrbio com seu irmão mais velho, os pais e os avós. Ele vai à escola, conhece seu primeiro amor, participa de confusões com uma prima mais velha e se torna alvo de uma gangue perigosa que quer punir o seu pai apenas por sua escolha religiosa.

O pai do garoto, um carpinteiro que está sempre viajando a trabalho, é vivido pelo ator Jamie Dornan (mundialmente conhecido por seu papel de Christian Grey na série de filmes Cinquenta Tons de Cinza) e tem uma ligação importante com o personagem principal, apesar de parecer ausente. Já a mãe (Caitriona Balfe), é obrigada a segurar as pontas em casa com os dois filhos enquanto os conflitos armados passam a eclodir com cada vez mais frequência na vizinhança, até então, pacata.


10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Se focasse no conflito entre protestantes e católicos em si , Belfast seria apenas mais um dos tantos filmes sobre guerras civis, mas como mira na visão inocente de uma criança em meio a um conflito violento de fundo religioso, a produção ganha vários pontos extras por seguir por um caminho menos comum em Hollywood e mais agradável.

Indicado ao prêmio de Melhor Filme e ao de Melhor Diretor para Keneth Branagh, Belfast também concorre a Melhor Roteiro Original, além da estátua de Melhor Atriz Coadjuvante para a veterana Judi Dench (a “M” da série de filmes 007), que apesar de seu talento inegável já provado tantas vezes em outras obras, aqui, não me parece justificável a indicação, já que seu papel é bem econômico como a vó bondosa do menino Buddy e sem grande destaques de atuação.

Belfast ainda não estreou em nenhuma plataforma de streaming e pode ser visto apenas em alguns cinemas menos populares e em sessões de horários duvidosos.


9 - "Amor, Sublime Amor"

10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Faltava um musical na incrível carreira de filmografia de Steven Spielberg. Agora não falta mais.

Tive grande resistência em comprar a ideia de Amor, Sublime Amor quando assisti ao trailer e só aceitei a tarefa de ver o longa quando me impus a obrigação de, pela primeira vez na história do Oscar, gabaritar a lista de indicados a Melhor Filme.

Eu sempre tive muita preguiça para musicais e ao longo dos meus anos de cinéfilo pipoca, deixei passar em branco vários nomes do gênero como Moulin Rouge, Chicago e Os Miseráveis por puro preconceito.

Ok, eu fui ao cinema assistir La La Land, mas em grande parte por conta do diretor Damien Chazelle que tinha me ganhado em Whiplash: Em Busca da Perfeição, filme que considero o ápice da atuação de um ator — J.K. Simmons —, mas isso não terminou com a minha cisma em assistir musicais.

Falando de Amor, Sublime Amor, é difícil comparar com outros filmes dirigidos pelo Spielberg já que nenhum deles sequer se assemelha com o que o diretor veterano nos trouxe em 2021, por isso, a crítica só pode ser feita com base no que podemos ver ao longo das 2h36 de projeção.

O musical é outro dos exemplos desse ano que poderia ter pelo menos uns trinta minutos a menos, já que a história de Romeu e Julieta do casal principal passada no final dos anos 50 é bastante insossa e bem menos interessante que a dos personagens coadjuvantes que acabam roubando a cena.

Os personagens de Ansel Elgort e Rachel Zegler não são bem desenvolvidos e se tornam desinteressantes logo no início do longa, quando acabam sendo ofuscados pelo casal Anita (Ariana DeBose) e Bernardo (David Alvarez), dois porto-riquenhos radicados em Nova York que são obrigados a enfrentar toda o preconceito da vizinhança local e que chamam todos os holofotes da história para si com seu jeitão explosivo.


10 Melhores Filmes do Oscar 2022


No enredo, Tony (Ansel Elgort) faz parte de uma gangue de americanos denominada “Jets” e que tem uma rixa quase que pessoal com o bando de Bernardo, o líder dos porto-riquenhos. Ao conhecer Maria (Rachel Zegler), que é a irmã de Bernardo, Tony acaba se apaixonando pela menina e decide colocar de lado suas convicções para viver o seu amor, coisa que não é vista com bons olhos por Riff (Mike Faist) o líder dos Jets.

Como toda boa encenação do clássico romântico de Shakespeare, é claro que a história acaba em tragédia, mas até lá, nós conseguimos desfrutar dos números musicais impressionantes filmados em plano aberto e que mostram que, mesmo aos 75 anos, o velho Spielberg continua afiado atrás das câmeras, provando que não há gênero no cinema que ele não possa dominar.

Destaque para a atriz Ariana DeBose (que merecidamente está disputando o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante) tanto por sua atuação dramática quanto por sua expressão corporal na dança. Nunca tinha visto uma atriz se entregar tanto a um papel de dançarina como vi em Amor, Sublime Amor. Palmas e mais palmas. O filme vale acima de tudo pelos números musicais que ela comanda.  

Amor, Sublime Amor está no catálogo do Disney +.

  

8 - "Duna"

10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Adaptado da obra escrita pelo norte-americano Frank Herbert para uma série de livros iniciada na década de 60, a megaprodução Duna de Denis Villeneuve é a segunda tentativa de levar a saga do jovem Paul Atreides aos cinemas. A primeira aconteceu em 1984 e foi dirigida por David Lynch num filme considerado por muitos como aquém à obra da qual se origina.

Parte de uma série já anunciada pelo próprio diretor antes mesmo do primeiro filme estrear, Duna conta a história do jovem brilhante e herdeiro de uma família real Paul (Timotheé Chalamet), considerado por muitos como um messias e que tem como sua primeira missão viajar para um planeta arenoso hostil a fim de garantir o futuro de seu povo, além de salvar os próprios pais.

Com ares de superprodução e um orçamento idem — US$ 165 milhõesDuna é o representante mais caro a fazer parte da lista oficial dos dez indicados à estatueta de Melhor Filme na cerimônia do Oscar e também o que mais destoa dos demais concorrentes por parecer mais com um blockbuster produzido para faturar milhões nas bilheterias mundiais do que necessariamente ser algo mais artístico.

Apesar da série de livros Duna ter inspirado muitas das obras cinematográficas que se tornaram famosas nas décadas seguintes — incluindo Star Wars —, hoje todo o roteiro e seu lance de “o escolhido”, "jornada do herói" e “guerra espacial” soa como uma grande cópia de centenas de outras que já estamos cansados de ver por aí, o que causa certo desinteresse a seu enredo.

Por se tratar do começo de uma nova saga, também é bem claro que a história do filme por si só parece não conseguir se sustentar, já que faltam pedaços da narrativa para que seu entendimento seja completo. Além disso, Duna é longo em excesso e se perde no ritmo em vários momentos, se tornando sonolento e chato.

A produção de cenários, vestuário e efeitos digitais, no entanto, é um ponto indiscutível no Duna de 2021. Villeneuve não quis economizar no quesito qualidade e o resultado ficou impressionante, mesmo para quem, à revelia do pedido do próprio diretor, não conseguiu ver a sua obra-prima na tela do cinema em IMAX. A meu ver, a junção de efeitos práticos e cenários reais sem a muleta do chroma-key foi um dos grandes acertos da “película” e fez jus ao que tanto alardearam sobre visual magnífico do filme.


10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Além de Melhor Filme — o que dificilmente deve levar —, Duna também concorre a Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Figurino, Melhor Trilha Sonora — para Hans Zimmer —, Melhor Som, Maquiagem e Cabelo, Melhor Design de Produção, Melhor Edição, Melhor Fotografia e Efeitos Visuais, categoria em que vai bater de frente com Homem-Aranha: Sem Volta para Casa e Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, ambas produções da Marvel/Disney.

É muito provável que Duna faça a limpa nessas categorias mais técnicas como maquiagem, som e edição e seria o grande triunfo pessoal de Villeneuve vencer na categoria Efeitos Visuais depois de dizer que os filmes da Marvel/Disney não passam de “cópia e cola uns dos outros, o que guardada as devidas proporções, não deixa de ser uma verdade incômoda.

Duna está disponível no catálogo da HBO Max, mas ninguém deve assistir pela TV a pedido de Denis Villeneuve. Se você não viu no cinema, não veja mais em lugar nenhum.  

 

7 - "Licorice Pizza"

10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Até bem metade do filme, eu não tinha entendido qual era a de Licorice Pizza ou o que o diretor e roteirista Paul Thomas Anderson estava propondo contar com sua história, até que me dei conta que não havia nenhuma trama mais elaborada a ser desvendada. Assim como muitas outras obras de seu extenso currículo, o diretor norte-americano estava preocupado apenas em contar uma história de amor passada nos anos 70 e nada mais além disso.

Com um roteiro simples, ótimas atuações de um elenco jovem e desconhecido do grande público, Licorice Pizza é o mais despretensioso dos indicados ao prêmio de Melhor Filme do Oscar e que exatamente por isso, talvez, se torne um forte candidato a levar a estátua.

No enredo, acompanhamos as aventuras de um ex-ator mirim menor de idade interpretado por Cooper Hoffman que se apaixona quase à primeira vista pela já experiente Alana Kane (Alana Haim) durante uma sessão de fotos na escola e passa a tentar de tudo para se aproximar dela, inclusive usar de toda a sua lábia.


10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Os dois se tornam parceiros de negócios e embora fique claro ao expectador que eles se gostam, ambos acabam vivendo várias situações que os afastam sempre que estão muito perto de concretizar o que sentem um pelo outro.

Por ser protagonizado por dois jovens “fora do padrão de beleza hollywoodiano” — ele mais rechonchudo com uma tremenda cara de adolescente de trinta anos e ela de nariz alongado e feição judia —, Licorice Pizza ganha vários pontos ao nos apresentar um relacionamento cotidiano entre duas pessoas comuns. Até os diálogos entre eles soam bastante naturais, quase como se não tivessem sido escritos para personagens de um filme e sim ditos por um vizinho ou um parente nosso.

A naturalidade é tão grande que personagens e atores se mesclam. Alana Haim, a protagonista, não só compartilha o mesmo nome que a sua personagem como também a sua família, já que o seu pai (Moti Haim) no filme e as suas irmãs na história, são também seus familiares na vida real, o que obviamente, contribui para o citado tom “comum” que o enredo procura passar o tempo todo.

Licorice Pizza — cujo nome eu custei a entender o significado mesmo correndo atrás de fontes seguras — está indicado ao Oscar de Melhor Direção e a Melhor Roteiro Original — escrito pelo próprio Paul Thomas Anderson —, além de Melhor Filme e ainda não está disponível em nenhuma plataforma de streaming oficial.

Se vira aí pra assistir, mané!


6 - "O Beco do Pesadelo"

10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Fazia algum tempo que eu não assistia a um filme dirigido pelo mexicano Guillermo del Toro, mas com O Beco do Pesadelo, eu me surpreendi pela maneira como ele conseguiu fugir do estigma de sempre nos apresentar histórias com elementos fantásticos e criaturas monstruosas em seus trabalhos.

Ambientado na época pós-Primeira Guerra Mundial, o roteiro baseado no livro Nightmare Alley de William Lindsay Greshaw conta a história do ambicioso vigarista Stanton Carlisle (Bradley Cooper) que tem um talento nato em manipular pessoas e que decide usar isso para fazer fortuna. Unido a uma clarividente e seu marido mentalista após uma apresentação circense, Carlisle encontra seu destino final quando tenta aplicar o golpe da sua vida num poderoso magnata com a ajuda da psiquiatra dele, em cena, vivida por Cate Blanchett.


10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Com uma fotografia suja, planos longos e uma duração entediante de 2h20, o filme acaba sendo desnecessariamente arrastado e confesso que tive que assistir como uma série em “três episódios” para não me render totalmente ao sono.

Como entretenimento, fica aquém do que esperamos para uma história baseada em fatos, mas entrega boas atuações de Bradley Cooper — esnobado pela academia mais uma vez —, o sempre ótimo Willem DaFoe, Rooney Mara como a partner de apresentações mentalistas de Stanton e claro, Cate Blanchett, que nunca decepciona.

O filme está disponível no catálogo da Star +.  

 

5 - "Ataque dos Cães"

10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Dirigido pela neozelandesa Jane Campion, Ataque dos Cães ("The Power of the Dog") chega como um dos favoritos à noite do Oscar e tem fôlego extra para bater de frente com outros dos grandes concorrentes ao prêmio de Melhor Filme, ainda mais depois de ganhar duas das principais categorias do Globo de Ouro, a de Melhor Filme e Melhor Direção.

Na história, um fazendeiro linha-dura interpretado por Benedict Cumberbatch trava uma guerra de ameaças contra a nova esposa do irmão mais novo George (o Matt Damon genérico Jesse Plemons) e decide fazer da vida da moça (interpretada por Kirsten Dunst, a Mary Jane da trilogia Sam Raimi do Homem-Aranha) e de seu filho (Kodi Smit-McPhee, o Noturno de X-Men Apocalipse e Fênix Negra) um verdadeiro inferno.


10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Toda a rudeza do personagem de Cumberbatch e a sua aparente falta de tolerância ao jeito mais sensível do garoto serve, no entanto, para ocultar segredos antigos do fazendeiro, algo que acaba vindo à tona quando, enfim, os dois começam a se aproximar.

Embora tenha optado por uma abordagem mais direta ao enredo original do livro na qual a história é baseada — ocultando, por exemplo, que o personagem Phil teria sido responsável pela morte do pai do garoto Peter —, a direção de Ataque dos Cães é precisa em abordar o tema homossexualidade como ele seria tratado na época em que os fatos são narrados — metade da década de 1920 — e não deixa nada subentendido a quem está assistindo com atenção.

Com uma fotografia incrível e uma direção de elenco firme, Campion mostra que tem o filme inteiramente sob seu controle e nos presenteia com uma história muito bem narrada e muito bem interpretada.

Apesar disso, nenhuma das indicações de premiação ao elenco parece se justificar, já que nenhum deles se destaca necessariamente em seus papéis ou mesmo interpreta cenas inesquecíveis, daquelas a que estamos acostumados a ver no Oscar. 

Indicado ao prêmio de Melhor Ator, Cumberbatch dificilmente deve superar os trabalhos de Denzel Washington (indicado por A Tragédia de MacBeth) ou Will Smith, que levou o Globo de Ouro por seu papel em King Richards: Criando Campeãs. Já Kirsten Dunst, embora não decepcione, tem um papel muito econômico em Ataque dos Cães para conseguir bater de frente na categoria com Ariana DeBose (Amor, Sublime Amor) ou Aunjanue Ellis, que faz dupla com Will Smith em King Richards.

O filme tem ao todo 12 indicações ao Oscar e faz parte do catálogo da Netflix desde 2021. Para uma noite insone, vale a conferida.


4 - "Não Olhe Para Cima"

10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Lançado no final de 2021 pela Netflix, Não Olhe para Cima ("Don't Look Up") do diretor Adam McKay (de “Vice” e “A Grande Aposta”) ganhou rapidamente os trending topics por conta da semelhança da história com a nossa realidade atual em que a ciência é ridicularizada pelos “especialistas” de internet e também pelos negacionistas que nos governam — com alguns deles fazendo até campanha contra vacina.

Na história, dois astrônomos medíocres — vividos pelos astros Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence — descobrem que um meteorito está em rota de colisão com o planeta Terra e decidem alertar as pessoas que o resultado dessa “visita inesperada” pode ser a extinção global.

De maneira inacreditável, a descoberta dos cientistas não causa a comoção esperada na população e da presidente dos Estados Unidos (brilhantemente interpretada pela inoxidável Meryl Streep) ao cidadão mais comum, a vinda de um meteoro é encarada apenas como mais uma “Fake News”, gerando no máximo alguns bons memes na internet.


10 Melhores Filmes do Oscar 2022


A galera no Twitter no mundo real se viu conectada instantaneamente à história, já que o filme parece retratar de maneira fiel a nossa própria realidade durante a pandemia de Covid-19, em que lemos e ouvimos as maiores atrocidades vindas de autoridades que tentaram com muito custo banalizar os estudos de especialistas ligados à ciência que alertavam sobre os perigos da doença.

Com seu filme, McKay estava fazendo uma crítica ferrenha aos Estados Unidos e ao governo estapafúrdio de Donald Trump que tinha como grande meta levantar bandeiras como o negacionismo científico — inflando o combate a seus opositores democratas com notícias falsas deflagradas por seus próprios meios —, mas a carapuça serviu muito bem para quem tem vivido num país chamado Brasil nos últimos três anos e que tem sido vítima de um governo que, assim como o Chacrinha, não está aqui para explicar e sim para confundir.


10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Com poucas chances de levar a estatueta de Melhor Filme por seu teor de chacota, Não Olhe Para Cima também disputa o prêmio de Melhor Roteiro Original — escrito por Adam McKay — e apesar de ser uma sátira excelente com nomes como Cate Blanchett, Jonah Hill, Ron Pearlman e Timotheé Chalamet no elenco estelar, a produção deve passar em branco na premiação.

Como dito anteriormente, Não Olhe Para Cima consta no catálogo da Netflix.

 

3 - "King Richard: Criando Campeãs"

10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Contando a trajetória de vitórias que permeou as carreiras das tenistas Serena e Venus Williams desde a sua infância, King Richards: Criando Campeãs do diretor Reinaldo Marcus Green é o “filme de superação” da lista, categoria muito comum todos os anos no Oscar.

Baseado na história real das duas irmãs que se tornaram os maiores nomes no tênis mundial de todos os tempos, o filme coloca o já tarimbado Will Smith no papel de Richard Williams, um pai dedicado e determinado a tornar suas duas filhas em lendas no esporte comumente praticados por pessoas brancas.

De uma maneira muito cativante e não poupando o espectador de nenhuma nuance ao longo da carreira das duas meninas — mesmo as negativas —, o filme retrata o personagem de Smith como um dos grandes pilares na criação das duas máquinas de ganhar títulos que se tornaram Venus e Serena a partir dos anos 90.

Em uma atuação sólida e nem um pouco caricata, Will Smith prova de uma vez por todas que está pronto para fazer parte do hall da fama dos maiores atores da sua geração e que chegou a sua vez de mostrar que ele é muito mais do que Um Maluco no Pedaço, Hancock ou outros personagens mais farofas que ele protagonizou ao longo da carreira.

Igualmente fantástica, ao lado de Smith em cena está Aunjanue Ellis, atriz que interpreta Brandi, a mãe de Serena e Venus. Os dois protagonizam juntos cenas de discussão e enfrentamento com muita tensão, do tipo que são particularmente destacados durante a cerimônia do Oscar. Não me espantaria se ela levasse o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante que disputa com as já citadas Ariana DeBose e Judi Dench, o que seria até bem justo devido a sua atuação talentosa.


10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Destaque também para as jovens atrizes que dão vida à Venus (Saniyya Sidney) e Serena (Demi Singleton) da infância à adolescência. 

As duas meninas entregam grandes atuações nas cenas dramáticas e provam que também dão conta na parte física, representando com perfeição as tenistas que homenageiam. As cenas de competição em quadra são as mais bem-executadas que já vi em um filme sobre esporte. Em nenhum momento parece que as jogadas filmadas são coreografadas ou soam robóticas e ensaiadinhas. É como se as garotas estivessem em uma competição de tênis de verdade e esses momentos de preciosismo técnico fazem valer o filme em toda a sua duração de 2h24 minutos.

King Richards: Criando Campeãs está disponível no HBO Max.

 

2 -  "No Ritmo do Coração"

10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Eu tendo a me tornar parcial quando um filme consegue me emocionar durante a sua execução e depois das lágrimas derrubadas, é difícil falar da produção como um todo com um olhar mais crítico. Dito isso, ainda assim, No Ritmo do Coração é facilmente um dos meus preferidos para levar o prêmio de Melhor Filme na noite da cerimônia do Oscar e nada é capaz de mudar a minha opinião.

Dirigido pela praticamente estreante diretora estadunidense Sian Heder, "CODA" (no original) é um casamento perfeito entre história bem contada, personagens cativantes e atuações primorosas de um elenco afiadíssimo, o que faz com que as duas horas de reprodução — e com 1h51 minutos ele é um dos mais curtos da lista aqui citada — passem suaves diante dos nossos olhos.  


10 Melhores Filmes do Oscar 2022


No enredo, a jovem Ruby (Emilia Jones) é a única pessoa que ouve em uma família de surdos e a garota decide seguir firme o seu grande sonho de se tornar uma cantora de renome. Dividida entre o seu amor pela música e as suas obrigações com a empresa de pesca da família, Ruby ainda acaba se apaixonando pelo jovem Miles (Ferdia Walsh-Peeloem sua jornada atribulada rumo ao sucesso, o que torna ainda mais difícil as escolhas que ela terá que fazer em sua vida.

A sinopse soa de uma maneira dramática, porém, é surpreendente como a história acaba criando diversas situações hilárias ao longo do filme, algumas de causar gargalhadas mesmo, especialmente as protagonizadas pelos pais de Ruby, o casal Frank (Troy Kotsur, ator surdo indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante) e Jackie (Marlee Matlin, atriz surda que venceu na categoria Melhor Atriz em 1986, por seu papel em "Filhos do Silêncio").


10 Melhores Filmes do Oscar 2022
Daniel Durant, Marlee Matlin, Troy Kotsur e Emilia Jones


O romance entre Ruby e Miles permeia boa parte da trama, mas a busca da garota pelo sonho de ser cantora nos faz torcer genuinamente por ela, além do que a cena final de sua audição para entrar na universidade de música, se apresentando para a família em libras, é de fazer chorar.

Apesar da sua atuação primorosa contracenando tanto com os atores “ouvintes” quanto soltando a voz de verdade ao cantar as músicas do filme, além da sua dedicação com os sinais complicadíssimos das libras, a jovem atriz Emilia Jones não está indicada a nenhum prêmio do Oscar, mas merece uma citação, já que todo o carisma de seu personagem se dá por conta de seu talento inegável para o drama e para o humor.

Troy Kotsur também tem páreo duro pela frente concorrendo com grandes nomes do cinema como J.K. Simmons (indicado por Apresentando os Ricardos), Jesse Plemons (Ataque dos Cães) e o veterano Ciarán Hinds (Belfast), mas não seria nenhuma injustiça se Kotsur acabasse sendo condecorado, uma vez que seu papel é maravilhosamente bem conduzido ao longo de toda a história.

No Ritmo do Coração disputa também o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado e o filme está disponível no Amazon Prime.


1 - "Drive My Car"

10 Melhores Filmes do Oscar 2022


No ano em que Parasita de Bong Joon-ho levou o Oscar de Melhor Filme e Melhor Direção, um paradigma foi quebrado em Hollywood e isso tornou possível que filmes estrangeiros também pudessem concorrer ao maior prêmio do cinema “mundial” nos Estados Unidos. 

Até aquele ano, a Academia de Cinema costumava premiar apenas produções caseiras e raramente dava destaque a coisas feitas além das fronteiras estadunidense. Central do Brasil e Cidade de Deus que o digam!

Em 2022, o japonês Dirija Meu Carro de Ryusuke Hamaguchi chega com chances reais de vencer na categoria Melhor Filme e não só porque o sul-coreano Parasita conseguiu antes dele e abriu portas, mas sim porque ele é com segurança o melhor entre os dez indicados à categoria. Simples assim.


10 Melhores Filmes do Oscar 2022


Contando uma história delicada sobre luto num cenário mundialmente conhecido pelos ataques de uma das bombas atômicas que encerraram a Segunda Guerra Mundial em 1945 — Hiroshima —, Drive My Car narra a trajetória de um ator e diretor teatral que é convidado a reencenar uma peça de Tchécov em que a sua esposa falecida trabalhou boa parte da vida.

Para superar todos os fantasmas deixados pela morte dolorosa da mulher e os mistérios envolvendo o seu relacionamento conturbado, Yusuke (Hidetoshi Nishijima) mergulha de cabeça em seu trabalho dois anos após o fato que o abalou e isso faz com que seu destino acabe se cruzando com a motorista particular Miura (Misaki Watari), uma jovem bastante introspectiva com um passado de muitas perdas e de muita solidão.


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Diferente de outros títulos da lista de Melhor Filme, com quase três horas de duração, Drive My Car é tão bem dirigido, que cada minuto transcorrido na projeção acaba valendo a pena. Mesmo em passagens longas dentro do carro — e o filme não tem esse nome “dirija meu carro” à toa —, mostrando apenas as expressões do personagem principal ou contemplando os cenários numa fotografia competente, ainda assim, o filme é bem interessante, nos convidando a uma contemplação mais intimista que só mesmo uma obra oriental poderia nos proporcionar.

Na vida real, eu tenho pavor a respostas curtas em diálogos cotidianos de pessoas próximas e simplesmente detesto o silêncio muito longo em conversas.

O personagem Yusuke é claramente um cara que internaliza seus problemas e que tem dificuldades para se expor. Seus diálogos com outras pessoas são cheios de respostas curtas e objetivas em excesso, mas essas características são tão bem apresentadas desde o começo da história, que em nenhum momento isso se torna um problema enquanto assistimos ao filme. Pelo contrário. A gente entende logo de cara que é o jeito dele e por isso, o acaba respeitando.

A sinopse do filme já fala sobre a história de luto do personagem, mas como eu não tinha lido nada antes de assistir e só tinha visto o trailer — que a meu ver, não diz ABSOLUTAMENTE NADA sobre o enredo —, confesso que fui pego de surpresa quando a esposa de Yusuke, Oto (Reika Kirishima), morre repentinamente. Com seu jeito delicado — mesmo nas cenas não-explícitas de sexo — e a interpretação suave, Kirishima nos faz criar uma ligação com a sua personagem desde a primeira aparição — ela literalmente abre o filme — e apesar de ela continuar presente na história até o fim — de uma maneira muito especial —, não tem como não ficar chocado com a sua saída da vida de Yusuke.

Aliás, é necessário um tópico especial para elogiar o elenco feminino desse filme. Além de Reika Kirishima, o outro grande nome de Drive My Car é o de Misaki Watari que é perfeita como a motorista Toko. É muito raro nos identificarmos com personagens quietos em demasia com dificuldades de se expressar, mas a simples presença da garota já causa conforto nas cenas em que aparece, além de que todo o seu plot com o passado envolvendo a mãe austera é extremamente tocante — o que acaba causando grande mudança no protagonista Yusuke.

Outra que rouba a cena mesmo não dizendo uma só palavra por interpretar uma personagem muda, é a atriz sul-coreana Park Yoo-Rim, a Lee Yu-Na.


10 Melhores Filmes do Oscar 2022
Park Yoo-Rim e Janice Chan


No filme, ela é a esposa de um dos produtores da peça que Yusuke está dirigindo e que ganha um dos papeis após uma apresentação contundente em libras. Por ser coreana e não entender japonês, ela acaba sendo obrigada a interpretar em coreano conforme o marido traduz o que ela diz por sinais aos membros japoneses da audição, mas é num dos outros ensaios da peça — a que acontece ao ar-livre, num parque — que Lee Yu-Na acaba conquistando o coração de todos, em uma troca muito singela de atuação com a outra atriz do elenco, a taiwanesa Sonia Yuan (Janice Chan).

Mesmo sem entender, de fato, o que a peça encenada quer dizer, é possível compreender o sentimento envolvido no texto apenas pelos gestos de Lee e Park Yoo-Rim faz tudo de um jeito tão doce que não tem como não acabar morrendo de amores pela atriz.


10 Filmes Oscar 2022


É difícil descrever o quão bonitas são as cenas em que Park Yoo-Rim encarna a sua personagem muda e como é comovente a maneira como ela se expressa em libras. Os gestos firmes e ao mesmo tempo delicados, a sua fisionomia e todo o conjunto me deixou bastante encantado tanto pelo personagem quanto pela atriz que a interpreta. 


"Cada dia é muito divertido agora..."


Aliás, a metalinguagem presente em Drive My Car é um ponto importante a se discutir, já que estamos assistindo a atores de cinema interpretando atores dentro de uma peça de teatro. Chega uma hora que tudo se funde e acabamos esquecendo o que é realidade e o que é fantasia no enredo.

A representatividade está bastante presente no filme com a atuação de atores de fora do Japão na história, diálogos em inglês, coreano e até mandarim. A incorporação das libras é outro elemento interpretativo que ganha grande destaque no enredo de Drive My Car, algo que também é usado nos concorrentes No Ritmo do CoraçãoDuna, com a personagem Jessica de Rebecca Fergusson.

Se alguém me perguntasse “Rodman, qual seu favorito ao Oscar esse ano? ”, eu diria sem pestanejar Drive My Car por todo o conjunto da obra. Eu não só estou torcendo para que o filme leve o prêmio de Melhor Filme como acho também muito justo que ele supere os demais. Foi de longe a minha melhor experiência diante da tela entre todos os dez títulos. Terminei a projeção em lágrimas e filmes de arte que nos tocam dessa maneira tão particular devem ser melhor considerados que os demais. 

Além de Melhor Filme, a obra intimista de Ryusuke Hamaguchi disputa Melhor Direção e Melhor Filme Estrangeiro. No Brasil, infelizmente, não está disponível em nenhuma plataforma de streaming, mas vale muito a pena correr atrás, nem que por meios alternativos. Filme imperdível.

Nota 10.

NAMASTE!

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