Por volta de 2002, comecei a me interessar novamente pelas HQs após dois anos longe desse universo, e passei a comprar a revista Wizard (hoje Wizzmania) para me interar das novidades (sites de notícias “HQzísticas” ainda não eram populares). Umas das sagas que me interessou e muito foi “Apocalypse” (que no Brasil foi lançada como a "Supergirl de Krypton" nas edições 1,2,3 e 4 da revista Superman e Batman pela Panini), onde o Superman e o Batman se uniam em volta de um mistério que trazia uma possível kryptoniana em rota de colisão com Gotham City. O roteiro era assinado pelo controverso Jeph Loeb e os desenhos ficavam a cargo de Michael Turner (artista falecido em 2008), que fez sua fama rabiscando para a Image Comics. Eu estava de volta às HQs recentemente, o formato americano mensal era novidade (antes eram publicadas apenas minisséries no formato) e pra mim tudo era lindo e belo. Eu até que curtia os desenhos irregulares do Turner na época, achava a Supergirl que ele desenhava uma fofura e hoje me atrevo a dizer que o roteiro do Loeb chega a ser simpático, embora não seja nenhuma maravilha e tenha mais furos que um queijo suíço.
Superman/Batman – Apocalypse é mais uma animação da DC que tira um arco completo das HQs e transforma em desenho animado, e é muito bem executada, como todas até hoje. Vai ser muito difícil você me ver criticar a parte técnica das animações da DC por aqui, porque nesse quesito eles não erram. O que me deixa curioso é, se eles tem os recursos em mãos, porque não ousam em projetos mais emblemáticos como um Entre a Foice e o Martelo (HQ do Superman escrita por Mark Millar), Contrato de Judas (história dos Novos Titãs escrita por Marv Wolfman) ou mesmo Crise de Identidade (de Brad Meltzer)? Os roteiros de Jeph Loeb são pra lá de rasos (não que eu queira profundidade em desenhos animados), mas podíamos ver um longa metragem animado de qualidade ao invés de ter sempre que engolir o mais do mesmo junto com porradaria desenfreada.
“Apocalypse” é a animação mais fiel que já vi de uma história em quadrinhos, embora isso só valha até certo ponto. Bem próximo da metade do filme toda a HQ aparece em cena com levíssimas alterações para tornar o roteiro mais compreensivo. No início, uma locução de TV nos informa o que aconteceu anteriormente ligando inteiramente o começo da história com o fim de Inimigos Públicos (outra animação do qual não fiz review mas que vi), onde o Batman, a bordo de um robô gigante (?) destrói um meteoro de Kryptonita, impedindo o fim do mundo. Depois disso, as pedras verdes se espalham aos milhares pela Terra e o Homem de Aço é obrigado a se confinar na Fortaleza da Solidão a fim de que não seja exposto à radiação mortal do metal alienígena.
Logo em seguida, uma nave despenca dos céus em direção à Gotham e cai no rio onde o Batman recolhe alguns fragmentos de Kryptonita. A partir de então somos apresentados a uma belíssima menina loira (nua) que começa a andar a esmo pela cidade falando um idioma estranho e entrando em conflito com alguns moradores, aparentando ter superpoderes muito similares aos do Superman.
Após adormecê-la e examiná-la em sua batcaverna, Batman chega à conclusão de que a menina é alienígena e que possui os mesmos padrões que o Superman, embora metabolize as propriedades do sol (o que dá seus poderes) de forma mais intensa que o próprio.
Na HQ a desconfiança sobre a veracidade da história de Kara é constante, mas na animação isso nem é percebido, exceto pelas atitudes do Batman que não acredita de imediato que ela seja uma Kryptoniana legítima. A atitude de “paizão” do Superman começa a deixá-lo descuidado, e aliado a Mulher Maravilha, o Batman prepara uma emboscada para convencer Clark a deixar a amazona treinar a inexperiente menina no uso de seus poderes. Embora consternado, ele é obrigado a aceitar, e Kara passa uma temporada na Ilha Paraíso (nome sugestivo para um lugar onde só podem morar mulheres!).
De fácil digestão, a história corre bem animada e carismática até esse ponto, é quando a veia “massa véio” de Loeb começa a falar mais alto. Enquanto as visões da vidente Precursora (uma das moradoras da Ilha) dizem que um futuro estarrecedor ameaça a vida da jovem Kara Zor-El, e a Trindade discute o que deve ser feito da menina, um tubo de explosão vindo de Apokolips se abre diante dos três e traz ninguém menos que o próprio Apocalypse, a criatura alienígena (Kryptoniana!) que matou o Superman.
Os Apocalypses que são trazidos à Terra são cópias mal feitas do original (claro), mas mesmo assim são derrotados com tanta facilidade que chega a causar vergonha. O Batman derrota alguns deles aplicando chutes (!!!) e depois os que restam são pulverizados por uma hiper visão de calor disparada pelo Superman (cujo resultado ficou bem fraco na animação). Quando li “um exército de Apocalypses” lá na extinta Wizard que citei no começo do post, eu imaginei algo muito mais grandioso.
O resultado é que o exército de monstros só serve para distrair a trindade enquanto o próprio Darkseid surge de dentro de outro tubo de explosão e rapta Kara, matando a Precursora no caminho. O senhor de Apokolips leva a garota para seu mundo de olho em seu enorme potencial e a hipnotiza na intenção de torná-la capitã de sua guarda de honra, um bando de mulheres perigosíssimas chamadas de Fúrias que são treinadas pela Vovó Bondade.
Chegando em Apokolips, enquanto o Batman (com os aparatos voadores do Sr. Milagre) enfrenta cães gigantes e parademônios (os soldados de Darkseid), a Mulher Maravilha e Barda enfrentam as Fúrias, sobra para o Homem de Aço resgatar a inocente prima, que agora está sob o domínio de Darkseid.
Na animação, Darkseid realmente vem atrás do Superman, mas em nenhum momento a Supergirl é fulminada. Ela e o Superman são atingidos dúzias de vezes pelos feixes ômega (aparentemente Darkseid esqueceu de carregar as baterias!) e nada acontece a eles (!) fora o atordoamento típico. Ainda mais ridículo que isso, Kara chega a enfrentar Darkseid sozinha (com direito a golpes de Street Fighter que deixariam Chun Li com inveja) e espanca o Senhor de Apokolips. Depois, ela é derrotada. O Superman espanca Darkseid. Depois o Darkseid vence o Superman. Aí a Supergirl espanca o Darkseid... E assim sucessivamente num baita espetáculo “massa veístico”.
Como disse anteriormente e repito agora Superman/Batman - Apocalypse (ainda não sei por quê o nome!) não chega a ser uma animação ruim, mas por se tratar de uma história de Jeph Loeb começa bem, mas tem um fim muito aquém do esperado. De qualquer forma vale por algumas lutas como as de Diana e as Fúrias (outra vez com direito a golpes de WWE!) e o enredo leve que nos faz ter uma certa afeição pela SuperGirl.
Superman/Batman – Apocalypse foi lançado recentemente e pode-se encontrar versões em DVD e em Blu-Ray.
Nota: 7
Já elogiei aqui a competente dublagem brasileira nas animações estrangeiras, e certos filmes são quase que impossíveis de se assistir com suas vozes originais, é o caso de Toy Story, Monstros S/A e Procurando Nemo. Já nos desenhos animados a história se repete e quase toda a equipe que dubla Liga da Justiça e Liga da Justiça sem Limites retorna em Superman/Batman Apocalypse, dando um show de interpretação. Se o longa não chega a ser nenhuma perfeição, o mesmo não pode ser dito dos dubladores.
O carismático Guilherme Briggs volta a emprestar sua voz ao Homem de Aço como aconteceu nos desenhos da Liga e também no longa animado A Morte do Superman, e apesar do Azulão não dar chance para o dublador exercitar sua veia cômica (o que é uma marca nos personagens que dubla), seu trabalho continua impecável, assim como esteve em A Múmia (dublando Brendan Fraser, minha dublagem preferida), em Toy Story (Buzz Lightyear) e em Lost (dublando o Sawyer).
Por trás do Batman está a inconfundível voz de Marcio Seixas que dubla o personagem desde a primeira animação criada para o Batman nos anos 90 após os filmes de Tim Burton (Batman e Batman o Retorno) e do qual sou um grande fã. Quem não se lembra do tenente Frank Dreblin da série Corra que a Polícia vem aí na voz de Seixas? É de rachar de rir.
Completando a Trindade, Priscila Amorim volta a dublar a Mulher Maravilha o que já se tornou uma constante. É difícil imaginar outra voz feminina para Diana que não seja a dela. Seu tom firme mas não menos sexy casa perfeitamente com a bravura da Amazona e a meu ver, só Priscila poderia dublar a personagem.
Para dublar a Supergirl a escolhida foi Fernanda Fernandes, voz pelo qual sou apaixonado desde que ela dublou a Vampira dos X-Men ainda na primeira versão do desenho animado. De lá pra cá, Fernanda dublou praticamente todas as aparições da mutante em todas as mídias, incluindo a versão cinematográfica. O jeitinho angelical da prima do Superman também combinou com a voz levemente rouca de Fernanda. Nota 10!
Para completar minha homenagem aos dubladores do filme, não poderia deixar de citar Carlos Seidl, a voz do eterno Seu Madruga que ficou encarregado de dublar a “bondosa” Vovó Bondade, o braço direito do vilão Darkseid. Seidl é conhecidíssimo no ramo e duvido que tenha alguém que costuma ver filmes, seriados e desenhos que nunca tenha ouvido sua voz. Só pra citar rapidamente alguns dos personagens que ele já dublou vai desde o C3PO da trilogia clássica de Star Wars, passando por Lionel Luthor (pai do Lex) em Smallville até o palhaço Krusty dos Simpsons.
Graças a esses profissionais, vale a pena de vez em quando deixar de ver a versão original de alguns filmes e descansar os olhos das legendas por um tempo. Viva os atores e dubladores brasileiros!
NAMASTE!