24 de maio de 2011

Estudo Errado

"Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)"

O título deste post e os versos que dão início ao texto são da música Estudo Errado, gravada em 1995 por Gabriel o Pensador, e a letra ácida já remetia a problemas graves no sistema de educação brasileiro naquela época. Hoje, quase vinte anos depois, boa parte dos erros de conduta apontados na letra ainda se fazem atuais, e parece que só estamos no meio da ladeira em que a educação em nosso país vem descendo.

Já se discutiu bastante, muita gente já deu sua opinião e muitos questionamentos já foram feitos em relação ao livro Por uma vida melhor da autora Heloísa Ramos que fora aprovado pelo MEC, aquele órgão que, segundo algumas pessoas, é o Ministério da Educação, e eu não poderia deixar de dar as minhas impressões sobre o assunto. O livro, como todo mundo sabe, ou pelo menos deveria saber, em alguns de seus capítulos defende erros de concordância na língua portuguesa como “os livro” e “os peixe”, e ainda considera que não se deve considerar tais flexões linguísticas como erradas e sim inadequadas em certas ocasiões.

Em primeiro lugar é bom deixar claro que no estudo da linguística é cabível perfeitamente considerar outras formas que não as normativas de uso da língua falada. Não adianta ignorar que muitas pessoas falam de forma incorreta e escrevem exatamente como falam e acho válido que haja essa explanação dessas variações como uma forma de estudo. O que me incomodou nessa história, no entanto, é como isso foi passado no capítulo citado. Há um trecho que parece mais tirado de um manual esquerdista de direitos sociais do que de um livro que trata da língua portuguesa: “A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter maior acesso à escolaridade e por seu uso ser um sinal de prestígio. Nesse sentido, é comum que se atribua um preconceito social em relação à variante popular, usada pela maioria dos brasileiros”.

Esse trecho trata a língua portuguesa culta, aquela que deveria ser obrigação de todo brasileiro saber pelo menos o básico, como algo que somente os bem abastados utilizam por fazerem parte de uma classe dominante, e retratar tal pensamento num livro escolar é querer ir um pouco longe demais no aspecto disciplinar.

A generalização nesse caso se faz absurda e posso usar o meu próprio caso como exemplo para provar porquê.

Nunca fiz parte da “classe dominante” e estudei por quase toda a minha vida em escolas públicas, fundamental e ensino médio. Não tive qualquer facilitação no quesito aprendizado apesar de, na época, ter topado com professoras que me fizeram ter gosto pela língua portuguesa, e posso dizer com toda convicção que tudo que aprendi foi graças a meu próprio esforço. Meu português não é perfeito e nem me considero um expert na língua culta, mas no meio em que vivo considero que sei flexionar bem as palavras e verbalizá-las, até porque minha profissão exige que eu saiba me comunicar bem, seja oralmente ou de forma escrita. Eu não fui forçado a aprender o português, aprendi porque considero algo importante na formação de qualquer ser humano que queira viver numa sociedade. Considerar a norma culta da língua como algo que só a classe dominante tem direito a gozo é puramente um argumento pífio diante dos absurdos cometidos no livro, que a meu ver, depõem muito mais contra a arte disciplinar do que a favor.

Não é necessário enaltecer que grande parte da população brasileira trata a língua que se fala na base na pancada, e por conviver com adolescentes e crianças quase que diariamente por dar aula numa escola de informática, eu consigo ver que a utilização da língua portuguesa está cada vez mais banalizada. Muitos dos meus alunos não têm a mínima noção de ortografia, escrevem como falam e às vezes mesmo copiando um texto da apostila conseguem errar. Vêem a palavra certa e digitam errado. Falar de erros gramaticais então é covardia, e isso é uma realidade nos dias atuais. É só frequentar qualquer fórum de discussão na internet para se ter uma ideia do que estou falando.

O que houve de errado entre o período em que frequentei a escola pública e o atual? Os alunos perderam o interesse em aprender? Os professores perderam o interesse em ensinar? Chega a ser assustadora a quantidade de alunos que saem do ensino fundamental sem qualquer noção de interpretação de texto, e o que podemos esperar de um futuro onde os livros ensinam que você deve aprender a forma culta da língua usual em seu país, mas não deve se preocupar em usá-la? Ou que existem várias formas de linguagem, portanto, não podemos considerar errado falar “os livro” e sim inadequado?

Outra coisa que me incomodou foi o fato do texto citar que você pode usar a linguagem “de forma inadequada”, porém deve atentar-se ao fato de que você pode ser vítima de “preconceito linguístico”. Preconceito linguístico?? É claro que no Brasil existe o regionalismo, a criação das gírias em determinados pontos do país torna a cultura linguística muito rica, mas o que se trata aqui é o uso indevido da língua que, no meu ponto de vista, deve ser encarada como uma regra, e a regra, como diria o Arnaldo César Coelho, é clara. Eu não vejo necessidade em se utilizar de meios que venham a driblar algo que é tido como regra e que todo cidadão brasileiro deveria se preocupar, senão qual seria o sentido de se frequentar a escola e ter um professor de português na sala de aula?

A nossa língua é tida como uma das mais difíceis de aprender por um estrangeiro, o que é simples de se comprovar visto que para os próprios brasileiros é algo difícil, mas isso em grande parte vem de sua riqueza estrutural. Dizer que a norma culta continuará a ser utilizada e que o livro não está “desensinando” ninguém não basta se o teor do texto utilizado para afirmar isso continuar tendo um fundo político e ideológico. Conheci muitas pessoas na faculdade, filhos de gente de classe alta, que mal sabiam escrever, e se o faziam causavam vergonha alheia, portanto essa de “classe dominante” é furada. Mais desculpa ainda é afirmar que existem sim pessoas que não tiveram chance de estudar e continuar as tratando como as eternas párias da sociedade, em vez de dar-lhes chances de aprender também. Falar corretamente é um dever de todo cidadão, e tentando proteger essas pessoas menos favorecidas os autores do livro só conseguiram é aumentar mais ainda o abismo que as separa das “classes dominantes” que escrevem e falam corretamente. Se é assim, desculpem leitores, eu faço parte da classe dominante e nem sabia!

Li vários artigos e o próprio capítulo em pauta do livro Por uma vida melhor para ter uma base de argumentação, e juro que tentei entender quem defendeu essa nova forma meio inusitada de ensino. O escritor, linguista e professor da Universidade de Brasília Marcos Bagnos é um desses exemplos de defensores fervorosos que escreveu em seu site a matéria Polêmica ou ignorância? Discussão sobre livro didático só revela ignorância da grande imprensa. Bagnos defende que a imprensa causou alarde por pouca coisa e que a língua portuguesa não possui apenas uma forma dita correta de utilização, e sim várias. Bagnos também alfineta aqueles que consideram a língua portuguesa algo “fossilizado e conservado em formol” e alega que deve haver uma flexibilização maior de seu uso, considerando que sua herança portuguesa (de Portugal mesmo) já não deve mais ser usada como base já que ela sofreu mutações dentro de nossa própria cultura.

Pierre Lucena no post Com vocês, “Por uma Vida Melhor”, o livro mais popular do Brasil no site Acertando as contas, atenta mais para a utilização incorreta de termos ideológicos para defender a ideia de pluralidade linguística, e ainda faz uma crítica à qualidade didática do livro, algo com o qual concordo apenas visualizando a composição gráfica da publicação. Por uma vida melhor apresenta textos corridos de páginas inteiras em tom de redação escolar, e cita exemplos esdrúxulos como os já comentados erros de concordância que agora “nóis pode falar sem medo” (não, isso não tem no livro, é autoria minha).

A autora do livro pode até ter pensado em acertar colocando uma linguagem com o qual o público médio ao qual a publicação se destina se identifique, mas no meu tempo livros eram obras que ensinavam o correto a quem lia, e não deixava em dúvida quando era ou não correto utilizar o que se aprendeu (se é que aprendeu!).

Mais uma vez vejo a educação no Brasil sendo colocada de lado por razões políticas e tomara que eu esteja redondamente enganado e que as próximas gerações saibam fazer bom uso dessas várias e infinitas possibilidades de uso da língua e que essas medidas didáticas não enterrem de vez o que ainda resta do português nosso de cada dia.

E sei que o estudo é uma coisa boa
O problema é que sem motivação a gente enjoa
O sistema bota um monte de abobrinha no programa
Mas pra aprender a ser um ingonorante (...)


Vale a pena também ler a opinião da Camila Silva (minha irmã) sobre o assunto no post Norma Culta do blog Medos Privados em Lugares Públicos. Ela também estudou a vida toda em escola pública e não usa isso como justificativa para "escrevinhar errado".

NAMASTE!

4 de maio de 2011

Review: Thor


Fazia muito tempo que eu não conferia um filme no dia de sua estreia, mas a minha ansiedade nerd em ver Thor falou mais alto e isso fez com que, combinando com uma amiga anteriormente, eu assistisse a estreia na melhor sala de cinema de São Paulo (a sala Cinemark Bradesco Prime do Shopping Cidade Jardim) com direito a sessão 3D.


Como já havia adiantado antes, Thor para mim era o filme de super-heróis (e olhe que esse ano tem bastante deles prontos a pipocar nas telonas) mais esperado do ano, até porque de todos os que tive a chance de ver o trailer, foi o que mais me empolgou. Capitão América me passou a ideia de um filme “aventuresco” de Sessão da Tarde e Lanterna Verde me deu a péssima sensação de que será metido a engraçadão, deixando meio de lado a mitologia do personagem. Mas isso, claro, são apenas conjeturas. Só depois de vistos é que poderei falar com maior propriedade deles. Sobre Thor, o que você tem a me falar, Rodman, pergunta você, jovem padawan. Segue o review.



Juro que durante os primeiros 15, talvez 20 minutos da película eu achei que toda aquela expectativa de meses criada em volta do filme iria por água abaixo e comecei a achar que o 3D seria a única novidade em Thor, dirigido por Kenneth Branagh. É incrível a profundidade que qualquer cena ganha com o recurso 3D, que (res)surgiu para dar uma sobrevida ao cinema, uma vez que a pirataria vinha arrancando cruelmente os espectadores da sala de cinema (não consigo entender quem prefere ver filme pirata de péssima qualidade em casa na TV de 29 polegadas em vez de ver no cinema). Tudo ganha uma grandiosidade absurda na tela até mesmo as cenas mais, digamos assim, cotidianas, mas só quando eu parei de me deslumbrar com o efeito é que comecei a perceber as virtudes do filme.


A qualidade massiva que é aplicada ao filme devido o efeito 3D me fez perceber em muitos casos que o CGI ainda não é perfeito, mesmo depois que James Cameron provou com seu Avatar, que podemos sim acreditar que um personagem criado por computação gráfica possa parecer real. Talvez isso tenha sido o fator que mais me incomodou nos primeiros minutos de filme. O começo da história nos transporta para Asgard, o mundo dos deuses da mitologia nórdica e é impossível tentar representar algo tão infinitamente grandioso sem a ajuda dos efeitos especiais. Vemos uma guerra entre gigantes do gelo e os deuses em plena Midgard (Terra) e a batalha épica entre as duas raças, embora breve, mostra que a extensão do CGI ainda limita algumas cenas de ação para quem tem um olho mais apurado para esse tipo de coisa. Como designer gráfico, felizmente (às vezes infelizmente), aprendi a ver os defeitos das cenas antes de me empolgar com os acertos e isso explica a má impressão que o filme me causou de início.


Gostei do chamariz que o filme apresentou antes de nos levar para Asgard e isso ajuda a instigar o público a querer saber mais. À princípio não vemos Thor (Chris Hemsworth), seu pai Odin (Anthony Hopkins) ou qualquer outro asgardiano, e sim a mortal Jane Foster ( vivida pela oscarizada Natalie Portman) e sua equipe de astrônomos Darcy (Kat Dennings) e o Professor Andrews (Stellan Skarsgard), que investigam os céus em busca de fenômenos que fogem aos padrões comuns da ciência. Um passeio de carro em direção aquilo que se assemelha a um imenso tornado culmina com uma pancada, e um homem é atropelado pela equipe, dando o mote para as especulações. Os leigos, claro, não devem imaginar do que se trata, mas aqueles que estão ali para ver a história do Thor já sabem do quem se trata o infeliz atropelado.
A primeira cena já causa os mimimis inicias por parte dos nerds, já que é óbvio que essa versão da Jane Foster não é uma simples enfermeira, como ela o é nas HQs. Afinal, o que estaria fazendo uma enfermeira correndo atrás de tornados? Aiii, nem está igual à HQ. Odeio esse filme, mimimizam os fanáticos. É muito mais verossímil essa característica de Jane Foster pelo fato de que Thor é um cara que tecnicamente veio do espaço (se considerarmos Asgard outro mundo). Se ela fosse uma simples enfermeira, seu personagem teria muito menos serventia na trama e seria necessário o acesso imediato do Doutor Donald Blake, que nas HQs é o corpo mortal digno de deter o poder de Thor e interesse romântico da moçoila. Sendo ela uma cientista que estuda fenômenos astronômicos, fica mais crível que ela consiga entender que um deus caiu na Terra.


Antes que eu viaje muito e deixe os leitores loucos com minhas explicações HQzísticas, devo enfatizar que Kenneth Branagh consegue desenrolar toda essa transição do mundo dos deuses para o "mundo real" com maestria, uma vez que ele só tinha duas horas de filme para fazer isso. A trama fica corrida? Fica, mas não haveria outra forma de mostrar ao público médio o que é Asgard, quem é Odin, quem é Thor e porque ele é jogado na Terra sem um pouco de aceleração de frames.
Depois da rápida apresentação de Jane e seus amigos, vemos Asgard e a guerra antiga entre dois dos mundos (na mitologia nórdica há oito mundos além da Terra) Jotunheim e Asgard pela conquista dos mortais, e a guerra termina com a vitória de Odin e seus comandados, o que cria uma espécie de trégua forçada entre ele e o líder dos gigantes de gelo, Laufey (Colm Feore). Mais tarde vemos Thor e seu irmão Loki ainda crianças apresentando ambições ao futuro trono de Asgard e numa passagem de tempo rápida já somos apresentados a Chris Hemsworth na pele do deus do trovão, sendo agraciado com o título de príncipe e, portanto, o sucessor legítimo de Odin.

Uma invasão de gigantes do gelo ao reino no momento da celebração de Thor ocorre, colocando em xeque a segurança criada pelo pacto entre Odin e Laufey, e é necessário que o Destruidor, uma máquina movida por magia asgardiana, cesse a invasão. A partir de então, a discórdia é inserida no coração da família Odinson, Thor vê a necessidade de uma retaliação pelo ataque, surgem dúvidas de como os gigantes passaram pelo guardião de Bifrost (a ponte do Arco-Íris que é uma espécie de passagem entre os mundos), guardada por Heimdall (Idris Elba) e Odin prefere manter-se cauteloso.


Quando Loki (Tom Hiddleston) usa de seu poder de persuasão sobre o irmão, que por si só já possui um espírito inquieto (saca o filhinho de papai que tem tudo e acha que é o rei do mundo? Então), Thor rapidamente decide ir contra as ordens do pai de atacar Jotunheim, e junto dos três guerreiros Fandral (Josh Dallas), Hogun (Tadanobu Asano) e Volstagg (Ray Stevenson, o Justiceiro do 2º filme irreconhecível por baixo da maquiagem), mais a guerreira Sif (a belíssima Jaimie Alexander) ele parte para confrontar os gigantes do gelo pela invasão ao reino de Asgard e pela tentativa de reaver a caixa do Inverno Eterno, artefato esse que havia sido tomado dos gigantes numa antiga guerra.



Assim como um pittboy que vai para a balada, que arruma encrenca e que precisa ligar para o papai ao final da noite para tirá-lo do enrosco, Thor acaba vendo que seu ato inconsequente estava além de suas capacidades e não só expõe os amigos ao risco de morte como também ameaça acabar com a paz selada entre seu pai e os bonecos de Olinda congelados. Avisado por Heimdall, o guardião que não é o Google, mas tudo vê, Odin acaba sendo obrigado a resgatar o filho inconsequente, os três guerreiros, Lady Sif e Loki de uma briga que eles não poderiam vencer (não disse que era como um pittboy e seu pai rico?), e chegando em Asgard, após uma briga ferrenha entre pai e filho, o senhor de Asgard decide banir Thor da cidade reluzente, retirando todos seus poderes, tornando-o indigno de seu martelo Mjolnir e lançando-o na Terra, sobre os protestos (falsos) de Loki e da sua mãe Frigga (Rene Russo), no caso dela, protestos verdadeiros.


A batalha entre Thor e seus amigos contra os picolés superdesenvolvidos é grandiosa e nos dá a primeira mostra de que o CG pode sim (e deve) ser usado com extrema perícia. A luta é muito movimentada e temos uma boa dose de ação para esquentar o clima e fazer-nos mexer inquietos na poltrona. Pela primeira vez temos a sensação de que há algum peso em Mjolnir, já que na cena inicial (a que Thor está prestes a ser coroado príncipe) seu martelo mais parece o do Chapolin de tão leve. A primeira grande metade do combate coloca o herói nórdico e seus amigos em larga vantagem contra os gigantes do gelo, e nos deleitamos com belíssimos efeitos especiais enquanto Thor usa e abusa de seu vasto poder. Ele arremessa o Mjolnir, ele bate o martelo no chão provocando ondas de choque, gira a arma com a alça provocando furacões (achei esse efeito bem meia boca pelo fato de que não parece que o ator está girando o martelo e sim que ele está girando sozinho em sua mão) e até mesmo voa em alta velocidade tal qual um Superman.

Pronto. Suficiente para causar orgasmos nerds. Em pouco tempo a plateia é recompensada por ótimas cenas de ação ao estilo Senhor dos Anéis, além de conhecer do que o deus do trovão é capaz. Nota 8 para essa cena pela criatividade do combate. Ainda sou meio chato com o CG e não o acho perfeito.


Por ser um deus arrogante, mesquinho e inconsequente, Thor é castigado por seu pai a viver como um mortal em Midgard, dessa forma, com todas as fraquezas e limitações de um ser humano, ele é obrigado a conviver com algo que ele desconhece: a falta de poder e a humildade. É quando o destino o coloca no caminho de Jane Foster, após sair de um vórtice transtemporal que o conduziu de Asgard até ali, e que ela acredita ser, até então, apenas um fenômeno inusitado.


Vale lembrar que nas HQs, Thor não é jogado em sua forma física diretamente na Terra. Seu poder é trancafiado no poderoso Mjolnir e só quem for digno de receber tal poder pode erguê-lo e assumir a forma de Thor, o que acontece com o frágil e coxo Doutor Donald Blake. No filme, o doutor é citado apenas como um ex-namorado de Jane, mas não chega a aparecer ou conter o poder de Thor. Também acho essa alternativa mais viável. Essa história de um ser frágil conter o poder de um deus é muito anos 60. Sem falar que já temos o Capitão Marvel (o Shazam da DC) com esse mesmo mote. Ter um cara que caiu na Terra banido de seu mundo e que terá que reaprender a conquistar o direito de ter seus poderes é muito mais crível, na minha opinião. Ponto para a adaptação de Branagh.
Em vez de criticar as escolhas dos diretores pelas adaptações aprendi a entendê-las antes de tudo como algo funcional para a história, e com Thor, as liberdades artísticas do diretor são em certo ponto, necessárias para que a trama seja plausível.
Thor não é um filme que chega a surpreender, até porque eu já conhecia a história antes mesmo dela ser transposta para as telonas. O mais interessante é assistir a forma como cada evento é colocado e as soluções que a produção encontra para o desenrolar da trama, sem grandes pontas soltas e nem nada que exija muito da sua massa encefálica (não que seja um filme descerebrado). As interpretações estão dignas de elogio, apesar de se tratar de um filme Blockbuster. Natalie Portman faz seu papel e pronto. A Nina de Cisne Negro não está presente, e Natalie interpreta uma Jane Foster fiel ao que ela se propõe ser, nem a mocinha em perigo e nem a heroína corajosa, mas sim uma personagem possível de existir no mundo real e que faz com que o herói tenha um sentido em sua jornada.

Anthony Hopkins está perfeito como Odin. Seu tom de voz vai do sereno ao grave em instantes, e podemos sentir toda a imperiosidade de um deus quando ele atinge tal evolução. O personagem de fato, nos passa uma sensação de fragilidade em alguns momentos apesar da coragem de banir seu próprio primogênito em detrimento de suas ações, mas a cena em que ele “desmaia” o que anuncia que ele caiu no Sono de Odin mais me pareceu que ele sofria de narcolepsia! Pelo que conheço da história, o Sono de Odin era algo voluntário que o soberano usava para repor suas energias, e não um chilique sem aviso que o derruba enquanto ele bate um papo com o filho bastardo.


Chris Hemsworth está muito bem no papel de Thor. Fisicamente ele se parece com um deus nórdico (os descritos nos livros e o próprio deus do trovão da Marvel), tem a altura e o tipo físico exato, e, além disso, é bom ator, convencendo tanto em cenas de ação quanto em cenas de alta dramaticidade, quando, por exemplo, ele percebe que não é mais digno de empunhar Mjolnir e caí numa espécie de derrota pessoal (mais ou menos como uma broxada na Hora H). Certos personagens de quadrinhos quando são transportados para o cinema, em especial aqueles que levam o título do filme, precisam ser uma massa de músculos, mas que consigam desempenhar um bom papel dramático. Se havia alguém que duvidava que isso existisse até então, Hemsworth está aí para provar o contrário.


Se eu fosse apontar um elo fraco no filme eu diria Tom Hiddleston, mas acho que não estaria sendo justo com o ator, uma vez que foi o seu Loki que não me agradou e não sua atuação em si. Me acostumei a ver um Loki nas HQs que usa seu poder de persuasão para causar situações que o beneficiem. Até aí o Loki de Hiddleston faz isso, só que nas HQs, o deus da trapaça é um personagem que causa a nossa ira, alguém desprezível que percebemos estar fazendo aquilo acima de tudo para satisfazer o próprio ego. O Loki de Hiddleston mais parece o irmão caçula invejoso que quer o lugar do irmão mais velho e fica de birrinha por conta disso. Todas essas características estão incutidas no personagem Loki, claro, mas me incomodou a forma como isso foi transposto. Havia maldade por parte do traiçoeiro, mas quando este fala para o Thor que “só queria ser como ele” me pareceu demasiadamente forçado. Achei que a maré viraria quando ele sugere que Laufey (seu verdadeiro pai, para quem não sabe e não se importa com SPOILER) mate Odin a fim de que ele fique com o trono de Asgard, uma vez que o verdadeiro herdeiro está exilado, mas a cena do combate final entre os meio-irmãos põe tudo a perder. Como apresentação do personagem, no entanto, é válido, mas em um futuro desenrolar da história gostaria de ver Loki agindo mais na maldade mesmo, em vez de estar fazendo tudo por invejinha como um colega de firma que quer te derrubar para ficar no seu lugar.


Vale ressaltar que as participações de Idris Elba, Josh Dallas, Tadanobu Asano , Ray Stevenson e Jaimie Alexander são figurativas no quesito enredo, uma vez que eles desempenham um papel pequeno. Todos têm, no entanto, uma cena marcante, e boa parte do humor incutido no filme aparece quando eles estão presentes. Na própria HQ, o grandalhão Volstagg (Stevenson) é o alívio cômico, e não são raros os momentos em que seus próprios colegas Fandral e Hogun o auxiliam nessa tarefa. Lady Sif apenas deixa no ar, no filme, certo interesse romântico pelo deus do trovão, o que é bem claro nas HQs (ela é a esposa de Thor), enquanto é de Heimdall a melhor cena de humor no filme, quando ele convoca os três guerreiros e Sif diante do portal da Bifrost para indagar-lhes se eles estariam dispostos a resgatar Thor de seu exílio. A essa altura, o guardião que tudo vê já desconfia das reais intenções de Loki, que obviamente, ascendeu ao trono com o Sono de Odin, e com apenas um único sim do quarteto ele dá a reunião como encerrada, enviando-os sem autorização para a Terra, atrás de Thor. Contando assim não tem graça nenhuma, mas a cena é hilária e nos faz lembrar que o bom e velho Heimdall bem que podia dar uma dessas de vez em quando nas HQs.


Enganado pelo meio irmão, exilado de seu mundo e privado de seus poderes pelo próprio pai, Thor acaba aprendendo que seu poder não lhe dá o direito de ser melhor que os demais e nem tampouco passar por cima de regras (algo que o Homem Aranha já sabia), e a humildade é algo que ele adquire no convívio com Jane e seus amigos Darcy e Andrews (uma surpresa grande envolve o personagem, mas falar disso é sacanagem). Assim, Loki não satisfeito apenas com o trono de Asgard, envia a máquina de destruição criada por seu pai para a Terra, a fim de que ele elimine o meio-irmão, e o embate entre os aliados de Thor e o Destruidor se torna a cena mais empolgante do filme em especial com seu desfecho arrebatador em que o poderoso Mjolnir retorna a responder seus chamados e lhe devolve os poderes.


Toda a trama do filme é bem amarrada e tudo acaba funcionando bem, em especial a ligação da SHIELD com a aparição desses novos elementos (quem não lembra da cena pós-créditos de Homem de Ferro 2?), a citação de Bruce Banner por Andrews e a rápida, porém reveladora aparição de Clint Barton (Jeremy Renner) o Gavião Arqueiro em meio à captura de Thor. Os planos da Marvel para seus personagens são grandiosos, e eu como um fã alucinado por quadrinhos tenho delirado com toda essa movimentação entre os filmes que culminarão no esperado lançamento dos Vingadores.
Thor é um filme muito bom para ser assistido sem preocupação, seja você um entendedor de quadrinhos ou não. Ver ao lado de um leigo no assunto pode ser um bom termômetro para avaliar o quão o personagem envolve as pessoas que não sabem nada do assunto, e talvez eu volte ao cinema para conferir isso, já que minha amiga já estava bem antenada sobre mitologia nórdica e também sobre quadrinhos. Assista ao filme sem medo. Efeitos especiais ou interpretações não serão um problema para você. Curta ao máximo.

NOTA: 8


Destaque também para a trilha sonora da película que conta com uma das faixas do novo CD (aguardado) do Foo Fighters Wasting Light e a música é Walk, que toca quando Thor conversa num bar com o Profº Andrews e depois dos créditos.
Falando em créditos, nem pense em levantar seu traseiro gordo da poltrona antes dele terminar. Como já virou tradição nos filmes da Marvel, tem cena pós-crédito.

NAMASTE!

28 de abril de 2011

Top 10 - Melhores jogos da Década de 90


Em toda a minha não tão longeva vida eu só tive um vício, e hoje curado dele eu posso falar sobre isso abertamente.

Fui um dependente eletrônico por vários anos de minha vida e passei boa parte da adolescência e do começo da fase adulta varando madrugadas de sábado para domingo e perdendo fins de semanas inteiros enfrentando adversários invencíveis e fantasmas nas mais cruéis sarjetas. Eu era tão viciado, que meus familiares chegaram a cogitar internação numa clínica de reabilitação para dependentes como eu, a JA (Jogadores Anônimos), mas mesmo sem nunca ter frequentado uma reunião se quer do grupo, hoje estou curado, livre do vício, e só jogo socialmente. Estou aqui para compartilhar minha experiência com todos os jogadores anônimos que assim como eu, foram ou ainda são VICIADOS EM GAMES!


Claro que não posso dizer que foi uma fase ruim da minha vida essa do “vício”, e posso confessar que adorava passar horas e horas esfolando os dedos no joystick do Super Nintendo ou nos controles dos fliperamas do shopping. E quem não gostava?

Conheci os prazeres dos fliperamas ainda na época da escola, e jogos como Street Fighter e Mortal Kombat ainda eram novidades em muitos lugares do Brasil. Só muito mais tarde é que pude desfrutar do conforto de ter um vídeo game em casa (meu velho Super NES ainda repousa tranquilo no quarto) e aqueles foram os melhores momentos de uma adolescência solitária depois das aulas.




Na época em que o SNES chegou para alegrar meus dias, curiosamente, minha irmã mais velha trabalhava numa hoje extinta vídeo locadora, que não menos curiosamente, alugava cartuchos de SNES. Era comum que os clientes chegassem reclamando que as fitas não estavam funcionando ou que estivessem empoeiradas (lembra da técnica do assopro?), e vou confessar um trauma terrível que tenho desde então: eu tinha que testar um por um dos cartuchos em casa. Cara! Que coisa terrível!



Nem preciso dizer o quão sacrificante era ter que testar (jogando, claro) aquela pilha de 5 a 10 cartuchos semanalmente, e como era chato descobrir que a grande maioria deles, não tinha nenhum problema, funcionando perfeitamente! Que tédio!

Joguei nesse período MUITOS títulos de games. Tinham jogos ruins de dar dó dos quais nem me recordo os nomes ou o intuito, mas a compensação é que tinha muita coisa boa no meio, e isso fez com que eu queimasse uma TV de 20” de tanto que castiguei a coitada deixando-a ligada por horas ininterruptas sem pausas para descanso. Sem sombra de dúvidas aquele foi o melhor “trabalho” não-remunerado que já fiz na vida, embora o termo “não-remunerado” não se aplique exatamente ao caso. Quer melhor remuneração do que “ser obrigado” a ficar testando jogos de vídeo game durante tardes inteiras? Bons tempos que não voltam mais!




A seguir a lista dos 10 jogos mais importantes (para mim) da melhor década de todas: a década de 90!


Um dos jogos que chegaram a mim por meio do trabalho de minha irmã na tal locadora de vídeo foi Batman e Robin (esses dias baixei a ROM no PC para matar a saudade) produzido pela Konami em 1994. Esse jogo veio para aproveitar o sucesso criado pelo desenho animado do Homem Morcego, que nos idos dos anos 90 era simplesmente a melhor coisa que existia em matéria de super-heróis (se desconsiderarmos os desenhos dos X-Men, claro).



Me lembro que games de missão me davam um tédio desgraçado, ainda mais quando eu tinha sérias dificuldades em passar uma fase ou outra, mas Batman e Robin (até hoje não sei porque o nome “Robin”, porque até onde joguei o infeliz não aparece) foi uma grata surpresa, uma vez que era um jogo bem viciante e que te instigava a tentar, tentar e tentar até que seus dedos perdessem a sensibilidade no controle.




As missões não tinham nada de muito complexo e nem exigiam tanto de seu tutano, mas devido a própria jogabilidade do game (ou falta de), alguns movimentos ou estratégias eram extremamente difíceis de se executar. Em alguns casos pular de uma parede para outra ou de uma árvore para outra (como na fase da Hera Venenosa) exigia determinação do Batman (ou do infeliz que o conduzia) e perdi a conta de quantas vezes despenquei de árvores e prédios para a morte certa. Pobre Bruce Wayne! Sofreu em minhas mãos!



Apesar da simplicidade das telas, o jogo possuía fases muito bem elaboradas que exigiam certa cautela e atenção para que se conseguisse chegar até o seu objetivo (a conquistaaa!!). Os personagens também eram bem cuidados (graficamente eles tinham a aparência dos desenhos de Bruce Timm da animação do Batman) além de conter suas características básicas. O Coringa, por exemplo, era o mesmo filho da puta de sempre e não havia nada que me deixasse mais fulo do que ver o palhaço rindo da minha cara sobre um carrinho de montanha russa depois que eu enchia o lazarento de porrada.
Sua fase exigia basicamente que você tivesse bons reflexos para desviar de obstáculos que surgiam em alta velocidade a sua frente (percorrendo uma Montanha Russa) e bombas voadoras que o Coringa arremessava pra te ferrar. Ao fim da fase bastava você correr de um lado para outro dividindo um carrinho com o palhaço, enchê-lo de porrada e vê-lo fugir impassível, após dar boas gargalhadas do seu desempenho pífio em arrebentá-lo. É ou não é pra terminar uma fase frustrado?

Em tempos, jamais consegui fechar o jogo, e me lembro que cheguei com muito custo na fase do Pinguim e de lá não saí mais. Não havia aqueles sites de dicas de games na época e as revistas eram caras demais, por isso ou era na raça ou desistia do jogo.

Nunca fui muito bom com a bola no pé nas aulas de educação física, então era de se esperar que eu resolvesse essa frustração no vídeo game, certo?

Errado.

Não consegui ser um Ronaldinho Gaúcho nem nos consoles, mas vivi momentos de disputas intensas com meu irmão na sala de casa com o sensacional International Super Star Soccer!
No meio dos anos 90 não havia nenhum game de futebol que se equiparasse a esse clássico tanto em gráficos quanto em jogabilidade (pra ver como a gente se contentava com pouco naquele tempo) e o Super Star já tinha a característica que hoje é comum em games do gênero de ter jogadores famosos representados em seus bonequinhos digitais. Quem nunca fez um golaço com o Rivaldo ou aplicou um drible de dobrar a espinha do adversário com o Ronaldinho (que na época ainda era “inho”) Fenômeno?

Os controles eram simplórios até: botão de passe, chute, passe longo, corrida e ofensiva (para tomar a bola do adversário), mas não é que eu sempre errava essa porra? Quantas vezes não cheguei na cara do gol após deixar meio time inimigo no chão e na hora de bater pro fundo da rede isolava a bola para fora do estádio? Nem preciso dizer o quanto eu era zoado por meu irmão nessas horas!


Levava-se tempo até que eu pegasse o jeito para a coisa e não me confundisse mais com os botões, criando até jogadas de efeito como bicicleta, pedaladas e embaixadinhas (o que irritava tanto meu irmão que eu sempre tomava um carrinho depois!). Sem falar no sistema de replay dos gols. Eu sabia até fazer esquema de tira-teima colocando o lance em câmera lenta, de trás pra frente e pausando. Só faltava o Arnaldo César Coelho comentando a jogada! Era muito profissional.

O que mais irritava no Super Star Soccer era aquela narração “chicana” dos infernos. Não sei se a versão que eu jogava era pirata ou sei lá o que, mas era duro aguentar aquele narrador gritando “ééscanteio”, “Tiro! Periiigo” com aquele sotaque castelhano. Às vezes dava vontade de mandar um Calaboca Galvão no miserável.


Bom mesmo eu só fui jogando Super Goal, um game toscaço produzido pela JALECO (?) que veio num cartucho de 10 jogos com o Super NES. Era o único jogo de futebol que eu conheci que mostrava a tela em perspectiva em vez de mostrá-la na lateral, como é comum em jogos do tipo, mas nesse eu era fera.

Fazia gol de todas as formas (até porque só deviam ter umas três possibilidades da bola entrar) e fui campeão do mundo com diversas seleções, chegando a ser hexa com o Brasil e ganhar mais de dez jogos com o terrível time irlandês. O goleiro deles era muito frangueiro. Aceitava qualquer chute de média distância.

Destaque para os nomes dos jogadores. Na seleção brasileira tinha a dupla de ataque “Flora” e “Fauna” e no time americano (que era o de melhor jogabilidade, por que será, né?) tinha o Jordan e o Pippen. Alguém consegue imaginar a dupla que fez história no Chicago Bulls arrasando nos gramados por aí? Eu não.

X-Men - Mutant Apocalypse me viciou de uma forma tão intensa que eu não desisti dele enquanto não zerasse. Foram horas e horas e mais horas de várias tentativas levando Ciclope, Wolverine, Gambit, Fera e Psyloque da Sala de Perigo até os confins do espaço no Asteróide M de Magneto.

X-Men estavam em seu auge na década de 90. Tinha um dos melhores desenhos animados na TV, fazia um sucesso estupendo nos quadrinhos com a dupla Claremont e Jim Lee e como se não bastasse, possuía um jogo redondinho, gostoso de jogar e com uma história muito vibrante cujas fases remetiam aos mais clássicos inimigos da equipe mutante.

Na primeira fase escolhemos um entre os mutantes citados acima (os melhores na minha opinião) e encaramos uma missão solo contra agentes mercenários a serviço de sabe-se lá quem. Até hoje tenho para mim que são agentes da Hidra, apesar do logotipo do grupo terrorista não aparecer nenhuma vez, mas wathever.

É importante frisar que você não vai a lugar nenhum se não passar pela fase individual de cada mutante. As mais fáceis eram a do Gambit e do Wolverine.

Por sinal, era extremamente prazeroso sair fatiando os bandidos pela tela com o Carcajú até chegarmos a uma imensa cabeça de Sentinela que ficava a disparar raios ópticos em você. O bacana é que os disparos tanto podiam acertar você quanto os soldados que ficavam a te encher o saco, mas não exigia muito esforço acabar com o robô gigante. Afinal, na pele de Wolverine, você também é o melhor no que faz!

A fase do Ciclope exige paciência e uma boa mira, já que é feita para que você vença os inimigos mais na base das rajadas ópticas do que na mão, e no fim ele tem apenas que destruir um veículo ridículo que de vez em quando dispara mísseis em você. O líder dos X-Men merecia um desafio maior do que esse.

Fera e Psyloque têm as fases mais cascas-grossas, sendo que o peludo no final tem que encarar nada mais nada menos do que três Sentinelas e a gostosa encara um Sentinela gigante extremamente filho da puta. Não foram raras as vezes que me vi ferrando a missão da equipe ao morrer na fase da Psyloque e ter que começar tudo de novo!


Após passar a fase individual, todos os personagens recebem a missão de deter a rainha alienígena da Ninhada (os Aliens do universo X-Men) e você pode escolher com qual dos X-Men quer encará-la. Ninguém é melhor do que o Gambit nessa empreitada, já que ele pode se manter a distância para atacar (arremessando suas cartas explosivas) e ainda tem um dos mais potentes pontapés entre os heróis, que servem para abrir caminho pelos filhotes da Ninhada que adoram pular em seu pescoço e arrancar sangue. Depois de matar a Rainha dentuça encaramos fases menores com adversários menos poderosos como um tal de Tusk (uma criatura nojenta que fica “parindo” anõezinhos irritantes que grudam em você e te paralisam) e até projeções na Sala de Perigo do Omega Red e do Fanático.


Quando derrotamos todos esses buchas, somos obrigados a encarar ninguém menos do que o vilão título do game, o próprio En Sabah Nur, numa daquelas que eu considero ser a mais divertida e cheia de adrenalina fases do jogo. Até chegarmos ao Apocalypse encaramos de tudo, desde montanhas de lava que correm atrás de você a soldados brutamontes que te destroncam com uma porrada. O próprio Apocalypse é dificílimo de enfrentar, uma vez que ele fica se teletransportando e arremessando lanças e esferas pontiagudas contra você. Em alguns casos pular para cima é inútil já que ele também cobre o corpo de espinhos para que você caia sentado em cima (ui) e ficar esperando ele tomar a ofensiva é mortal porque o cabra se teleporta e surge atrás de você para te detonar com uma broca que tira toda sua vida (mesmo que a barrinha esteja cheia).

Como eu venço En Sabah Nur? Apelando nas rajadas ópticas do Ciclope, claro.

Esse com certeza era um dos jogos mais completos para quem se dizia fã dos personagens da Marvel e que na época não tinha lá grandes incentivos em matéria de games. Até hoje me divirto jogando a ROM no PC de vez em quando. Perto desse, o jogo da Liga da Justiça não passava de um jogo de Atari.


Quando esse jogo chegou aos fliperamas que eu frequentava, causou um frisson que até então só tinha sido sentido com o lançamento de Mortal Kombat.

Killer Instinct tinha na época, o visual mais animal e assustador dos games, e a molecada se estapeava para assumir os comandos diante da máquina, consumindo fichas e mais fichas.
Eu mesmo me arrisquei poucas vezes a encarar nos fliperamas os desafios desse jogo que marcou o início da fase 3D e começou a tornar obsoleta a boa e velha jogabilidade 2D, mas me diverti bastante em casa no Nintendinho, que por motivos óbvios, tinha uma qualidade infinitamente inferior ao visual dos arcades devido sua limitada placa de 16 Bits.

Eu viajava na história do jogo e em seus personagens ultra-realistas. O visual era com certeza o carro-chefe da produção, até porque eu não gostava tanto da desenvoltura dos ataques e dos combos (que eu não sabia fazer direito, exceto os da Orchid).

Os personagens se movimentavam de forma meio dura (a Orchid, única mulher do game, parecia que estava assada pelo jeito que andava), mas era inegável que em plasticidade eram insuperáveis. O melhor de KI eram os golpes e magias que eram disparados sempre com muita iluminação e efeitos sonoros de primeira.

Além disso, a movimentação da câmera que hora ou outra se afastava da peleja te dando uma noção mais explícita dos cenários era algo totalmente inovador. Como esquecer os graves COMBO BREAKER e os gritos animalescos do Sabrewolf? E dos grunhidos assustadores do Fulgore e do Spinal? Desculpem o termo, mas era foda! Está aí um jogo que causou uma revolução nos ânimos dos viciados colegas de JA.

A molecadinha de hoje em dia já está acostumada com os títulos de Tekken, mas esse jogo foi lançado em 1994 para arcades e demorou-se até que ele chegasse aos consoles do Playstation. Obviamente o game causou um furor incomparável nos velhos amantes de jogos de porradaria desenfreada e eu me incluo nessa categoria. Confesso que me divertia bastante vendo a galera se matando diante da tela do jogo enquanto uma verdadeira multidão se formava em volta seja para gritar “próximo” ou só pra apreciar uma boa pancadaria.


Tudo em Tekken era exagerado. A altura do som que animava os rounds era ensurdecedor, a complexidade de certos ataques era absurda e o design dos personagens era inovador, mas o melhor eram os golpes e a dificuldade mega super Power de executá-los completamente. Eu pirava vendo o King agarrando o adversário e quebrando-o de variadas formas diferentes contra o chão, de forma que deixaria Zangief com vergonha. Sem falar na agressividade do Yoshimitsu e na versatilidade do Law, o Bruce Lee do jogo.

A meu ver, e eu posso estar enganado porque apesar de ser um ex-viciado eu nunca fui exatamente um expert em jogos eletrônicos (assim como você pode ser viciado em sexo e não necessariamente ser um amante latino), Tekken é um jogo muito intuitivo. Você pode até saber de cor uma porrada de agarrões do King ou ter em mente uma sequencia inteira de golpes executáveis, mas intuição sempre me ajudou muito enquanto eu me mantinha com o controle nas mãos.

Já apliquei combos incríveis sem nem saber o que tinha feito, e perdi para muita gente que tinha menos noção ainda do que estava fazendo, portanto, na minha opinião, Tekken é um jogo fantástico exatamente por isso: simula o que você seria de verdade se você fosse um lutador, ou seja, alguém que na hora vai improvisar e acabar jogando sujo.

Parem tudo que agora eu vou falar do melhor jogo de missão EVER. Cadillacs and Dinosaurs, ou Cadillac Dinossauro, para os íntimos, lançado pela CAPCOM e que nunca chegou a nenhum console caseiro (pelo menos não que eu tenha sabido).

Se eu disser que sei a quantidade de dinheiro que já gastei em fichas tentando chegar até o fim desse jogo estarei mentindo, porque com certeza foi uma pequena fortuna (pra época, já que o dinheiro não era meu). Claro que deve-se levar em conta que as fichas no fliperama custavam R$ 0,25, mas em tempos de vacas magras eu economizava tudo que tinha para comprar as edições mensais do Homem Aranha.

De todos que citei, esse é o jogo mais chato de se jogar sozinho, até porque as missões de Mustapha, Jack, Mess e Hannah são feitas para serem cumpridas em parceria e o bacana era mesmo ter alguém ao lado, nem que fosse para roubar-lhe o hambúrguer bônus ou passar-lhe o rodo só de sacanagem.


Quem nunca sentou o braço no parceiro de jogo só de farra? O bom era que não tirava vida, então era tranquilo.

Por mais que o título infame do jogo remeta a coisas bizarras tipo surubas com animais, Cadillacs e Dinossauros era um jogo incrivelmente divertido e que viciava como nenhum outro. Era comum ver um moleque berrando em frente à máquina quando conseguia pegar um fuzil em meio ao tiroteio (fuzis eram raros no jogo e só apareciam de bônus quando se atingia uma pontuação bem alta), e era comum ver a galera quase tendo orgasmos enchendo dinossauros e atiradores de facas de tiros de UZI.


Não era nada realista como um GTA, claro, mas ali em nosso mundo 2D era extremamente gratificante explodir um cara com uma granada ou encher aqueles gordões lazarentos que derrubavam a gente como pinos de boliche dando-nos ombradas dignas de quarterback, de socos e pontapés.

Mustapha era um jogador insuperável no quesito resistência e força, além de ter os golpes mais potentes. Se você queria mesmo seguir em frente e não fosse um viciado filho da puta no jogo, era proibido pegar a Hannah, já que a galera inimiga parecia sentir prazer em escrotizar a gostosinha. Não sei se era impressão, mas os vilões pegavam mais pesado com ela e nem a primeira fase eu conseguia passar. Sem falar que qualquer assopro derrubava a coitada.


Entre as coisas mais interessantes de se jogar Cadillacs em dupla era a disputa que rolava para ver quem ia pegar o Mustapha primeiro e quem iria dirigir o Cadillac na 3ª fase, uma vez que o controle estava livre para que qualquer um assumisse o volante. Se meter chumbo nos bandidos era bom, imagine sair atropelando geral pelo meio do deserto e bater na traseira de um motoqueiro maluco que ficava arremessando granadas no seu possante? Não tinha coisa melhor!


Lembro da festa que eu e meus amigos fizemos a primeira vez que zeramos o jogo. Hoje em dia até acho o jogo fácil, apesar de ainda morrer bastante durante as missões, mas é cômodo poder pegar uma continuação atrás da outra sabendo que o dinheiro não está indo embora em nome do vício e da vontade de vencer. A ROM do jogo está guardadinha em meu computador e jogo sempre que bate vontade, mas tenho saudades mesmo é de chegar tranquilão no fliperama, encher o bolso de fichas e jogar até dar o horário do término das aulas vagas da escola junto dos amigos de infância.

Devo admitir que fui um incompetente jogando Super Mario World, e se a princesa Peach estivesse esperando por mim para ser resgatada do terrível Bowser até hoje, a coitada teria morrido seca e esturricada! Hehehehe!

Nada disso, no entanto, diminui o fato de que Super Mario foi (e ainda é) um dos jogos mais divertidos que já joguei em toda minha vida, e são incalculáveis as horas que passei diante da TV encarando os perigos daquele mundo alucinógeno junto de Mario e Luigi. Para esse jogo minha parceira era minha irmã mais nova, e são memoráveis os momentos de êxito em que passávamos por novas telas e as dancinhas da vitória ao som daquelas musiquinhas inesquecíveis do jogo.


Longe de toda a violência que sempre me cativou em games, Super Mario me atraiu por sua engenhosidade e sagacidade. Era muito bom explorar aquele mundo fantástico (há quem diga que tudo não passa de uma “viagem” do Mario que cheirou muitos cogumelos), descobrir novas passagens através daqueles intermináveis canos de ligação ou apenas e tão somente adentrar castelos macabros para derrotar seus moradores sinistros.

Digam o que quiser, Mario é um baixinho marrento. De que outra forma um encanador barrigudo teria a audácia de enfrentar inimigos em sua grande maioria superiores a ele em força, invadir seus castelos, sentar-lhes a bifa, jogar-lhes na lava, derrubar-lhes de alturas incríveis e ainda sair comemorando com um cogumelo de brinde? Só sendo muito marrento!

Embora não o tenha conhecido em minha infância como jogo, só no desenho animado que passava na TV Colosso, posso dizer com certeza que Super Mario World faz parte da minha infância, já que me fez voltar a ser criança para entender aquele mundo cheio de seres fofinhos e ao mesmo tempo malvadinhos que viviam pedindo para levar bordoada.

A maioria dos jogos que comentei até aqui com exceção apenas de Batman e Robin e Tekken eu já zerei, mas porque então eu não consegui zerar Mario? Simples, meu caro, padawan.

Levava-se HORAS para se passar as fases sem perder muitas vidas, e quando se chegava nas fases mais difíceis e que exigiam um reconhecimento prévio, estava na hora de desligar o vídeo game porque já estava ficando tarde. Caso quiséssemos tentar de novo no dia seguinte, éramos obrigados a passar todas as fases outra vez (sim, porque memory card era um artefato de ficção científica antigamente) e vivíamos nesse eterno looping sem fim, não chegando nunca ao castelo do Bowser. Dicas e macetes para se pular fases nunca chegaram a meu conhecimento e tá aí um jogo que jamais permitiria que alguém me explicasse como pular etapas de tão prazeroso que era passar uma a uma cada fase.

Hoje em dia, no entanto, na ROM é possível gravar a fase em que se passa por último e tenho certeza que assim que tiver coragem, chegarei ao fim dessa aventura, provavelmente uns 25 anos depois do resto da população mundial. Hehehehehe!

Chegamos ao pódio e que jogo melhor que Mortal Kombat mereceria a honra de abri-lo?
Quando Mortal Kombat chegou aos fliperamas de todo o mundo, deve-se contextualizar que não havia nada, absolutamente nada parecido com aquilo em lugar nenhum. Não havia personagens de carne e osso se matando de forma ultra-realista daquele jeito em nenhum outro game existente, e tudo isso somado à violência desenfreada que o jogo permitia tornou MK um sucesso estrondoso de público e crítica (tanto no pessoal quanto no profissional, ô loko, meu!).

Tudo em MK era espetacular. As vinhetas de apresentação dos personagens com os atores que os encarnavam eram muito bem feitas, nos fazia acreditar que eles existiam mesmo.

A sonorização com todos aqueles arranjos orientais nos transportava para um torneio de artes marciais real (mesmo sem nunca ter visto nenhum) e todo o clima do jogo era construído numa ambientação digna de nota. Hoje é possível perceber alguns “defeitos especiais” ao se jogar por alguns minutos, mas como eu frisei, aquilo era inédito no mundo dos games, portanto causava impacto.

Até então o mais “real” que se tinha em jogos de luta era o bom e velho Street Fighter, mas convenhamos que era muito mais chocante ver um ninja fodão azul arrancando a cabeça do inimigo com coluna cervical e tudo numa enxurrada de sangue do que ficar soltando hadoukens que pareciam feitos de algodão doce na tela.


Como já disse no Blog, sempre fui fã de filmes violentos ao extremo. Adorava Robocop, Rambo, Comando para Matar e Exterminador do Futuro, mas ver em um jogo o cara arrancando o coração do inimigo e segurá-lo ainda batendo nas mãos, ou ver outro cara aplicando um gancho de arrancar a cabeça do desafeto era muito “sangue no zóio”. E isso, óbvio, era muito bom!


Quando Mortal Kombat 2 foi lançado, o auê (óia o auê aí ó) do primeiro jogo da série já havia passado e a galera já estava familiarizada com os termos Fatality, Finish Him e as risadinhas sinistras do Shang Tsung (que pra quem não lembra, era o mestre de MK 1). Nada disso impediu, no entanto, que a sequência também virasse uma febre entre a nerdaiada.

O visual de MK 2 era ligeiramente mais sombrio que seu antecessor e os gráficos apresentavam bastante diferenças, em especial o design de personagens. Os lutadores ainda eram baseados em pessoas reais, mas apresentavam muito mais bizarrices em sua aparência, algo que só se podia notar no Goro na versão anterior.

Baraka, Mileena e Reptile eram bem “inumanos” em algumas situações.

Havia, no entanto, uma melhora significativa no design dos uniformes e trajes, e Scorpion e Sub Zero não pareciam mais tão toscos quanto antes, assumindo suas versões mais mothafuckers, com trajes ninjas cheios de detalhes nas máscaras e texturas.

De todos os jogos da série, MK 2 foi o único em que nunca consegui passar do sub-chefe. Kintaro deixa Goro e Motaro no chinelo no quesito vilão filho da puta para vencer, e a única coisa que mais colecionei nesse jogo além de recordes em tomar fatalities, foi derrotas massacrantes para Kintaro.


Em sua versão 2D, MK 3 foi o game que mais me tirou fichas no fliperama e no qual eu mais gastei meus dedos jogando no SNES. Quando sentava pra jogar, eu entrava num transe hipnótico em que nada nem ninguém podia me tirar dali. Eram rounds e mais rounds aplicando as belíssimas sequências de golpes (novidade nessa versão) e tomando um fatality mais escabroso que o anterior (até porque nunca soube de cor nenhum fatality, exceto o da ponte).


A jogabilidade de MK 3 é infinitamente superior a de seus antecessores, até porque o botão de corrida dá uma agilidade invejável na hora de bater nos inimigos (antes o ataque mais eficiente era o manjado pula pra cima com voadora, abaixa e passa uma rasteira). A combinação corrida+sequência era quase imbatível quando se jogava com personagens ultra-apelões como o Cyrax, o Kabal e a Sheeva (três estreantes em MK 3), sem falar que deixava Sub Zero (sem máscara) ainda mais fodão usando o combo congela+corre+sequência de golpes+chuta longe e assim sucessivamente. Depois que se acostuma a essa velocidade, os dois primeiros jogo se tornam meio cansativos e lentos, e irrita ter que pular para alcançar o adversário que sempre pode te surpreender com um gancho.


A versão 3 do jogo trás também o sub-chefe mais style de todos, o centauro Motaro, que é um pouco mais amistoso que suas versões nas continuações MK 3 Ultimate e MK 3 Trilogy, mas igualmente feroz. Confesso que eu meio que me borrava de medo do Goro em MK 1 (aqueles urros que o anunciavam enquanto enfrentávamos a última dupla antes dele eram assustadores), mas Motaro o vencia fácil no quesito implicar medo.

Uma de suas vantagens era que o infeliz se teleportava o tempo todo e tinha uma gama de porradas que arrancavam mais da metade da vida, além de disparar da cauda esferas de energia dos quais era quase impossível desviar. Como se não bastasse, Motaro enviava de volta contra você qualquer tipo de magia, portanto era inútil ficar soltando a rede do Cyrax, o gelo do Sub Zero ou as bolas de fogo do Shang Tsung. Era o famoso feitiço voltando contra o feiticeiro. Curiosamente, mesmo nesse nível de apelação, venci o centauro boladão inúmeras vezes na base da pancada com o Jax, com a Sheeva e até com o Sub Zero. Depois dele, Shao Kahn era pinto!

Depois de Ultimate (que juntava uma galeria grande de personagens novos além de velhos conhecidos limados da versão 3, como o Scorpion e a Kitana, por exemplo) e da versão Trilogy que juntava TODOS os personagens do jogo até então, nos dando a possibilidade de escolher Motaro, Kintaro, Goro e até o próprio Shao Kahn, o jogo perdeu o encanto quando entrou na era 3D, e pra mim nunca mais foi a mesma coisa, embora o design, cenários e jogabilidade tenham melhorado absurdamente desde então.

Até me animei com as notícias do novo jogo MK após a falência da Midway, empresa que até então detinha os direitos de produção do game, mas duvido muito que eu vá jogar. Estarei mais na arquibancada mesmo torcendo pelo sucesso, já que sou um grande fã da série e da mitologia do jogo, e terei para sempre na memória os dias insubstituíveis em que passava fazendo os adversários perderem sangue, jogando que nem um alucinado diante da TV.

Daqui há uns dois séculos, quando os carros estiverem voando pelas metrópoles, as pessoas não precisarem mais sair de casa para irem ao cinema porque terão telas de 3D em todas as partes das casas flutuantes e as pessoas não souberem mais se reproduzirem, ainda assim, essa civilização futurística saberá que Street Fighter foi o jogo de luta de maior influência no mundo e o mais importante de todos, justamente porque abriu as portas para outros clássicos da porradaria como Mortal Kombat, King of Fighters e Tekken.


Street Fighter é um clássico e sempre será. Não há ser humano lúcido hoje em dia (em especial homens) que nunca tenha ouvido falar de Ryu, Ken e Chun Li. Não, sério. Desafio você a me apresentar um fulano que nunca tenha visto aquela chinesinha doida sentando o braço nos machões ou que nunca tenha ouvido as palavras hadouken e shoryuken (ou suas versões mais populares "aduguen" e "roriuguen").

O fenômeno Street Fighter começou em 1990 com o lançamento de Street Fighter II pela empresa japonesa CAPCOM (detentora dos direitos de outros ícones do vídeo game como Megaman e Capitão Comando). Poucos têm memória do primeiro jogo e menos pessoas ainda podem dizer que jogaram esse game, até porque ele era um clássico da tosquice e nem podia ser comparado a Street Fighter II, que dava mais opções de jogadores selecionáveis além de Ken e Ryu e introduzia os mestres do mal Bison (ou Vega no Japão), Sagat, Balrog (ou M. Bison no Japão) e Vega (Balrog no Japão).

Lançado em 1987, o primeiro jogo nunca recebera muitas menções até porque havia sido quase que completamente ofuscado pelo segundo e muito melhor game. O jogo possuía uma jogabilidade tão agradável que permitia a acessibilidade de qualquer pessoa que se arriscasse a encarar o desafio, sem falar que era popular por não possuir apenas jogadores americanos ou japoneses (dois de cada), e sim membros de várias nações, incluindo o Brasil, que era representado pela besta-fera Blanka.
O que vou dizer é uma vergonha, eu sei, mas eu custei a aprender a maldita meia-lua para trás e soco. Meia-lua pra trás e soco, pra quem caiu de Marte agora, dá origem ao golpe mais famoso da história dos games, o hadouken, e foi usado como referência para praticamente todos os jogos de luta que se seguiram.

O gelo do Sub Zero é dado com meia-lua pra trás e soco, a maioria dos jogadores de KOF o utilizam também (alguns tem até o mesmo formato da magia)... Quase todos os golpes em jogos de luta são originados com a maldita meia-lua pra trás e eu NÃO SABIA EXECUTAR ESSE GOLPE!
Com o tempo, treinando bastante comecei a enfim pegar o jeito da coisa e só então é que deslanchei como um bom jogador, estando na categoria amador até então.


Os jogos de SF que se seguiram ao 2, em especial o 3 e as versões especiais do 2 como o Super Street Fighter onde a Cammy, e o Fei Long, entre outros, davam as caras pela primeira vez, não foram tão empolgantes. A franquia voltou a se revitalizar com a série Alpha que em muitos cartuchos e fliperamas chegou a ser conhecida como Street Fighter Zero, por se contar uma história anterior aos acontecimentos de SF II, e o sucesso foi tão grande que gerou as continuações, SF Zero 2 e SF Zero 3, esse sim, juntando toda a galeria de personagens do jogo (menos o Guile) e que na minha opinião é o mais difícil dos três.


O visual do jogo foi modificado, Ken e Ryu ganharam traços mais de anime, os golpes tornaram-se mais potentes e eficientes, os gamers podiam disparar os chamados especiais (ou combos), algo que não existia em SF II (a gente se contentava com o shoryuken triplo que levantava o caboclo do chão), mas embora todas essas melhoras tenham feito muito bem para a série e revitalizado os personagens, nenhum desses jogos conseguiu ter o mesmo carisma que o clássico.


SF II quebrou barreiras e escancarou um mundo de possibilidades, e embora a jogabilidade de seus sucessores seja indiscutivelmente melhor, nada supera o mito.


O jogo é tão bom que tenho até no celular e volta e meia eu dou uma lição no Bison por ele ter matado o pai da Chun Li, matado o parceiro do Guile e por ele ter sequestrado o Ken e enlouquecido o coitado!




Seria injusto eu falar no lugar da medalha de ouro apenas de um crossover entre Marvel e Capcom, por isso darei um jeito de homenagear todos eles, incluindo os meus preferidos que se encaixam na categoria jogos dos anos 90: X-Men X Street Fighter, Marvel X Street Fighter e Marvel X Capcom.
Quando o primeiro jogo da série que unificava dois universos pra lá de fantásticos ocorreu, eu já era viciado em Street Fighter e gostava muito do jogo Super Heróis Marvel lançado pela própria Capcom.

Ver os mutantes mais famosos da Casa das Ideias caindo de pancada com Ryu e companhia era a realização de um sonho e claro que nem preciso dizer que joguei muito essa porra nos fliperamas, voltando pra casa pilhado com todos aqueles efeitos sonoros e visuais do jogo ainda em mente.


Marvel X Street Fighter deu-nos enfim a possibilidade de selecionar os grandes medalhões da editora como Capitão América, Homem Aranha e Hulk para se porrarem com a galera de Street Fighter, e dizer que a sensação de escolher o Aranha pela primeira vez num vídeo game havia sido muito empolgante não exprimiria com justiça o que senti de verdade.


O jogo misturava o que havia de melhor na nova série Street Fighter (a Zero) com a melhor jogabilidade de Marvel Super Heróis, e o resultado foi explosivo. Combos (nesse caso falo de sequências de golpes) e especiais eram a grande novidade em jogos do tipo e quem é que não sentia aquela vontade de apelar ao extremo quando aquele carinha marrento te desafiava entrando contra? Blackheart e Akuma eram meus personagens preferidos no jogo, uma vez que a Capcom havia resolvido limar o Homem de Ferro dessa versão, e curtia muito os especiais do filho do Mephisto.

Outra que era bem interessante de ser escolhida era a Sakura, que ganhou um boost nos poderes, ficando inclusive mais apelona com um hadouken que se transformava num shoryuken com efeitos bem semelhantes aos facões do Charlie. Seu especial era disparar gigantescos hadoukens e coitado de quem ficava na frente. A fã de Ryu era perfeita para enfrentar o Apocalypse (de novo ele) que fazia às vezes de sub-chefe (ele era o Boss em X-Men X Street Fighter). Seus hadoukens-shoryukens causavam um belo estrago na carcaça gigantesca do En Sabah Nur que para nossa sorte, nunca fora lá um desafio, assim digamos, desafiador. Hehehe!

Desta vez quem pagava de chefão e chegava botando banca era um tal de Cyber-Akuma, que nada mais era do que um Akuma com partes biônicas e muito mais foda que sua contraparte karateka. O cara tinha uma gama de ataques pra lá de exagerados e juntava o que havia de pior no Akuma, elevando tudo ao dobro. Curiosamente bastava apelar com ele também que o sujeito afinava, e zerei o jogo algumas vezes com os mais diversos personagens.

Marvel X Capcom lançada em 1998 veio para encerrar um ciclo de jogos que depois disso jamais foram os mesmos.
O século XXI pareceu que surgir para virar uma página e encerrar um capítulo muito feliz de jogos que foram marcantes para toda uma geração (a minha inclusive). Esse game, todavia, fechou esse ciclo com chave de ouro, e nunca mais foi tão divertido entrar em brigas inimagináveis como essas.

A jogabilidade apresenta poucas surpresas para quem já estava familiarizado com os jogos anteriores, mas de certa forma ele é mais ágil que os outros e trás de inovador apenas a possibilidade de chamar a ajuda de um terceiro jogador, que aplica um golpe especial no meio da luta. Meus preferidos eram o Thor, que disparava um lightning storm na cara do adversário e o Colossus que arrastava o adversário para o outro lado da tela com uma ombrada. Infelizmente os parceiros não são livres para serem selecionados e o computador faz isso por você antes da partida, mas todos em certo ponto acabam sendo de grande ajuda devido a velocidade em que tudo acontece.


Todos os personagens principais de Marvel estão lá e dessa vez só não temos o Ciclope e o Homem de Ferro, que é substituído por seu equivalente Máquina de Combate. Do lado da capcom temos Ryu, Zangief e Chun Li representando Street Fighter, e todos os demais são de outros jogos como a Morrigan, o Stryder Hyriu, o Capitão Comando e claro, o Megaman. O chefão desta vez é o Massacre, vilão mequetrefe criado nos quadrinhos para ser o Sr. fodão e que juntava o poder do Profº Xavier com os do Magneto.

Na batalha final primeiro encaramos uma versão menor do Massacre, mas não menos apelativa, e ele joga tudo que tem contra você, inclusive outros personagens como o Hulk e a Chun Li, por exemplo. Quando derrotamos o fascínora, assim como nas HQs ele se torna uma versão ainda mais assustadora de si mesmo e fica tão gigante quanto o Apocalypse nos jogos anteriores. Para nosso azar, ele é muito mais poderoso que seu compadre faraó, e escrotiza geral, mandando uns disparos de energia que nunca entendi bem de onde vêem, mas que arrancam metade da vida. Sem falar nos filhotes de Sentinela que ficam a seu dispor disparando mísseis em nossa direção. Com personagens como Ryu, Máquina de Combate, Chun Li e Megaman as chances de levar o Massacre para a lona são maiores, mas já descobri bons macetes com quase a maioria dos personagens para fazer o mesmo. Ele se acha invencível, mas não é.


Jogar vídeo game é cientificamente comprovado uma forma muito saudável de passar o tempo, além de trabalhar com seu controle motor, raciocínio e agilidade. É tão eficaz quanto um exercício físico (tá, essa parte é mentira) e ajuda a descarregar as tensões diárias. Bem melhor do que sair dando tiro em crianças em escolas ou espancando pessoas indefesas.

Nunca me tornei um psicopata por causa dos jogos violentos que já joguei e não acredito que algum jogo forme o caráter de uma pessoa. Caráter é algo que lhe é dado na sua formação.



Não aproveitei a infância o máximo que devia, mas fui muito feliz durante a década de 90, em especial com os jogos citados e todos os outros que também me são especiais como Top Racer, Gradius 3, 1941 – Counter Attack, Art of Fighting, entre outros. Sei que esse tempo bom não volta mais, embora de vez em quando ainda me bata uma baita saudade de estar em casa curtindo as tardes de desafio com o bom e velho SNES, mas as lembranças ficarão para sempre.
NAMASTE!

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