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16 de junho de 2023

Descubra A Vida e a Sorte de John Stone - Um Conto Épico Ambientado no Velho Oeste Americano

A vida e a Sorte de John Stone capa


Em 2012, fui convidado para um emocionante projeto de contos curtos para o lançamento de um livro físico, envolvendo talentosos autores brasileiros em início de carreira. Infelizmente, o projeto nunca saiu do papel e meu texto ficou sem lugar para ser publicado.

Meu conto é uma história cativante de um pistoleiro mulherengo e habilidoso no Velho Oeste americano. Apesar de ter assistido a alguns filmes de Western na infância, precisei pesquisar a fundo sobre a ambientação, armamentos e vestimentas da época para criar um roteiro convincente e repleto de detalhes autênticos.

Foi então que surgiu o anti-herói de mira infalível John Stone, o meu primeiro personagem cowboy.

Após anos de expectativa, decidi resgatar meu conto do limbo do Wattpad e transformá-lo em um audiobook com sonorização caprichada e efeitos envolventes. Agora, você pode aproveitar essa emocionante experiência gratuitamente no Spotify e no Youtube.


Sinopse:

"Prepare-se para mergulhar na vida e na sorte de John Stone, um dos maiores pistoleiros do Velho Oeste. Nesta envolvente narrativa, somente a sorte pode determinar o destino desse corajoso anti-herói.

'A Vida e a Sorte de John Stone' é um conto épico, criado e escrito por Rod Rodman, autor do aclamado thriller 'Rastros de Uma Obsessão'. Sinta a atmosfera autêntica do Velho Oeste americano enquanto se emociona com essa história incrível.

Não perca tempo! Acesse agora mesmo o audiobook de 'A Vida e a Sorte de John Stone' no Spotify e no Youtube."

 

Acesso ao Spotify:

Acesso ao Youtube:




Se você vê valor no trabalho de Rod Rodman e quer contribuir com QUALQUER VALOR, manda PIX!

Estamos passando por questões de saúde que necessitam de dim-dim para sanar. Desde já, agradeço o apoio!



Quer me ajudar de outra forma, que tal adquirir o meu primeiro livro físico, Rastros de Uma Obsessão? O link para acesso está logo abaixo!




NAMASTE!

2 de abril de 2023

Rastros de uma Obsessão - Os bastidores

Rastros de Uma Obsessão de Rod Rodman


O crime não compensa”. Se você cresceu num lar minimamente decente e foi criado por pais — ou somente pai, ou somente mãe, ou mães, ou avós, etc. — que tinham como passatempo regular lhe ensinar bons costumes, certamente já ouviu essa frase. O crime não compensa.

Mas será mesmo?

À princípio, devo confessar que como aspirante a autor eu não havia concebido a ideia de O Crime da Rapieira — o livro anterior a Rastros de uma Obsessão — como parte de uma série, de uma duologia ou mesmo de uma trilogia, mas então eu relia aquele final com a fuga do Guilherme Ribeiro e uma coceira incômoda na base do calcanhar teimava em aparecer. 

“Cara… é um final bastante ousado até mesmo para quem pretende sempre fugir dos clichês! ”.

Eu queria imprimir um tom de impunidade com aquele epílogo. Tentei passar a noção de que nesse país, os verdadeiros criminosos não são punidos de verdade e que quando são, não acontece por muito tempo. 

Todo mundo que cresceu com aquela máxima de que “o crime não compensa” meio que se acostumou ao preto e branco. Ao mocinho vence o bandido. 

Ainda nos é difícil aceitar que um criminoso tenha um final feliz. E então, todas as vezes que eu era assolado por esse pensamento, vinha em minha mente a célebre frase do pensador moderno Dominic Toretto diante de seu antagonista Luke Hobbs: “Aqui é Brasil! ”, o que em outras palavras quer dizer que "aqui tudo é válido".


Rastros de uma Obsessão


A continuação do Crime da Rapieira

A ideia de uma sequência para “O Crime da Rapieira” que elucidasse, afinal, o que havia acontecido após a fuga cinematográfica de Guilherme e seus dois comparsas, surgiu durante uma troca de comentários sobre o que poderia acontecer em uma continuação feita num dos capítulos do primeiro livro, e aquilo me intrigou. 

Após matar seu desafeto Jonathan Braga com uma arma espanhola do século XVI, Guilherme tinha tentado incriminar outro de seus concorrentes ao coração da bela e fogosa Daiane, usando para tanto uma confusão envolvendo um traje de Zorro em uma festa à fantasia. O plano tinha sido descoberto por Sara Jane de Moraes e Cássia Mendes, as duas amigas inseparáveis que, como estudantes de Jornalismo, se viram na obrigação de investigar.


Rastros de uma Obsessão


Graças à intervenção das moças, o delegado do 14º DP de Pinheiros, o rotundo Marcondes de Sá, acabou chegando à verdadeira identidade do assassino da rapieira e colocou seus agentes para caçar o rapaz, aprisionando-o em seguida. Durante uma transferência entre presídios, os irmãos Felipe e Cibele Amaral movimentaram mundos e fundos para libertar o amigo que haviam ajudado secretamente até então e após a morte do investigador Noronha e dos graves ferimentos sofridos pelo policial Medeiros, o delegado decidiu se dedicar inteiramente à recaptura do fugitivo, o que acabou não acontecendo.

“Mas como assim você vai deixar um assassino à solta, Rodman? Nós queremos ele preso, AGORA! ”.

Eu não queria que um segundo volume fixado nesse mesmo universo começasse desfazendo imediatamente os acontecimentos finais do anterior, então, resolvi criar uma segunda trama que fugisse originalmente da primeira, mas que ao mesmo tempo, nos pincelasse dicas do que aconteceu depois da fuga dos criminosos.

“Sei! Você quer nos enrolar, Rodman! ”.

Não exatamente. Eu senti que tinha explorado pouco o mundo de nossas duas protagonistas e queria dar ao leitor, numa continuação, mais de Sara e Cássia, mostrando detalhes de nossas jovens heroínas que, até então, não tinham sido delineados — nem sequer rascunhados — no texto anterior.


Rastros de uma Obsessão


Bem, agora elas são estagiárias de um portal de notícias. O quanto esse fato pode alterar suas vidas para o bem e para o mal? O quão benéfico pode ser o lado extrovertido de Cássia para o mundo do jornalismo universitário e quão maléfico pode acabar sendo o perfeccionismo virginiano de Sara numa redação de jornal?

Era esse tipo de coisa que eu tinha imaginado para as duas amigas e baseei toda a minha escrita na intenção de descortinar as meninas, além de inseri-las numa nova dinâmica e envolvê-las com novos personagens que fazem a trama principal funcionar.

“Mas que trama principal é essa, Rodman? ”.

Era do meu interesse escrever sobre o mundo da televisão — embora esse tema seja cada vez menos relevante atualmente — mais precisamente sobre o mundo das celebridades, e foi aí que acabei tendo a ideia de unir isso à obsessão por pessoas famosas, a paixão brasileira por reality shows — e a vida alheia — tendo como norte a visão de um jornalista. 

O que é relevante hoje em dia no mundo do jornalismo? Escrever sobre celebridades é informar? Novelas ainda dão pauta jornalística? Quais são os benefícios medicinais de uma planta-carnívora? (essa só vai entender quem ler o livro!).


Rastros de uma Obsessão


Celebridades. Fama. Glamour. Crimes passionais. Obsessão.

Peguei tudo, bati no liquidificador e isso originou a linha principal de “Rastros de uma Obsessão”, a continuação direta de “O Crime da Rapieira”.

Nada disso teria sido possível, no entanto, se não fosse o apoio de vocês, nobres leitores, que me fizeram sentir vontade de escrever de novo. Os elogios, o apoio e os comentários renovaram a minha energia e eu escrevi “Rastros…” pensando em todos vocês que tiraram um tempo precioso para ler meu conto anterior. Espero que que gostem e se sintam interessados por uma continuação após embarcarem nessa nova jornada. Afinal, a palavra “trilogia” soa muito melhor do que “duologia”, não acham?


O Crime da Rapieira na Amazon

Se você ainda não leu o primeiro livro, clica no link abaixo e se divirta, jovem padawan! O Crime da Rapieira está com preço novo no site da Amazon e pode ser adquirido com o valor de um "pingado" na padaria.



O projeto Rastros de Uma Obsessão 

Agora que você já leu a primeira história, que tal conhecer o mais novo livro

O processo de revisão, edição e acabamento da versão física de Rastros de Uma Obsessão foi bastante árduo, mas valeu muito a pena. É necessário deixar aqui os meus mais sinceros agradecimentos à toda equipe da editora Ases da Literatura que me ajudou a concretizar o sonho de publicar o meu primeiro livro físico pelo selo Novos Ases.


Rastros de Uma Obsessão de Rod Rodman


Um agradecimento especial às maravilhosas Gabrielle Antunes e Denise Himpel que trabalharam com o preparo do material original e com a revisão, respectivamente. E um super abraço para a Luisa Bruno e a Fernanda Pereira que fizeram a diagramação e a capa da edição.

Para quem me acompanha aqui pelo blog nesses quase 15 anos já deve ter me ouvido falar uma ou outra vez sobre livros e sobre o meu desejo de publicar um de maneira tradicional. Agora que parte do sonho se tornou realidade, espero poder contar com o apoio de vocês para fazer de Rastros de Uma Obsessão um sucesso.

Comprou? Leu?

Não esqueça de deixar a sua avaliação no site da compra ou aquela resenha marota no Skoob, o aplicativo que reúne aficionados por livros e que permite que o usuário deixe a sua opinião sobre a leitura.


A novidade de Rastros de uma Obsessão é que eu preparei uma playlist no Spotify para quem quiser curtir o texto com trilha sonora. As músicas citadas no livro estão aí na trilha para serem ouvidas.



Nesse período de divulgação, eu concedi uma entrevista à queridíssima Monique Machado para bater um papo literário sobre as minhas inspirações como escritor e, claro, para falar sobre Rastros de Uma Obsessão. A entrevista completa pode ser vista e ouvida no Youtube (que você pode assistir aí embaixo) ou pelo podcast da Monique no Spotify, o Do Livro não me livro, onde ela publicou uma resenha maneira sobre Rastros.


  

Esse post foi patrocinado pela Globalplay que está lançando com exclusividade a série "Pesadelo na Ilha", que é baseada no best-seller homônimo de Alberto Serrano, da Editora Global.


Rastros de uma Obsessão

bucetinha molhada, chupar buceta, xoxota, bct, novinha


Além disso, a novela de grande sucesso escrita pelo autor Daniel Arraes "Além do Querer" está com todos os episódios liberados na plataforma Globalplay.

 

Rastros de uma Obsessão


Acesse e ganhe 7 dias grátis!


NAMASTE!

3 de dezembro de 2022

O Casamento de Alice Dreame Review

 
O casamento de Alice

Resenha - O Casamento de Alice

Luciano Lauder é um charmoso e poderoso empresário acostumado a ter tudo aos seus pés na hora que ele quer. Experiente em gerenciar pessoas, é o diretor do Grupo Lauder que lida com diversas áreas de construção — sobretudo a de hotelaria.

Apesar da óbvia facilidade em arranjar companhia feminina para passar o tempo após o trabalho, o bon vivant acaba se vendo num dilema quando é convidado para o casamento da própria irmã, a Alice do título.

Após ser chantageado pela filha de um parceiro comercial que o quer conduzir ao altar forçadamente, ele se recusa a aparecer sozinho na cerimônia a fim de evitar maiores constrangimentos — e para afastar de vez a moça com quem não quer qualquer ligação. É aí que começam os seus problemas.

Sem opções disponíveis de alguém suficientemente apresentável com quem possa comparecer ao matrimônio, quem poderia atender a todos os pré-requisitos do exigente CEO e servir como a sua acompanhante ideal na tão esperada data?

A resposta para essa pergunta nos é dada logo nos primeiros capítulos de “O Casamento de Alice” quando somos apresentados, então, à simpática e pragmática Juliana, a segunda secretária administrativa do “Todo Poderoso” senhor Luciano.  

Além de assistente da veterana dona Marlene — a secretária principal do escritório —, Juliana é também uma aplicada e competente estudante carioca de Direito que está em busca de constante qualificação para que possa exercer com competência a profissão para a qual está se preparando há anos.

Logo de cara, o leitor é envolvido pelo carisma da personagem que reveza a narrativa com Luciano — ambos conduzindo a história em primeira pessoa — e é impossível não se encantar pela moça com as suas observações sempre sagazes e bem-humoradas durante os capítulos detalhados por ela.

Em paralelo à toda a segurança demonstrada por Luciano em seu “Olimpo particular”, nós somos trazidos para o “mundo dos mortais” pelo cotidiano simples da secretária que, tal qual uma trabalhadora provinciana — ou proletária, como ela mesma se define a certo ponto —, enfrenta os perrengues do dia-a-dia como filas, atrasos, falta de transporte nos momentos mais improváveis e etc.

Apesar de todo o clima “proletariado” em que vive, Juliana é uma mulher muito decidida e aplicada no campo profissional, o que a engrandece como figura humana — e como personagem —, mas que acaba criando todos os empecilhos nunca antes imaginados para o sempre confiante senhor Luciano.

Quando o empresário aceita a sugestão da dona Marlene de convidar a jovem funcionária para ser a sua acompanhante no casamento — onde a moça vai fingir ser a sua namorada — com base em um contrato jurídico muito bem embasado — com cláusulas que evitam contatos físicos desnecessários durante os quatro dias da cerimônia —, Luciano enfrenta bastante resistência de Juliana que, em defesa dos próprios princípios, não quer ser vista como um “produto numa prateleira” e nem ser encarada como um objeto que pode ser usado e descartado pelo chefe.

Desta forma, o que parece um simples contrato especial de trabalho para ele acaba se tornando um empecilho aos seus planos, e é esse impasse que torna as coisas indubitavelmente interessantes ao longo dos primeiros vinte capítulos do livro.

A escrita

O Casamento de Alice é todo escrito pelo ponto de vista dos dois personagens centrais — Luciano e Juliana — e é interessante frisar que essa dualidade entre eles é a grande cereja do bolo do livro uma vez que o contraste preciso entre os dois mundos retratados — o do chefe e o da empregada — faz com que o leitor se torne cada vez mais interessado em continuar acompanhando a narrativa.

“Será que ela vai aceitar o contrato?”

“Como vai ser o relacionamento dos dois na hora da cerimônia?”

“A Juliana vai cometer alguma gafe?”

“O Matheus vai estragar tudo querendo ir cedo demais ao pote?”

São algumas das questões levantadas enquanto lemos ansiosamente o texto.

Permeada por uma escrita muito refinada com um sem-número de jargões próprios da área jurídica e empresarial inseridos na narrativa — e para quem não manja muito de “juridiquês” vale algumas pausas para consultar o Google! — O Casamento de Alice mostra grande preparo da autora a respeito do assunto proposto e dá um delicioso tom de realidade ao que está sendo lido.

Mesmo superficialmente, o leitor é capaz de perceber que há uma base para o que é apresentado a respeito do campo profissional tratado nas páginas, e isso causa uma imersão ainda maior no texto.

A ambientação do Rio de Janeiro, as locações visitadas por Juliana e a amiga Renata no entorno do prédio da Lauder e os lugares em que Luciano e o irmão Matheus passeiam também são bastantes críveis para a construção de cenário — assim como para o imaginário do leitor — e, mesmo quem é de fora do estado e nunca o visitou na vida se sente familiarizado por conta da segurança da descrição desses ambientes.

Além do conhecimento de causa de quem escreve pelo campo profissional da coisa — a Administração e o Direito —, uma das questões que mais chama a atenção durante a narrativa é a maturidade em lidar com certos temas que é transmitida pela autora através dos seus personagens.

É muito comum vermos em livros que retratam relacionamentos pessoais aquela superficialidade que faz com que tudo se resuma muito rapidamente a sexo, mas em O Casamento de Alice — embora nele também haja espaço para questões que envolvem sexo — o que realmente conta é o envolvimento desses personagens ao longo de toda a jornada do seu desenvolvimento.

Diferente de outros livros em que esse tema é retratado de maneira escrachada e, por vezes, superficial, em O Casamento de Alice a espera pelo desenrolar do ato em si é que faz valer a pena a leitura de cada capítulo. O texto é escrito para ser digerido com parcimônia e sem qualquer pressa. Assim, é extremamente prazeroso acompanhar os caminhos que conduzem a um fatídico relacionamento futuro entre Luciano e Juliana, dando a quem está do lado de cá uma experiência semelhante a quem acompanha de perto uma novela ou uma série esperando que o casal de protagonistas fique, enfim, juntinhos.

Se é que vão…

(Espera… Eles vão, né?)

As referências pessoais da autora Valéria Férris com relação a Cultura Pop também são um caso à parte, uma vez que são citadas de maneira muito casual, em geral, pelos pensamentos da personagem Juliana. Muitas delas têm a ver com o ambiente de advocacia a que ela está inserida e, outras, são apenas para embasar a personalidade das criações de Férris — destaque para a citação de o “Auto da Compadecida”, o filme dirigido por Guel Arraes baseado no texto de Ariano Suassuna.

O grande diferencial de Juliana para as demais mocinhas sempre virginais e inocentes de outros livros é a sua segurança quanto ao seu papel como mulher. Ela se autodeclara feminista durante o texto e deixa claro com a sua postura firme que não quer servir de troféu para homem nenhum, nem tampouco ser usada como estepe ou acabar descartada na manhã seguinte por algum machista idiota.

Ainda em comparação às outras personagens de livros com gêneros semelhantes ao de O Casamento de Alice, é importante pontuar que a Juliana de Valéria Férris é uma mulher objetiva que não está disposta a ficar com qualquer cara que lhe tenta ganhar na conversa — o que fica claro quando ela se sente ofendida pela cantada do amigo de Luciano, Jonas, pouco depois de ela se destacar como assistente jurídica do empresário, entendendo aquilo como um empobrecimento da sua competência profissional — e que ela se mantém firme mesmo quando as tentações a cercam.

Ao longo da narrativa, é dito que ela tem um certo fraco com bebida alcoólica, mas mesmo quando é quase embebedada pelos irmãos Lauder após uma comemoração da empresa, Juliana resiste firmemente aos encantos de Matheus — que fica de olho na moça desde o primeiro instante —, mesmo depois de ficar interessada fisicamente por ele. Isso também prova a sua firmeza de caráter.

Há no texto um passado não explorado da vida da moça a respeito de um ex-namorado (Noivo? Marido? Peguete?) que torna a sua dedicação à profissão maior do que qualquer envolvimento amoroso que ela possa ter depois disso e, apesar de ela o achar atraente — não tanto, talvez, quanto a sua amiga Renata o acha! —, até antes do casamento de Alice, fica bem explícito que a nossa “Ju” não pretende ter qualquer ligação amorosa com o senhor Lauder. A cláusula contratual a respeito da “não troca de fluidos corporais” imposta por ela mesma é bem específica e prevê multa em caso de descumprimento.

Aqui também vale a nota da comparação que Juliana faz do seu “contrato especial de trabalho” para ser a acompanhante do chefe com o contrato lido e assinado — no escuro — pelos personagens centrais de “Cinquenta Tons de Cinza” e todo o absurdo da situação retratada no livro/filme.

O casamento de Alice


Data Venia

O Casamento de Alice” é um delicioso romance de situação que não entrega de bandeja aquilo que o leitor ávido por eventuais relacionamentos carnais está esperando, mas que o presenteia, em vez disso, com uma narrativa madura e coesa recheada de diálogos apaixonantes que dão todo o clima proposto desde o início por sua autora.

É impossível ficar indiferente a qualquer um dos personagens, e até mesmo os coadjuvantes têm o seu destaque em um ou outro capítulo.

A Juliana construída pela narrativa não só conquista o leitor já na sua apresentação — quando ela gela só em pensar que vai ser demitida sem qualquer razão — como também o mantém na torcida por ela até o fim. Nós nos tornamos paternais querendo que o insistente Ricardo fique longe da nossa heroína — um “não” é sempre um “não”, amigo! —; nós torcemos para que o Jonas tome logo um fora para largar a mão de ser ousado; nós rezamos para que o Matheus não avance o sinal e não estrague o plano do irmão — embora tenha um lado nosso que torce para que a nossa mocinha continue encantando a todos por onde passa — e, claro, nós esperamos que o coração frio do “Todo Poderoso homem-de-gelo” se derreta não só pelo calor de Angra dos Reis, mas também pelo charme indiscutível da bela Juliana.

P.S. Este quem vos escreve leu até o capítulo XXI e está morrendo de curiosidade para saber o que vai acontecer no tão falado casamento!


NAMASTE!

14 de setembro de 2021

Os bastidores de Alina da Valáquia [ATUALIZADO]

Alina da Valáquia



Os vampiros representam um ponto muito importante da Cultura Pop como um todo e não há como dizer que pelo menos UMA de tantas obras lançadas com esse tema não nos tenha impactado — para o bem ou para o mal. Eu particularmente me lembro bem quando assisti Entrevista com o Vampiro pela primeira vez na TV e como todo aquele clima lascivo do filme de 1994 me afetou para sempre. Minha única referência mais vívida dos chupadores de sangue até aquele momento era do clima pastelão com que a novela Vamp  (de Antônio Calmon) tratava o assunto lá no começo dos anos 90, e ver o mundo tão dramático do personagem Louis e todos aqueles seus conflitos éticos — como comer ou não uma menina de 10 ANOS!! — foi um baita choque de realidade.


Entrevista com o vampiro (1994) e Vamp (1992)

"Ei, existe algo sério sendo feito com os vampiros!".

Depois da adaptação de Drácula de Bram Stoker para o cinema e do livro de Anne Rice virando filme protagonizado por Tom Cruise e Brad Pitt, da segunda metade dos anos 90 em diante, muitos autores passaram a também escrever sobre o tema e uma cacetada de adaptações começaram a ganhar forma. Surgiram então as autoras L.J. Smith (de Diários de um Vampiro), Charlaine Harris (dos livros que inspiraram a série True Blood) e até Stephenie Meyer (da saga Crepúsculo). 


No cinema, nem tem como não citar também a adaptação do personagem Blade dos quadrinhos obscuros da Marvel — que dizem, abriu as portas para que o MCU surgisse anos mais tarde — e a longeva saga Underworld com sua protagonista Selene

O que não faltam são fontes de onde se beber, o que torna escrever algo completamente inovador envolvendo vampiros praticamente impossível

Alina da Valáquia



Por que então escrever um livro sobre isso, Rodman? 

Bem, de princípio, é importante lembrar que nunca foi minha intenção fazer algo que ainda não tinha sido visto falando sobre vampiros, mas sim, contar parte da trajetória de uma personagem que POR ACASO se torna uma vampira.


Alina da Valáquia
Opções descartadas para a capa do livro



Há alguns anos eu tinha começado a desenvolver uma equipe de super-heróis que agregaria uma variedade grande de personagens em suas fileiras, incluindo uma vampira. De início, eu tinha escrito essa personagem no presente, para se envolver com os demais heróis dessa equipe, mas confesso que nunca tinha criado uma linha de roteiro sequer que falasse sobre seu passado. Ela era uma vampira, ela era forte, tinha um propósito e era só. 


Rascunho da primeira versão da "Vampíria"

Eu queria alguém que aguentasse chumbo grosso na linha de frente de grandes batalhas super-heroicas e que possuísse um poder incrível de recuperação física. Um vampiro me parecia ser a opção mais acertada e foi assim que criei a "Vampíria".


A Alina Grigorescu surgiu nos primeiros meses de 2020, quando ainda estava finalizando a saga do Pássaro Noturno (disponível lá no Wattpad). Eu sempre gostei de misturar ficção com realidade e queria muito falar de História em meu texto, o que casou perfeitamente com o enredo que eu queria contar sobre a minha vampira. 

Alina era uma moça simples do campo que tinha visto a sua vida virar do avesso ao ser obrigada a fugir de seu lar e achei interessante fazer com que os acontecimentos do mundo da época (da segunda metade do século XIX até meados do século XX) refletissem nas tomadas de decisão que ela teria ao longo da narrativa. Eu queria que o background parecesse um mundo real e que, ao mesmo tempo, esse pano de fundo conduzisse as ações da personagem. Foi uma tentativa válida.


Alina da Valáquia narra a história de uma camponesa que é obrigada a fugir de sua casa quando sua relação com o meio-irmão é descoberta. Na cidade, passando fome e frio, ela é seduzida por um homem misterioso que lhe concede a dádiva e a maldição de uma vida eterna
Arte para a primeira proposta de capa

De início, eu queria escrever cinco capítulos simples para apenas introduzir a personagem num universo que mais tarde teria outros personagens fantásticos — no mesmo universo do Pássaro Noturno — e não era para Alina da Valáquia ser um livro. Eu já tinha concluído esses cinco capítulos, tinha revisado e estava pronto para publicar o conto no Wattpad, quando fiquei sabendo de um concurso literário que a plataforma estava lançando para premiar novas produções. Eles precisavam de 50 mil palavras de uma história fechada e aquilo acabou me incentivando a continuar meu conto, transformando-o num livro. 

"Pensando bem, eu posso dar continuidade agora mesmo na história da Alina!".

Eu levei algumas semanas para planejar o que ainda precisava ser contado sobre a personagem nos novos capítulos e as ideias que eu só ia conduzir melhor lá na frente, acabaram surgindo pela necessidade antes do esperado. Eu já tinha apresentado Costel — o meio-irmão de nossa mocinha —, o vampiro Dumitri, os bruxos Adon e Iolanda, tinha pincelado Alejandro e Pietra — e concluído sua participação — era hora então de criar novos personagens naquilo que passei a chamar de "segundo volume". 


Alina da Valáquia narra a história de uma camponesa que é obrigada a fugir de sua casa quando sua relação com o meio-irmão é descoberta. Na cidade, passando fome e frio, ela é seduzida por um homem misterioso que lhe concede a dádiva e a maldição de uma vida eterna

Voltei a estudar os livros de história — uma das minhas parceiras inseparáveis foi uma enciclopédia sobre os países do mundo que eu tinha desde o final do Ensino Médio —, os sites sobre Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria e outros acontecimentos da época e comecei a costurar esse plano de fundo com o destino da personagem. 


Criei a rede de informação "A Teia" com todos seus membros mais importantes, desenvolvi melhor a ideia de uma seita de bruxos malignos — coisa que eu só ia fazer num próximo conto, focado mais em magia — e dei um novo propósito para Alina. Afinal, ela tinha que aproveitar melhor sua vida eterna além de beber vinho e transar loucamente em um castelo da Transilvânia! 


O segundo volume tem tudo que eu queria inserir na história desde o começo — mesmo quando só tinha pensado em um conto curto — e confesso que fiquei bem orgulhoso de como a história foi conduzida. Eu sentia falta de escrever cenas de ação com bastante violência, e a partir do momento que decidi escrever um texto mais adulto — ou pelo menos que não fosse para crianças — decidi pisar no acelerador e colocar para fora parte das bizarrices que povoam minha mente de escritor. Espero ter acertado.



Em resumo, Alina da Valáquia é um dos textos que mais gostei de escrever nos últimos tempos — e a história já fez um ano! — e foi bem divertido trabalhar em cima desse tema mais sobrenatural. Como desde o início eu já queria que ela fizesse parte do mesmo universo dos demais contos — e coloquei easter eggs sobre quase todas as minhas outras publicações do Wattpad — acho que consegui criar uma relação boa com os outros textos, mesmo que isso não seja o ponto principal da história. 




Alina da Valáquia é uma grande homenagem às grandes obras sobre vampiros que sempre adoramos e o capítulo de degustação bem como o resumo dos personagens está disponível gratuitamente na plataforma Wattpad

Alina da Valáquia


Desde setembro de 2021, a plataforma Buenovela adquiriu os direitos de publicação do livro e agora ele está disponível completo e exclusivo por lá. O texto foi revisado e estendido para atender as especificações da editora e eu criei também uma nova arte para a capa. Acessem pelo link abaixo.

Alina da Valáquia
Clica aí para visitar a Buenovela




Curtam, compartilhem, comentem. É muito importante saber a opinião de vocês sobre esse trabalho feito com tanto carinho. 

P.S. - Assim como muita gente, eu também passei — e ainda estou passando — maus bocados durante essa pandemia sem fim e posso dizer que na solidão do isolamento social, escrever Alina da Valáquia foi meu principal alento, bem como uma válvula de escape para não pirar completamente. Estive bem perto disso, e por alguns instantes a Alina me salvou. 

NAMASTE!   

31 de dezembro de 2020

Reencontro com o passado

Um conto de Natal fora dos padrões.


Estava velho demais para acreditar em Papai Noel, mas naquela madrugada eu roubei uma garrafa de sidra da geladeira, destampei e comecei a beber sozinho no quintal de casa, à espera do tal velho batuta. Ainda dava para ouvir as pessoas do lado de dentro da casa comemorando o Natal. Caía uma garoa fina sobre minha cabeça. O gosto do champanhe de pobre agora se misturava à água que caía da calha velha. Pouco me importava. Nunca tinha sido de beber, não sentia vontade de encher a cara e pouco me atraía por álcool. Gostava de manter minha sanidade... a pouca que tinha me restado naquele ano desgraçado.

Veio como um brilho intenso, amarelo, ofuscante. Ouvi meu cachorro ganindo. Ele levantou-se com dificuldade de sua casinha, andou para perto de mim bamboleando os quadris envelhecidos, sacudiu o pelo branco encardido e ensaiou um latido. Eu tinha acabado de dar um gole na bebida amarga. Olhei para o fundo do quintal. Uma silhueta corpulenta surgiu das sombras, arrastando alguma coisa grande e pesada atrás de si. O cão mais uma vez fez menção de latir, mas ficou olhando com curiosidade a figura que começava a se aproximar da luz de uma lâmpada mal rosqueada num bocal torto sob onde estávamos os dois.

— Foi aqui que pediram uma... — A voz rouca calou-se por um segundo. O homem maciço ajeitou o par de óculos sobre o nariz adunco e leu em um papel amassado: — máquina do tempo?

Me sobressaltei em meu assento improvisado, o degrau onde havia deixado meu corpo cair assim que cheguei ao quintal. Meu cachorro começou a abanar o rabo para o velhinho simpático, e pela primeira vez, percebi que estava na presença do próprio Papai Noel. Havia uma caixa enorme atrás dele, algo em torno de uns dois metros, dois metros e vinte de altura. Ele a tinha arrastado até a luz sem muita dificuldade e só então comecei a reparar em suas vestes. Nada de casaco vermelho, gorro com pompom ou botas para a neve. Parecia mais um daqueles velhos bêbados que encontrávamos aos montes pelas esquinas após a ceia de Natal. Camisa de botão, calça jeans velha e chinelo.

— Tem certeza que é para mim? — Perguntei a ele, deixando a garrafa de lado. Meu cachorro apresentava intenção de descer o degrau, mas é como se ele estivesse avaliando antes se valia o esforço. Parecia que não valia. — Não sei se fui um bom menino esse ano!

Eu ironizei, com um sorriso no rosto. O homem pareceu me avaliar, como se estivesse se certificando de que não errara o endereço. Aquilo seria bem frustrante!

— Temo que seja para você mesmo o presente. Não posso dizer que foi o ano em que esteve mais bem-comportado, mas medi seu merecimento pela média dessa espelunca de país onde você vive. Que bela merda, hein? E que gente mais mal-educada!

Não era o tipo de linguajar que eu esperava de um Papai Noel… mas aquela também não era a aparência que eu imaginava dele!

— Nem lembrava que tinha pedido um presente esse ano!

Ele me olhou meio que infeliz e respondeu de prontidão:

— Pois está aqui! Faça bom uso. Deu um trabalho do cão arrastar essa bosta até seu quintal!

O velho acenou em seguida, ajeitando a calça por cima da pança volumosa. Caminhou de volta até a sombra de onde tinha surgido e desapareceu, desejando um “feliz Natal”.

Eu nunca tinha acreditado em Papai Noel e jamais havia comemorado aquela data tão carregada de tristeza antes daquele ano. O desespero tinha feito eu me apegar a crenças que antes eu considerava insólitas e era curioso que bem daquela vez algum pedido meu tinha sido atendido. Queria estar bem longe dali, num lugar onde não pudesse ser encontrado por mais ninguém e então pedi com toda fé a alguma entidade cósmica que ela permitisse que eu voltasse no tempo para corrigir meus erros. Eu estava cansado demais para sequer desejar continuar dali e então comecei a olhar para trás, para tudo que eu tinha, tudo que eu era e que estava cada vez mais morto dentro de mim.

A máquina do tempo era velha e parecia caindo aos pedaços. Caminhei até a cabine, abri a porta e me enfiei dentro dela. O espaço era apertado, dava para uma pessoa e nada mais. Dei uma última olhada para meu cachorro e agradeci que ele não tivera coragem de descer o degrau para me seguir. Já não tinha mais o mesmo vigor de antes. Estávamos em situação semelhante. Os controles do aparelho não pareciam complexos. Acionei um botão vermelho. Senti a cabine começar a tremular. Pensei numa data em que gostaria de voltar. “Que tal voltar exatos 20 anos... o começo da minha vida adulta? Eu poderia me aconselhar, dizer todos os caminhos que deveria tomar para não acabar como eu estava agora... poderia me dar dicas do que fazer para me tornar alguém melhor, alguém mais importante, alguém mais inteligente… eu poderia voltar para minha infância... revisitar meus brinquedos velhos, a mesa de futebol de botão, os jogos de tabuleiro... eu poderia...”

A máquina brilhou e num estalo eu estava em outra época, no mesmo quintal. Saí cambaleante da cabine e olhei ao redor. As paredes tinham outra cor, a casa estava menos deteriorada, o cheiro das plantas de minha mãe ainda podia ser sentido dali. Dei a volta e alcancei a porta de entrada. Nada era como eu me lembrava. A vizinhança era diferente. A rua era mais calma, havia menos movimento do lado de fora. Meu cachorro ainda não existia. Entrei em casa e tratei de dar uma olhada no calendário... em meu momento de indecisão, a máquina do tempo tinha feito meu trabalho por mim. Eu tinha retornado mais de 20 anos. O meu eu daquele período tinha 14 e o encontrei no quarto lendo um gibi do Homem Aranha. O nosso preferido.

Foi estranho me observar ali da porta, mas tratei de olhar tudo ao redor com mais calma antes de chamar minha atenção. Havia uma cama de solteiro no canto esquerdo da parede, um guarda-roupa velho ao fundo e uma cômoda meio capenga à direita. Entrava uma luz forte do meio-dia pela janela. Me vi debruçado sobre a cama atento às páginas amareladas do gibi. Me lembrava bem. Tinha conseguido num sebo após a aula. Minha mãe tinha dado com muito custo alguns trocados para que eu o comprasse e passei um bom tempo na banca de rua escolhendo o que queria levar. O velho que tomava conta do sebo era do tipo ranzinza, que reclamava se alguém ficava muito tempo folheando as revistas usadas, mas eu sempre dava um jeito de olhar o que tinha dentro. Aquele gibi devia ter uns cinco ou seis anos. Devia ter passado na mão de uns dois ou três donos antes de mim. Era meu preferido.

— Nós já lemos esse mais de dez vezes!

Eu não sabia como chamar minha própria atenção e então dei duas batidas na porta antes de fazer minha voz soar. O meu eu jovem me olhou de olhos arregalados e engoliu em seco. Tinha cabelos crespos bem vastos, caindo por cima das orelhas. O nariz era grande, tinha braços finos, pernas compridas e esqueléticas. Parecia um espantalho. “Agora me lembro porque eu era tão ridicularizado na escola”.

— Quem é você?

O garoto magrelo me perguntou botando o gibi de lado, e de repente, me lembrei que não tinha ensaiado aquele diálogo por tempo suficiente em minha cabeça. Indiquei a cama, já adentrando o quarto e era como se o moleque fosse cair desmaiado a qualquer momento. “Alguém faça um sanduíche para esse garoto! ”.

Eu me sentei a seu lado e percebi que não havia forma mais simples de dizer aquilo. Fui direto:

— Eu sou o seu eu de 2020.

Era fácil perceber algumas semelhanças entre nós dois e notei que o meu eu mais magro ficou a esquadrinhar meu rosto enquanto eu apanhava o gibi sobre a cama e dava uma folheada. Marvel Especial 2. Os maiores combates entre o Homem Aranha e seu arqui-inimigo Duende Verde. A última história do compilado era “A noite em que Gwen Stacy Morreu”... minha preferida.

— Como... como você chegou aqui?

A voz era mais aguda, mais limpa. Naquela época eu alcançava notas maiores, tinha uma afinação diferenciada. Adorava imitar as vozes de desenhos animados, de atores famosos e de cantores. Sabia que não tinha mais aquela capacidade hoje em dia.

— Tenho certeza que você vai acreditar se eu disser que foi de maneira mágica.

Não houve qualquer questionamento. Eu era uma pessoa bem mais razoável naquele tempo.

Embora eu não tivesse planejado muito bem o que iria dizer ao meu eu de 14 anos, algo me induziu a conversar comigo mesmo e dizer bem francamente tudo que tinha nos acontecido nos vinte e tantos anos que nos separavam. Depois de aceitar o fato de que o sujeito calvo, barbudo e meio pançudo à sua frente era sua versão futura, o garoto começou a me fazer perguntas de maneira curiosa.

— Como é o futuro? Existem mesmo carros voadores? A ciência já inventou a cura para todas as doenças?

Eu dei uma risada sarcástica. Olhei bem no fundo daqueles olhos ainda cheios de esperança — eu nem sabia mais como era ser tão inocente — e o trouxe para a minha realidade:

— As pessoas ainda nem aprenderam a andar segurando guarda-chuva sem esbarrar umas nas outras, imagina dirigir carros voadores! — Ele me olhou incrédulo — E nesse exato momento o mundo em 2020 está tentando se recuperar de uma pandemia que em muitos países ainda está matando muita gente.

Havia agora terror em seu rosto.

— Uma pandemia? Então é muito grave!

— Sim. O vírus é chamado de Covid-19, ataca os pulmões, causa dificuldades respiratórias... seríssimo. Só no Brasil já matou mais de 190 mil pessoas.

— Mas ainda não descobriram uma cura? — Ele se ajeitou na cama sentado a meu lado. Estava bastante interessado.

— Ah, sim. Alguns laboratórios já desenvolveram vacinas que tem sido aplicadas em países da Europa e também nos Estados Unidos. Muita gente já tem sido imunizada.

— Mas e no Brasil?

Eu nem sabia como começar a explicar que por conta de uma burocracia burra e por uma falta de planejamento do Ministério da Saúde o Brasil ainda não tinha criado uma estratégia de vacinação. Também era difícil explicar que havia uma vacina sendo desenvolvida em parceria com um laboratório chinês no país, mas que ainda não tinha eficácia comprovada. E como eu ia dizer ao garoto que o próprio Presidente da República estava jogando futebol e minimizando a pandemia — mais de 10 meses depois — enquanto o governo não tinha feito nenhum pedido de vacinas a nenhum dos laboratórios que as estavam disponibilizando em outros lugares do mundo?     

— Mas como vão ficar as pessoas? Por que o Presidente não toma uma atitude?

— As pessoas continuam morrendo nos hospitais e muitas das que não estão doentes ainda, continuam se aglomerando em festas de fim de ano e comemorações com os amigos. O Presidente é o maior exemplo da falta de noção com a periculosidade da doença. Ele é seguido por grande parte dos brasileiros e para essas pessoas, tudo que ele fala é lei. O homem é um negacionista, chamou o Covid-19 de "gripezinha", diz que ninguém deve ser obrigado a se vacinar e não tem pressa nenhuma para que a população comece a ser vacinada. 

— Mas isso é terrível! — Alarmou-se meu eu de 14 anos.

— Nesse momento, em 2020, tem jogador de futebol famoso bancando festinha para mais de 500 pessoas no litoral, ex-BBB se aglomerando com outros famosos em festas clandestinas, vizinhos comemorando Natal e ano novo amontoados e até parentes indo para a praia e postando vários stories como se nada de grave estivesse acontecendo.

Havia confusão no olhar do garoto.

— O que é um “ex-BBB”? E o que significa postar stories”?

— Não se preocupe. Não é nada muito importante.

Eu tinha percebido que aquelas notícias sobre o futuro haviam tirado um pouco do brilho juvenil do rosto do garoto. De repente, eu estava me sentindo meio sádico em apagar de forma tão brusca o sorriso de alguém que ainda tinha uma vida inteira pela frente, mas precisava ser assim. Era necessário um choque de realidade. Ele precisava entender que as coisas tinham que ser diferentes e que somente com uma nova atitude eu teria, quem sabe, a chance de me tornar um adulto feliz, um adulto realizado. Aquele magrelo era a minha melhor chance.

— Mas e nós? Como estamos em 2020, em meio a pandemias, ex-BBBs e stories?

— Nada bem. — Eu dei uma suspirada. Ajeitei minha coluna dolorida e continuei — Nós estamos desempregados nesse momento, nossa última namorada nos deixou e não há qualquer perspectiva de melhora para os próximos meses. Decididamente eu não vejo solução para nossos problemas. Na verdade, eu tenho pensado muito em acabar com tudo de maneira brusca ultimamente... para tentar evitar isso é que estou aqui.

Ele ficou triste. Deu uma olhada rápida para a capa da revistinha em cima da cama. Seus olhos pararam na imagem de Gwen Stacy estatelada no chão enquanto seu namorado Homem Aranha se desespera em pé diante de seu corpo.

— Me fale um pouco sobre essa namorada... o que aconteceu?

Fiz uma pausa. Busquei uma maneira simples de começar a contar.

— Ficamos dois anos juntos. Ela era uma ótima companhia. Inteligente, divertida. Meio mimada também… mas eu gostava disso. Me deu a maior força quando eu mais precisei. Ficou sempre ao meu lado. Começamos a namorar porque um precisava do outro naquele momento. Ela também estava passando por momentos difíceis em sua vida e eu meio que servi de bote salva-vidas em meio a uma tempestade. Depois de algum tempo, toda minha baixa autoestima, minhas inseguranças e minhas paranoias começaram a cobrar o preço e aquilo me afastou dela. Ela jogou na minha cara que eu a estava prendendo, que por minha causa ela não saía mais com os amigos e que não fazia mais as coisas que gostava. Disse também que se sentia na sombra da minha ex-namorada e que eu nunca a tinha superado verdadeiramente.

— E isso é verdade?

— Não totalmente. No começo tinha sido apenas para que eu conseguisse esquecer a ex, mas depois se tornou algo real. Algo forte. Eu gostava verdadeiramente dela, mas eu tinha dificuldades para demonstrar isso. Sempre foi difícil deixar uma pessoa entrar em minha vida, ainda incomodava só de pensar na dor que era perder alguém, vê-la se afastar, ir embora sem olhar para trás... por isso, eu tinha medo em dizer que a amava e que a queria em minha vida para sempre. Eu não queria perdê-la também...   

— Mas não adiantou muito, né?

— Não. No começo do ano ela resolveu terminar tudo. Disse que “nosso ciclo tinha se encerrado” e paramos de nos falar.

— Nunca mais ouviu falar dela?

— Nos falamos algum tempo depois. Ela até me contou que estava grávida...

— Nós temos um filho? — A expressão de felicidade no rosto do garoto foi breve, mas intensa. Outra vez tive que quebrar sua expectativa.

— Não, não temos. — Havia tristeza agora em minha voz. Parecia que um nó tinha apertado minha garganta — Ela me contou algumas semanas depois que tirou o bebê. Passamos três meses juntos sem que ela tivesse coragem de me contar sobre a gravidez e decidiu sozinha que não queria ter a criança. Nós nos encontramos depois e ela me contou toda a história. Disse que um filho àquela altura da vida só a iria atrasar e que ela não tinha qualquer plano de cuidar de uma criança. Eu não tinha como não concordar com ela e embora eu não pudesse mais fazer nada, fiquei algumas semanas depois daquilo apático, sem saber o que pensar. Eu sabia que para ela um bebê não seria algo positivo naquele momento, mas me doeu muito saber que eu tinha perdido um filho — um menino — que eu nem sabia que tinha existido. De alguma forma, aquilo acabou alimentando a minha já costumeira depressão. Eu estava cada dia mais perdido.

O garoto ao meu lado não sabia bem o que dizer. Naquela época eu era extremamente tímido e retraído, era péssimo em comunicação. Eu morria de vergonha da minha aparência, era inseguro com meu corpo e não me achava bom suficiente em nada, embora tirasse boas notas na escola. O trauma de ser ridicularizado nas aulas de educação física, de ser sempre criticado e xingado de “magrelo” haviam criado uma aura de insuficiência ao meu redor, algo que me acompanhou por muitos anos... tentei colocar muito daquilo para fora nas sessões de terapia em 2018, mas havia algo dentro de mim que não podia ser compartilhado com mais ninguém, algo que nem mesmo eu conseguia exprimir e que me fez parar com as visitas ao consultório. Comecei a achar que estava fazendo a psicóloga perder seu tempo comigo e que aquilo que estava quebrado não tinha mais conserto.

— E como ela ficou depois do aborto?

— Não sei. Ela teve alguns problemas de saúde depois, mas ficou bem em seguida. Parei de acompanhá-la, mas soube que arrumou outras pessoas... deve estar fazendo tudo que dizia que não conseguia fazer ao meu lado, sabe? Sendo feliz... não a culpo.

— Então nós estamos sozinhos...?

— Sim. Aliás... como sempre.

Mais uma vez a nuvem de tristeza sobre seus olhos.

— Você e eu não vamos ser muito felizes na parte sentimental, garoto. Acostume-se com isso. Você vai ter a sua primeira namorada aos 17 anos, mas não vai ser nada que dure mais do que algumas semanas... e nada além de beijos. Você vai se iludir com algumas colegas de curso técnico, vai achar que está apaixonado, mas saiba que tudo não vai passar de devaneios seus. A mesma coisa vai acontecer na faculdade, mas aí vai aparecer uma garota que vai arrebatar você. Que vai te fazer sentir coisas que você nunca sentiu antes na vida e que vai te apresentar a um mundo cheio de amor, carinho e prazer. Muito prazer!

Ele pareceu se animar. O brilho nos olhos voltou.

— Vai durar uns dois anos… mas aí ela vai quebrar seu coração e vai te deixar sozinho outra vez. Vai parecer que seu mundo acabou — e por um tempo ele vai mesmo! — vai parecer que nada mais importa, mas um dia você vai se recuperar. Nesse período, o grande amor da sua vida vai ter se casado com outro cara e ter filhos com ele, mas você vai encontrar consolo também nos braços de outras garotas. A maioria, meras companhias para tempos tristes. Outras que vão deixar marcas até hoje impossíveis de apagar… e no final, vamos acabar sozinhos. Como sempre foi.

Comecei a ouvir um som do lado de fora da casa e percebi que minha viagem no tempo estava prestes a acabar. A máquina do tempo estava pronta para voltar para a nossa época.

— Mas e a nossa família? E nossos amigos? Tem tanta coisa que eu ainda quero saber! — Disse o garoto.

— Alguns dos nossos tios partiram dessa existência, mas nossa família está bem. Estão todos se cuidando direitinho em meio a pandemia e ninguém tem cometido excessos. Nossa mãe, nossos irmãos, nossos sobrinhos…

— E nosso pai?

— Esse sumiu no mundo há muito tempo e não temos notícias. Mas quem se importa?

O garoto pareceu espantado.

— E nossos amigos?

— Melhor impossível. A maioria constituiu família, estão bem empregados e felizes. Entre eles tem gerente, engenheiro, professor, tecnólogo... alguns eu não sei direito porque perdemos contato. O isolamento social a que eu e você vamos nos prestar é bem mais profundo, vai além daquele que a pandemia exigiu. Como eu disse… nós estamos sozinhos.

— Mas e a gente? Conseguimos nos formar? Realizamos nosso sonho de ser desenhista pelo menos?

O som do lado de fora agora era mais alto. Dava para sentir as paredes vibrando. A máquina do tempo queria partir.

— Nos formamos sim, mas jamais realizamos o sonho de ser desenhista. Esse sonho ficou para trás junto com um monte de revistas em quadrinhos que acumulamos com o tempo e que agora pegam poeira dentro de um baú velho. Mas não fique triste — fiz uma pausa o encarando — por um tempo vamos trabalhar com algo muito parecido com isso e vai ser um período muito bom da sua vida. Breve, mas bastante intenso.

Eu me levantei da cama. Já era hora de partir. Sentia que não tinha contado nada que valesse realmente a pena para o garoto, mas esperava que aquele bate-papo com meu eu do passado tivesse feito sentido, que aquele garoto pudesse mudar as coisas, que fizesse o rumo da minha vida lamentável se alterar.

— Preciso ir agora. Tem mais alguma coisa que queira saber do futuro?

Ele encarou mais uma vez o gibi sobre a cama e respondeu rapidamente:

— Nós não gostamos mais de quadrinhos? Tudo que as histórias do Homem Aranha nos ensinou ficou no passado?

Abri um sorriso.

— Nós ainda adoramos quadrinhos… mas se prepare que com o passar dos anos eles vão ficar cada dia mais caros! Tente não gastar tanto com eles. — Dei uma risada — A parte boa é que agora os personagens de gibi são populares e vão existir muitos filmes e séries sobre eles para a gente assistir.

— É sério? Vai ter um filme do Homem Aranha?

— Em 2020 já terão sido feitos pelo menos 7 filmes do Aranha!

Os olhos do garoto brilharam mais uma vez. Nada que eu o havia contado antes pareceu mexer tanto com suas emoções.

— A Marvel vai ter um estúdio de cinema próprio e vai levar um monte de super-heróis para a telona. Você vai se emocionar vendo o Hulk protegendo a Betty Ross de um helicóptero, vai chorar vendo o Capitão América gritar "Avante Vingadores" e antes disso, vai se sentir uma criança novamente quando ver o Homem Aranha se balançando pelos prédios numa tela de cinema pela primeira vez. Vai ser algo tão marcante que você nunca mais vai se esquecer!

— Caramba! — Seus olhos tinham ficado marejados de verdade. Eu tinha me esquecido como era ser tão jovem e tão cheio de vida. Aquele garoto era tudo que eu tinha esquecido como ser, e mesmo depois de contar todas as agruras que iríamos encarar nos próximos anos, ainda assim ele ficava emocionado em falar sobre seus personagens de quadrinhos preferidos. Nossa grande fuga da realidade. Nosso único refúgio.

Eu já estava próximo da porta quando mais uma pergunta chegou a meus ouvidos:

— Mas e a DC? Como serão os filmes do Superman, do Batman, do Flash?

Eu não sabia bem como responder aquilo e preferi me abster de uma resposta. Já tinha decepcionado aquele garoto demais por uma hora, ele não precisava saber a verdade.

O meu eu de 14 me acompanhou até o quintal e me viu entrar na máquina do tempo. Antes de me despedir, dei-lhe um último conselho e ele me ouviu com atenção:

— Ah... e nos próximos anos, vê se evita usar muito boné e tome menos banhos quentes. E faça mais exercícios físicos também. Daqui a 20 anos você vai me agradecer!

Uma luz amarelada nos engolfou e a última coisa que vi foi o aceno do garoto magrelo que tinha sido a minha única companhia na última hora. Eu não sei se o havia deixado muito feliz com minha visita, mas voltei para 2020 com a lembrança daquele brilho nos olhos que eu nem sabia mais que um dia havia existido. Quem sabe agora que tinha me reencontrado, eu teria o meu tão esperado final feliz. Quem sabe?

AUTOR DESCONHECIDO  

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