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14 de junho de 2023

O adeus a John Romita

Adeus a John Romita


Eu comecei a ler histórias em quadrinhos muito cedo. Fui influenciado pelo meu irmão mais velho que, esporadicamente, trazia um ou outro gibi de herói para dentro de casa. A grande maioria desses gibis eram de publicações dos anos 80 ou 70. Estávamos nos anos 90 e, naquela época, o que saía no Brasil pela Editora Abril era cronologicamente bem defasado com relação ao que era publicado lá fora.

Mas, quem se importava?

Eu era um moleque magrelo e tímido que não saía de casa. Ler gibis era o meu passatempo preferido naquela realidade reclusa e introvertida. Como meu irmão tinha uma predileção pelas revistinhas do Hulk, do Capitão América e do Homem-Aranha, aquele material abundava lá em casa.

Eu não tinha muita noção de quem escrevia o quê ou de quem desenhava o quê, mas em meio àqueles inúmeros títulos e de suas variadas histórias, um cara logo ganhou destaque a meus olhos. Em especial, no que se referia a visual dos personagens.

De repente, não era mais um amontoado de “desenhinhos” indefinidos nas páginas. Eu agora conseguia distinguir o seu traço, a pegada do estilo no que ele rabiscava.

Um nome logo começou a aparecer frequentemente naquele rodapé de página, lá naquele cantinho onde eu nunca prestava a atenção. Seu nome era John Romita.

Adeus a John Romita


A primeira edição que me chamou completamente a atenção para a maneira como ele desenhava os personagens foi A Teia do Aranha nº 22, que por aqui, foi publicada em 1991 pela Abril, e que deve ter chegado às minhas mãos uns dois ou três anos depois.

Adeus a John Romita


Além do fato de que as duas primeiras histórias desse compilado de aventuras dos anos 70 tratava do relacionamento — romântico? — entre a tia May e o Doutor Octopus, o grande destaque dessa aventura era o fato de que o Homem-Aranha estava usando uma máscara que deixava aparecer seus olhos “humanos”, sem o tradicional visor branco para cobri-los.

E a tia May atirava contra ele, sem saber que estava prestes a matar o próprio sobrinho! Esse, aliás, é o grande chamariz da capa dessa edição.

Adeus a John Romita


Eu perdi as contas de quantas vezes li esse gibi. De maneira geral, essa nem era uma das histórias mais impactantes e/ou revolucionárias para o cânone do personagem, mas eu viajava em suas páginas observando os detalhes mínimos da técnica perfeita de Romita.

Influenciado pelos gibis, lá nos anos 90, eu já rabiscava meus garranchos em papel sulfite como forma de expressão, mas não entendia coisa alguma de design. Apenas apreciava o que via e me transportava para Nova York junto com ele, enquanto o Aranha se balançava de um prédio a outro da cidade.

Apesar da minha ignorância artística, eu já achava que aquele cara de nome italiano tinha um “tcham” diferente. Ele era mais técnico que os outros. Os seus “bonequinhos” possuíam expressões marcantes e o seu Homem-Aranha, em específico, parecia saltar de verdade por entre as páginas.

Adeus a John Romita
As expressões marcantes nos rostos desenhados por Romita


Além de Gil Kane — outro dos caras que eu reverencio muito quando se trata de Aranha —, eu raramente vi alguém que conseguia imprimir tanto os sentimentos dos personagens nos desenhos quanto o Romitão. Era impressionante o que ele conseguia fazer com um lápis e o nanquim!

Eu curtia o Steve Ditko, artista que, não obstante, tinha sido o primeiro cara a desenhar o Homem-Aranha desde a sua criação, lá em 1962. Mas quando o Romitão assumiu o título daquele que já era um dos principais personagens da Marvel, a mudança de traço era muito impactante e, para mim, bastante significativa.

Adeus a John Romita


Outra publicação da Abril que eu lia e relia, mês sim, mês não, era a “Marvel Especial: Homem-Aranha x Duende Verde” que, por aqui, saiu em 1986. Diferente dos tradicionais gibizinhos de 82 páginas, essa edição era um pequeno calhamaço de mais de 100 páginas, o que deixava esse jovem e esquisito estudante de ensino fundamental bastante entretido por várias horas.

Adeus a John Romita


Nessa edição específica, era possível ver a transição entre Ditko e Romita, já que é na emblemática história em que o Duende Verde descobre a identidade secreta do Homem-Aranha que Romita faz a sua explosiva estreia no título do Escalador de Paredes, substituindo o cocriador do personagem como artista regular.

Além disso, Romita também é o responsável pela cocriação de Norman Osborn, podemos dizer assim, já que ele é o primeiro cara a nos revelar, afinal, quem se escondia por trás da misteriosa máscara verde do vilão voador.

Adeus a John Romita


Outros destaques de John Romita Sênior à frente do título do Homem-Aranha é a aventura em que, Peter Parker, vencido por um resfriado, começa a delirar e, sem querer, acaba revelando a sua identidade para Gwen Stacy e todos os seus amigos em uma festa. No Brasil, essa história foi republicada em A Teia do Aranha nº 13.

Adeus a John Romita


Na edição seguinte, a de nº 14, ocorre outro evento emblemático para a trajetória do Homem-Aranha — e que na recente animação do Aranhaverso, é tratado como um evento canônico nas linhas temporais do personagem —, a morte do capitão George Stacy, o pai da Gwen, também desenhada por Romita, e que, inclusive, foi referenciada na própria animação do Aranha.

Adeus Romitão
Referência à morte do Cap. Stacy em Homem-Aranha: Através do Aranhaverso


John Romita Sênior contribuiu ainda para a criação do Wolverine e do Justiceiro — o primeiro, em parceria com Len Wein, e o segundo, em parceria com Gerry Conway, que escrevia as histórias do Aranha nos anos 70, Ross Andru, o primeiro cara a desenhar o personagem e, claro, Stan Lee, que tendo participado ou não do processo, sempre assinava todas as criações de personagens da Marvel na época.  

Romita não ajudou somente a desenvolver os visuais de personagens importantes para o universo do Homem-Aranha como o já citado Norman Osborn, como também foi o responsável pela primeira composição imagética da Mary Jane — que era citada nas histórias desenhadas por Steve Ditko, mas que nunca tinha aparecido, de fato.

Adeus Romitão



Eu era completamente apaixonado pela Gwen Stacy nesse período de republicações da Teia do Aranha, pelo motivo óbvio de que ela era o principal interesse romântico do Peter Parker e a “namoradinha” que todo moleque de doze anos sonhava em ter: bonita, inteligente, esperta e muito fofa.

Adeus a John Romita


Apesar disso, era inegável que a Mary Jane de John Romita era um espetáculo. E não só porque era uma gata ruiva cheia de curvas, mas pelo charme que ela transbordava nas páginas desenhadas por ele. Dando em cima do Flash, do Harry ou mesmo arrastando asas para o comprometido Peter, com seu jeitão “descolado” de ser.

Adeus a John Romita


É importante ressaltar que o visual dos personagens compostos por Romita nos gibis do Aranha marcou uma época. Olhando hoje para os desenhos, é impossível não reparar a influência que os alucinógenos anos 70 têm nas páginas, tanto nas vestimentas dos coadjuvantes do universo “Aranhístico” como no próprio Peter, com suas costeletas longas, os coletes e as calças boca-de-sino que usava.

Adeus a John Romita


Eu amava ler esses gibis antigos porque era sempre um mergulho em uma época que eu não vivi. Eu me via fazendo parte de um mundo que me era estranho para um garoto crescido nos anos 90, mas que me parecia mágico — e entorpecente! — mesmo assim.

John Romita Sênior não representa para mim apenas “mais um desenhista” entre as centenas de outros que passaram pelos títulos do Homem-Aranha, mas o cara que, com a absoluta certeza, definiu a imagética do personagem principal e de seus coadjuvantes desde a sua estreia como artista da revista.

Adeus a John Romita


Quando penso em Flash Thompson, J.J. Jameson, Robbie Robertson e na própria Gwen Stacy — aquela do arquinho nos cabelos! — é o traço de Romita que me vem fundamentalmente na cabeça até hoje.

Com a passagem desse mito dos quadrinhos, nós perdemos a presença física de mais um dos grandes mestres dos primórdios da Marvel, mas ganhamos outro ídolo no já célebre panteão dos artistas que fizeram e MUITO a diferença aqui na Terra.

Salve John Romita. Salve o mestre. Descanse em paz.


Leia também "Top 10 - Maiores Desenhistas do Homem-Aranha" — na minha humilde opinião —, post de 2010 onde decidi ranquear meus artistas preferidos de passagem pelas histórias do Escalador de Paredes. Adivinhem quem ficou em primeiro?


Melhores desenhistas do Aranha


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NAMASTE!

20 de setembro de 2021

Para Ana Luiza

para Ana Luiza


No último dia 17, eu e a minha família perdemos a Ana Luiza, de 26 anos, para o câncer. 

Sua luta contra a doença durou apenas alguns meses entre a descoberta, o tratamento com a quimioterapia e os resultados negativos após a mastectomia. 

Em suas redes sociais, com uma fé que parecia inabalável, em nenhum momento ela pareceu duvidar de sua cura. Teve que pedir ajuda aos amigos e familiares para se manter firme com os custos do tratamento, mas não desanimou um só instante. Acreditou que ia ficar bem até o fim.

Ela e eu não éramos primos próximos. Sempre morávamos em cidades muito distantes em São Paulo. Era um daqueles casos de familiares que se perdem um do outro durante anos e que se reencontram muito tempo depois com já todo mundo crescido e estabelecido. 

Minha empatia por ela foi meio que instantânea. São-paulina fanática estampava em todos os lugares para quem quisesse ver o quanto amava o nosso Tricolor Paulista. 

Durante anos, fomos "companheiros" inseparáveis de elogios, birras, críticas e muito lamento – esse principalmente nos últimos anos! – com esse time por meio do Twitter e era lá que tínhamos a nossa ligação mais forte. 

Ela dizia que o Twitter "não era lugar para família cuidar da nossa vida" e como todo mundo, usava o espaço de poucos caracteres como diário da vida. Eu era família também, mas como ela dizia, era bem-vindo. 

Ana Luiza



Por razões que só a vida pode explicar, eu encontrei a Analu apenas uma vez pessoalmente e foi – pasmem – num velório há alguns anos. Já a conhecia por fotos e claro, tínhamos contato pelas redes sociais. Ao vivo, nunca. 

Nossas famílias eram bem distantes uma da outra e as reuniões familiares passaram a rarear cada ano mais com os falecimentos naturais de parentes mais velhos. 

Apesar disso, eu a considerava como alguém próximo. As redes sociais nos fazem sentir como se a pessoa do outro lado estivesse "logo ali" e de um jeito ou de outro, ela estava sempre conversando comigo com suas postagens no Twitter

Linda. Alegre. Sincera. Essa era a Ana Luiza que eu conhecia. Não consigo imaginá-la de outro jeito. 

A partir do momento que ela deu entrada no hospital já em estado grave, eu passei a questionar o quanto todo esse sofrimento era injusto. 

Como alguém tão jovem e com tanta coisa ainda para viver pode passar por algo tão terrível?

Que tipo de justiça divina é essa que permite que uma moça tão cheia de fé em sua cura possa ser violada dessa maneira por uma doença tão feroz que não perdoa ninguém? 

E por que ela, que queria tanto viver?

Por que não eu que passei os últimos dois anos praticamente pedindo pra ser levado daqui porque já não acreditava mais em nada e não tinha mais nenhum propósito de vida? 

Às vezes, eu acho que se tem mesmo alguém lá em cima olhando tudo isso acontecer sem reação alguma, é alguém de puro sadismo.

E às vezes, eu acho que não existe ninguém. 

Analu, como seu amigo distante, eu desejei muito a sua cura. Até o último segundo acreditei que você fosse sim ser abençoada com uma melhora em seu quadro de saúde e que em breve estaria entre nós mais uma vez, abraçando seus entes queridos, vibrando com o São Paulo – nos momentos bons e ruins –, revendo seu Toy Story, curtindo seu Coldplay, jogando seu Free Fire, dando apertões carinhosos na sua Tereza e abrindo esse sorrisão lindo que tu tinha.  

Infelizmente, o universo não quis assim.

Nos vemos em breve então, quem sabe. Eu vou com a camisa do Tricolor, que tal? Eu e você na torcida lá de cima gritando muito, xingando palavrão… ia ser hilário! 
Fica em paz prima! Você foi, é e sempre será incrível! Nós te amamos!

P.S. - Parei de usar o Facebook há algum tempo e não o tenho mais instalado no celular. Apesar disso, mantenho o Messenger para algum tipo de emergência, sei lá. 
Há alguns dias, quando a Ana Luiza ainda estava em tratamento regular, eu mandei uma mensagem perguntando como ela estava passando por tudo isso. A ideia era bater um papo, manter uma proximidade, passar algum tipo de esperança, embora ela já a tivesse de sobra. Como a mensagem ficou sem resposta por um tempo, achei que ela não tivesse visto ou não tivesse ligado. 
Ao abrir o Messenger recentemente, descobri que ela tinha me respondido dia 08/09, apenas 5 dias antes de ser internada pela última vez. O app não me notificou e eu jamais vou ter a chance de responder aquela pergunta. 

Ana Luiza



P.S. 2 - Vou sentir falta de assistir futebol e depois ler os comentários da Analu marrenta no Twitter. A bicha era braba!
Os jogos do São Paulo nunca mais vão ser os mesmos sem ela...

Analu braba



NAMASTE!

5 de maio de 2021

Adeus a Paulo Gustavo



Vou começar o post com uma frase clichê que sempre é dita quando um humorista se vai, mas que representa exatamente o momento atual: hoje o Brasil ficou mais triste com a passagem de Paulo Gustavo.

É muito complicado tentar exprimir em palavras o que a gente sente quando alguém tão popular, que de certa maneira faz parte da nossa vida, se vai e é preciso ter um poder muito raro de concisão para colocar num texto tudo que acaba saindo no calor do momento, por isso, eu nem vou tentar. Vou falar aqui com o coração mesmo, desprovido de coesão, razão ou qualquer poder de síntese. Vai ser no improviso.

Eu conheci o Paulo Gustavo, até meio tardiamente, já no palco do Vai que Cola  humorístico do canal Multishow —, vários anos depois dele já ter despontado com suas peças teatrais de sucesso e os filmes estrelados no cinema nacional. Eu chegava do trabalho mais ou menos por volta das 20:00, às vezes mais tarde, tomava um banho, esquentava alguma coisa pra comer e ia pra frente da TV assistir ao programa basicamente todos os dias da semana. Em pouco tempo, virou um vício na casa da minha mãe e a gente ria muito assistindo os improvisos e a “trocação” que o ator fazia “ao vivo” com os colegas de humor Samantha Schmütz, Marcus Majella e — na época da 1ª temporada — Fernando Caruso. Aliás, por mais que o texto do sitcom brasileiro fosse realmente engraçado e a direção de cena muito competente, eram mesmo as falas fora do script que davam o verdadeiro tom da atração. Era impossível não cair no riso.



Fazia muito tempo que eu não assistia TV e menos ainda programas ditos humorísticos com aquela coisa mais quadrada cheia de bordões ensaiados como “A Praça é Nossa” ou o antigo “Zorra Total”. Eu já não achava mais graça de coisas assim e nem perdia meu tempo vendo. O Vai que Cola e em especial o humor “bagaceiro” do Paulo Gustavo é que me fez gostar novamente de atrações assim e ele com seus personagens caricatos e exagerados nos fazia rir genuinamente, sem aquela forçada — o sorrisinho amarelo — que às vezes nos permitimos só para não admitir que estamos é constrangidos pelas piadas sem graça. E nem estou falando do Valdomiro, o personagem pilantra que Paulo interpretava no sitcom desde a primeira temporada, aquele que adorava falar mal do bairro do Méier do Rio de Janeiro — onde se passava a história — de sacanagem. Como ele mesmo costumava brincar com o amigo Majella — e esse diálogo aparece até no primeiro filme baseado no programa — os dois não sabiam interpretar personagens héteros. O grande talento de Paulo estava mesmo em fazer graça na pele de mulheres ou gays rasgadíssimos, algo no qual ele era insuperável.

A gente nem mede o sucesso de Paulo Gustavo ou sua importância para o mundo do humor por ele fazer a nossa geração rir, mas sim dele ter uma capacidade impressionante de atingir as nossas mães, as nossas avós, um público mais antigo que não está acostumado ou mesmo faz esforço para entender que homossexuais existem e merecem tanto espaço quanto qualquer outra pessoa, seja de qual orientação for. A gente que teve tempo de se informar mais, de procurar entender o outro com empatia vê em Paulo Gustavo — homossexual assumido desde sempre — apenas um cara engraçadíssimo que tem uma facilidade fenomenal de causar risos falando de sexualidade, mas nossos pais são da época em que “viado”, “sapatão” ou qualquer outro apelido mais pejorativo eram comuns e que “esse tipo de gente” não deveria ter tanto espaço. Em rede nacional, quase no horário nobre, Paulo Gustavo foi lá e fez as nossas mães rirem com piadas sobre sexualidade, com shows de drags e muita “pinta”, coisas impensáveis há vinte, talvez trinta anos.     

Minha mãe já disse frases como “eu não vejo nenhuma graça nesse novo Zorra”, quando o programa tentou uma abordagem menos machista, menos homofóbica e fazendo um humor mais consciente nas noites de sábado da Globo. Ela dava risada vendo o Didi chamar o Mussum de “urubu” na época dos Trapalhões, gostava de quadros como “dá uma subidinha” — cheio de sexismo — protagonizados no Zorra Total pelo também saudoso Agildo Ribeiro e odeia programas como Casseta & Planeta e o humor mais atual de atores como Marcelo Adnet, Tatá Werneck ou Rodrigo Sant'Anna. Ah, mas do Paulo Gustavo ela gostava. E muito! Eu ouvi da boca dela que o Vai que Cola só tinha graça quando tinha o Valdomiro e que quando ele saiu lá pela terceira ou quarta temporada, sei lá, segundo ela, o humorístico tinha perdido a graça.



A catarse e a entrega total pelo talento do humorista de 42 anos veio mesmo com seu papel essencial da carreira e quando eu coloquei para passar Minha Mãe é uma Peça para a MINHA mãe assistir, não tinha mais como negar ao vê-la gargalhar em frente à TV: Paulo Gustavo tinha mesmo o poder de reunir várias gerações com sua interpretação PERFEITA da matriarca ciumenta, desbocada e barraqueira, mas que tinha em sua essência aquele coração enorme que a gente identificava também em nossas mães. Há um pouquinho da Dona Hermínia na minha mãe e tenho certeza que quem está lendo esse texto vai balançar a cabeça nesse momento, concordando com o que digo e pensando “na minha também! ”. O talento de se entregar tanto ao seu trabalho ao ponto de abraçar virtualmente inúmeras pessoas de credos, culturas e orientações diferentes é raríssimo. Talvez eu tenha visto em alguma figura do esporte, da política ou mesmo de outras áreas da TV que não a das artes cênicas, mas nesse ramo do humor jamais.

O dublador e ator Guilherme Briggs sintetizou esse pensamento de maneira muito lúcida em sua conta do Twitter e eu não teria maneira de incorporar em meu texto sem usar suas palavras exatas, por isso farei um quote direto do que ele disse:

“O objetivo do artista é dar mais do que aquilo que tem. E assim fez o amado Paulo Gustavo, que se doou de tal forma, com tanto amor e intensidade, com tanta entrega e desenvoltura, que agora ele se transferiu de corpo e alma para dentro do coração do Brasil, para sempre. ❤”

E é isso! É uma tristeza muito grande ver um artista com um talento tão grande ser levado dessa maneira tão brutal por uma doença que já arrastou com ela mais de 400 mil vidas e que pasmem, já tem uma vacina. Enquanto choramos a morte de Paulo Gustavo, mais outras 400 mil famílias também choram por seus entes queridos, pais, mães, avós, irmãos, namoradas e tias, todos levados, sobretudo, pela negligência de um governo negacionista que podia ter feito muito mais pela população em todos esses meses e que preferiu se omitir, fingindo que tudo não passava de uma marolinha no oceano e não o verdadeiro tsunami que acabou sendo a pandemia de Covid-19.

Estamos tristes, machucados e já sentimos muito a perda de Paulo Gustavo, mas ao mesmo tempo, esperamos que depois de tanta luta, que depois de mais de 50 dias de internação, ele possa enfim descansar em paz e que lá de cima esteja olhando por seus entes queridos, a mãe — a grande inspiração para a Dona Hermínia —, sua irmã, seu marido e os dois filhos que infelizmente crescerão sem a sua presença maravilhosa aqui na Terra. Um cara gay que conseguiu reunir inúmeras tribos fazendo rir e que arrecadou com um filme mais de 140 milhões em bilheteria — a maior do Brasil — num país que nem sequer valoriza o próprio cinema. Isso não é pra qualquer um! Sua passagem por nossas vidas foi breve, como um meteoro no céu, mas seu trabalho jamais será esquecido. Descanse em paz, querido. Obrigado pelas noites de gargalhadas.


 

“… contra o preconceito, a intolerância, a mentira a tristeza já existe vacina: é o afeto, é o amor! ”.

NAMASTE!

28 de abril de 2021

O adeus a Dário de Castro, Carlos Marques, Ana Lúcia Menezes e Iara Riça



Não tem sido um mês fácil para os familiares dos dubladores e fãs da dublagem brasileira. Num intervalo de pouco mais de três semanas o Brasil perdeu quatro dos mais especiais e talentosos artistas do meio e tudo que podemos fazer nesse momento é prestar uma homenagem a Dário de Castro, Carlos Marques, Ana Lúcia Menezes e Iara Riça.


DÁRIO DE CASTRO



Recentemente, eu citei o nome de Dário num post sobre a animação dos X-Men dos anos 90 e ele faleceu no último dia 15 por decorrência de complicações do Covid-19, vírus que já interrompeu quase 400 mil vidas só no Brasil. 

Dário tinha 72 anos e trabalhava há mais de 40 com atuação e direção de dublagem. Na série animada dos X-Men dos anos 90, ele dublou o líder da equipe Ciclope da segunda temporada em diante, após a saída de Nilton Valério e é muito comumente lembrado também por ser a voz do Caçador de Marte em Liga da Justiça e Liga da Justiça Sem Limites

No cinema, Dário de Castro também foi por anos a voz mais conhecida de Dolph Lundgren, além de dublar os atores Liam Neeson, William Hurt e Russel Crowe, em especial no filme Gladiador (2000). Ele deixa um legado imenso na dublagem brasileira que vai poder continuar sendo referenciado por muito tempo após sua partida. 



CARLOS MARQUES



O veterano Carlos Marques de 88 anos faleceu no último dia 19 por causa não revelada pela família em Minas Gerais. Atuante desde os anos 50 como radialista, passou por quase todos os estúdios de dublagem nos anos subsequentes, incluindo a Dublasom Guanabara e a Herbert Richers.

Entre seus trabalhos mais marcantes estão a voz do Garfield no desenho dos anos 80, o Homem Aranha no seriado live-action dos anos 70 — e também na animação Homem Aranha e seus Incríveis Amigos —, o Gaguinho e o Patolino dos desenhos Looney Tunes e o Robin dos Superamigos. Menos conhecido pelo grande público, era voz muito popular em séries e filmes dos anos 80 e serviu como base para todos os dubladores que vieram em seguida, incluindo caras como Marco Ribeiro, Alexandre Moreno e Guilherme Briggs.


 

ANA LÚCIA MENEZES



Aos 45 anos, Ana Lúcia Menezes lutou por vários dias em coma no hospital após sofrer um AVC no último dia 13. A dubladora estava em casa quando sofreu o acidente vascular e foi socorrida por uma amiga médica e pela família. Em estado grave, ela veio a falecer no dia 19, deixando amigos e familiares — incluindo a filha Bia Menezes, também dubladora — bastante abalados.

Entre seus trabalhos de destaque estão a Misa Amane de Death Note, a Lupita (Maitê Perroni) de Rebelde, Chihiro em A Viagem de Chihiro, a Murta que Geme dos filmes Harry Potter e a Tonya de Todo Mundo Odeia o Chris. Ela era bastante marcada por fazer vozes de crianças ou personagens mais jovens e entre todos os dubladores que nos deixaram recentemente era também a mais jovem deles. 



IARA RIÇA



Meu coração está despedaçado em ter que escrever esse post e falar sobre o falecimento de Iara Riça sendo tudo tão fresco ainda. Tendo sofrido um aneurisma cerebral, a atriz vinha lutando bravamente nos últimos dias pela sobrevivência, tendo até um quadro de melhora recente que infelizmente não se converteu em sua saída do hospital. 

A artista de 56 anos fez história na dublagem nacional e faz parte do quadro das vozes mais reconhecidas do grande público por ter sido, no Brasil, a pessoa por trás da Arlequina em praticamente todas as produções animadas e live-action em que a personagem apareceu. Quando a palhaça do crime surgiu no desenho animado do Batman dos anos 90 (Batman Animated) já era Riça quem a dublava e de lá pra cá foram diversos outros trabalhos memoráveis. 

Só na época de TV Colosso, quem é velho como eu, deve lembrar que era ela quem também dava voz à Jubileu dos X-Men e à Triny dos Power Rangers. Nos anos subsequentes, ela deu voz à Florzinha das Meninas Superpoderosas, a Lala dos Teletubbies e a Jean Grey de X-Men Evolution.

Em 2020, Iara foi bastante comentada na mídia porque sua voz foi substituída por outra dubladora como a Arlequina (Margot Robbie) do filme Aves de Rapina e muitos fãs reclamaram por já estarem acostumados com ela frente a personagem. 

Iara deixa um legado igualmente maravilhoso com sua passagem, além de muitas saudades por parte de seus familiares, amigos e nós, seus fãs. 



Que todos essas pessoas incríveis descansem em paz, são os votos do Blog do Rodman.


Agradecimentos a Universo X-Men, a Jbox, Legião dos Heróis e Tecmundo.


NAMASTE!  

20 de julho de 2015

A Maior Bilheteria de 2015 (até aqui!)


Em Maio e Junho, o Blog do Rodman colocou no ar uma enquete para que os leitores opinassem qual seria a MAIOR BILHETERIA de 2015, e seis grandes Blockbusters foram colocados no páreo.

Com 48% da preferência do público, Vingadores 2 - Era de Ultron foi o grande campeão, deixando Star Wars - O Despertar da Força em segundo (34%), Velozes e Furiosos 7 (7%) em terceiro, seguido de Jurassic World (4%) e Jogos Vorazes - Esperança Parte 2 e Cinquenta Tons de Cinza empatados com 2% da preferência. 


Assim como o grande público, eu também esperava BEM MAIS de Era de Ultron (resenhado aqui), um dos filmes mais aguardados do ano, só que o filme da Marvel não só perdeu em bilheteria para Velozes e Furiosos 7, como nem sequer conseguiu alcançar seu antecessor Vingadores (2012) no ranking de MAIORES bilheterias do mundo, que também foi atropelado pela franquia liderada por Vin Diesel, caindo para quarta posição. Jurassic World também bateu o primeiro Avengers no quesito melhor estreia em um final de semana, arrecadando US$ 208.806.270



Quem diria, hein!

Nunca na história desse país do cinema, a sétima parte de uma franquia conseguiu tanto destaque e popularidade, e Velozes e Furiosos 7 conseguiu mostrar que mesmo uma série de cinema tão extensa consegue SIM renovar seu fôlego e se manter interessante para o público, coisa que outras franquias como Jogos Mortais (também com 7 filmes) e Sexta-Feira 13 (com 12 FILMES... 12... Desgraçados... Filmes!) nunca conseguiram.


Mas Rodman, Fast & Furious 7 só conseguiu tanto destaque por causa da morte do Paul Walker!

Isso não é bem mentira. Paul Walker era um dos protagonistas da série Velozes e Furiosos desde o início, ele fazia as vezes do cara bonitão e bom moço que conquistava boa parte do público. Com o passar dos filmes, ele melhorou muito em atuação, e seu personagem cresceu e se desenvolveu a tal ponto que ele conseguia dividir espaço com o brucutu Vin Diesel. A relação de Brian e Toretto só melhorou depois que eles pararam de rivalizar e se tornaram amigos (amigos não... Família!), e pra quem acompanhou a saga toda até o sétimo filme, é de cortar o coração a forma como a história é obrigada a se encerrar após o trágico acidente que vitimou Paul Walker em 2013.


Muito gente criticou o filme por ele ter uma história superficial e com mais furos que queijo suíço (como se isso fosse alguma novidade em Velozes e Furiosos!), mas as pessoas que se ligaram nos filmes desde o primeiro têm sim o direito de se emocionar com os momentos finais de Velozes 7, que é uma linda homenagem da equipe de direção, da produção, do estúdio e PRINCIPALMENTE do elenco para com o amigo que se foi de forma tão dolorosa, deixando cenas inacabadas a serem filmadas e uma dura tarefa aos irmãos de Walker e aos animadores da WETA em recriarem o rosto do ator digitalmente para que o filme fosse, enfim, concluído após uma paralisação de quase um ano.


O resultado?

Quer saber? Velozes 7 é um PUTA de um filme de ação, igual a aqueles que a gente assistia quando era pequeno (Rambo, Comando para Matar, Duro de Matar), tão descerebrado quanto e tão divertido quanto. Me diverti pra caralho com as cenas de luta entre Jason Statham e The Rock, Paul Walker e Tony Jaa (Ong Bak) e a treta final entre o Toretto e o irmão de Owen Shaw (do Sexto Filme) Deckard, vivido por Jason Statham. E como bate esse filho da puta!


As cenas impossíveis estão lá, SIM, as marmeladas que seriam impossíveis de acontecer na vida real estão lá, SIM, mas é isso que queremos ver quando se trata de Blockbuster. Velozes e Furiosos tem nos entregado tudo que queríamos ver em Os Mercenários e que até agora não rolou, por isso dou uma nota 9 ao filme.



Por enquanto galera, a bilheteria (Mundial) dos filmes que entraram na enquete está assim:


1- VELOZES E FURIOSOS 7 - US$ 1.511.636.779
2- JURASSIC WORLDUS$ 1.465.838.000
3- VINGADORES 2US$ 1.388.522.000
4- CINQUENTA TONS DE CINZA US$ 569.651.467


Vale lembrar que da lista, os únicos que ainda não estrearam foram O Despertar da Força, que é um forte concorrente a BLOCKBUSTER DO ANO e o capítulo final da Saga Jogos Vorazes Esperança - parte 2. Será que algum deles consegue superar Velozes 7 e Jurassic World?

NAMASTE! 

1 de dezembro de 2014

Homenagem do Rodman - Adeus, Chaves!

“Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez.” 

(WILLIAM SHAKESPEARE)

Eu me lembro que desde criança a morte sempre me impressionou. O ano de 1994, por exemplo, foi muito forte nesse sentido. No cinema, eu vi de perto a morte do Mufasa, em O Rei Leão, nos quadrinhos foi a vez da Morte do Superman e na vida real o Brasil ficou de luto pela morte trágica de Ayrton Senna, piloto que de tão talentoso, até hoje (20 anos depois!) ainda não apareceu ninguém com 10% de sua raça nas pistas.

Devido problemas pessoais, finais de relacionamento e fracassos profissionais eu já pensei em abraçar a morte por algumas vezes, já pensei em encerrar esse ciclo de tragédias e erros de uma forma abrupta, mas admito que não entendo a morte, nem tampouco a aceito. Como poderia então abraçá-la?


Em Novembro de 2014 mais um grande ídolo da TV nos deixou, elevando aquele pensamento estranho que nos arrebata todas as vezes que alguém muito importante se vai: Por que tinha que ser assim?

Roberto Bolaños, também conhecido como Chespirito no México, seu país de origem, e o eterno Chaves para os brasileiros, faleceu no dia 28 de Novembro em decorrência de problemas respiratórios agravados pelo uso constante do cigarro ao longo da vida. Com a saúde já bem frágil há algum tempo devido a idade avançada, não eram raros os boatos pela Internet de que ele havia morrido mesmo quando isso não acontecia, e a frase “o Chaves morreu” meio que se tornou uma constante nos últimos anos, embora ela não nos tenha preparado de fato para a notícia verdadeira.


Como toda criança brasileira, imagino eu, esse quem vos escreve também foi um fã do seriado Chaves, e aprendeu a amar o personagem ao longo de tantos anos de reprises ininterruptas do canal SBT, do Seu Silvio Santos. Assim como você que está lendo essas mal traçadas linhas, eu também chorei quando o pessoal da Vila acusou o Chaves de ladrão, também me assustei ao invadir a casa da Bruxa do 71 e descobrir que ela, enfim, não era uma bruxa de verdade e eu também aproveitei as férias em Acapulco. Tantos episódios inesquecíveis, tantas frases marcantes que falo até hoje (quem nunca soltou o “Já chegou o Disco Voador” quando o chefe adentrou o ambiente?) e tantos personagens engraçados que fazem e farão parte de nossas vidas para sempre, tudo magistralmente criado por uma pessoa que tinha uma visão específica do lado humano: A de que a felicidade está nas coisas simples. Como não idolatrar esse pequeno gênio mexicano que com um talento inigualável fez com pessoas do outro lado do mundo o reverenciassem por causa de um humor ingênuo e extremamente inteligente contido nos textos de Chaves e Chapolin?


O título “Chespirito” atribuído a Bolaños é justíssimo, uma vez que significa “Shakespearito”, ou pequeno Shakespeare, criando uma alusão a criatividade inventiva desse engenheiro mexicano que jamais exerceu a profissão onde se formou para se dedicar totalmente à televisão e consequentemente ao humor. Se hoje, crescidos, alguns de nós achamos os episódios de Chaves bobos e ingênuos demais em comparação ao novo humor mais apelativo, agressivo e recheado de palavrões que permeia a mídia em geral, temos que aplaudir de pé o talento de Bolaños em criar personagens e histórias tão cativantes que criaram elos entre gerações. 


Se sua mãe, seu pai, sua tia e seus filhos e sobrinhos gostam igualmente do menino pobre do nº 8 que adora sanduíche de presunto, isso não é por acaso. Não é qualquer personagem que se torna capaz de encantar tanto públicos diferentes ao mesmo tempo como os que ele criou, e isso denota sim traços de genialidade. Eu sei que todo mundo já viu episódios de Chaves e Chapolin o suficiente para uma vida toda, mas pare agora para assistir 5 minutos que seja de qualquer um deles e resista ao teste de não dar sequer um sorriso com o canto da boca.

Vai lá. EU TE DESAFIO!


Chaves, Quico, Chiquinha, Seu Madruga, Dona Florinda, Professor Girafales, Senhor Barriga, Nhonho, Dona Clotilde e tantos outros já se tornaram imortais. Enquanto seus intérpretes envelhecem e morrem, graças a essa lei irrevogável da natureza que nos leva a todos para esse caminho irrefreável, seus personagens são eternos e viverão em nossas mentes para sempre, assim como uma boa música, um bom filme e um bom livro. A arte é imortal, e enquanto choramos a perda desse ídolo de nossa infância, mais um que se vai, deixando-nos esse peso e esse corte em nossos corações, temos o acalanto de saber que, a hora que quisermos, o Chaves estará lá para nos fazer rir, gargalhar, chorar e nos emocionar, e isso com certeza, não vai ser sem querer querendo.


Enquanto você descansa em paz, Chespirito, talvez nós consigamos responder a pergunta que não quer calar: E agora, quem poderá nos defender?

NAMASTE ;’(


PS.: Esse quem vos escreve termina esse texto em lágrimas... PI PI PI PI PI PI!


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