2 de abril de 2012

The Walking Dead - A 2ª Temporada

ATENÇÃO: O post a seguir pode conter possíveis SPOILERS!


Há algum tempo eu compartilhei aqui minhas impressões sobre a primeira temporada de The Walking Dead e de como a série não conseguiu me cativar completamente como já aconteceu com outros enlatados.

Faltou aquele “mojo”, na minha opinião.

Mas será que algo mudou agora ao término do segundo ano?
Desta vez a máxima que diz que em time que está ganhando não se mexe não funcionou para a série dos errantes, e Frank Darabont, o principal diretor dos seis episódios anteriores, saiu do posto assumindo só a produção executiva, e cada um dos treze novos episódios foi escrito e dirigido por uma pessoa diferente. Darabont assinou apenas o primeiro episódio da temporada, dando continuidade aos fatos que levaram os sobreviventes do Z-Day a buscar por proteção e a manter suas vidas a salvo.

O que a princípio podia parecer que ia virar uma incrível colcha de retalho, deu muito certo, uma vez que não é perceptível a mudança de direção ou de roteiro ao longo dos episódios. Claro que, assim como aconteceu na primeira temporada, alguns episódios são mais arrastados do que outros, mas isso é a própria narrativa que exige, já que o foco da história de The Walking Dead é nos personagens em meio ao caos de zumbis, e não nos próprios errantes desmiolados. Ao tratar personalidades e sentimentos, é comum que sejam necessários capítulos mais lentos, e esse é um recurso que acaba funcionando para a trama, porque sempre ao final de cada episódio acaba acontecendo algo impactante que nos deixa com aquele “agora fodeu” entalado na garganta.


Quem ainda espera fidelidade ao material original (a HQ criada por Robert Kirkman, que também produz a série) pode tirar o cavalinho da chuva de vez. O rumo tomado pela série é bem diferente da HQ, o que não desabona em nada a narrativa muito bem trabalhada pelos diretores e escritores. As duas mídias possuem semelhanças, mas o mais óbvio é a disparidade que faz com que cada uma possua uma qualidade que completa a outra.

The Walking Dead deve ser a primeira adaptação em muito tempo que agrada tanto a gregos (fãs da série) quanto a troianos (fãs das HQs), e só mesmo os mais chiliquentos devem ter alguma objeção quanto à série seguir um caminho diferente do material de origem.

Mas, afinal, a série te agrada mais agora, Rodman?


ÉÉÉÉÉÉééé... Digamos que sim.


Ainda acho que o formato mais compacto (de seis episódios) combinava mais com a série, mas como a temporada foi dividida ao meio mostrando primeiro sete episódios e depois de uma pausa os outros seis, deu para dar uma respirada entre uma metade e outra, o que não a tornou cansativa.
Pois bem.

A primeira temporada terminou com aquela tentativa, a meu ver pífia, de querer explicar a praga zumbi e com a explosão daquele que parecia ser, depois de muito tempo, um porto seguro para os sobreviventes, o laboratório onde tudo começou.

De volta à estrada, Rick Grimes (Andrew Lincoln), sua esposa Lori (Sarah Wayne Callies), o filho Carl (Chandler Riggs), o “amigo” Shane (Jon Bernthal), T-Dog (Irone Singleton), Andrea (Laurie Holden), Daryl (Norman Reedus), Glenn (Steven Yeun), Dale (Jeffrey DeMunn), Carol (Melissa McBride) e sua filha Sophia (Madison Lintz) precisam achar um local seguro para ficar, e se deparam com uma estrada bloqueada por um engarrafamento de carros abandonados. Logo o grupo é surpreendido por uma multidão de errantes e eles precisam se esconder imediatamente antes que as criaturas os localizem e os peguem desarmados e em menor número.


A situação piora quando um dos errantes localiza a menina Sophia embaixo de um dos carros do engarrafamento e começa a persegui-la, obrigando-a a fugir em desespero para uma floresta próxima a estrada. Os homens do grupo imediatamente se prontificam a afastar os errantes do local, enquanto Rick corre em disparada para salvar Sophia.
Procurando evitar atirar com sua arma para que outros errantes não sejam atraídos pelos estampidos, Rick enfrenta os zumbis no mano a mano e coloca Sophia em segurança próximo a uma caverna. Porém, quando ele se afasta dali tentando atrair os zumbis para longe da menina e retorna, ela já não está mais lá.

O clímax do episódio de início acontece quando um tiro atinge Carl, o filho de Rick quando eles encontram um cervo na floresta. Na sequência, um morador de uma fazenda localizada nos arredores surge se dizendo o autor do tiro acidental (destinado ao cervo) que deixa o menino em estado grave e necessitando de cuidados médicos urgentes.

Surge então o plot principal da temporada, que é o deslocamento dos sobreviventes para a fazenda de Hershel Greene (Scott Wilson), um médico aposentado que mora com a família e que prefere se manter distante do restante do mundo, procurando lidar da maneira como pode com a infestação zumbi. Otis (Pruitt Taylor Vince), o homem que atirou sem querer em Carl, os conduz até a fazenda para que Hershel possa cuidar do garoto, e os próximos episódios se estendem na busca por Sophia, que desapareceu na floresta, e em salvar a vida de Carl.


Nesse intervalo que se estende até o sétimo episódio, onde a série sofre uma pausa, devo admitir que fiquei meio cansado com a falta de ação. Nesse período, os personagens começam a ser melhor desenvolvidos, Shane, o amigo fura-olho de Rick que esteve se divertindo com sua esposa enquanto todos pensavam que o Xerife estava morto (acontecimento narrados na primeira temporada) começa a se mostrar um cara cada vez mais irracional, e ele passa a se incomodar com a presença de Rick ali, questionando sempre que pode sua liderança e sua forma pouco ativa de comandar o grupo, que agora está instalado na fazenda dos Greene. O cara se indispõe com praticamente todo mundo, desde o apaziguador e pacífico Dale, um dos primeiros a notar as atitudes violentas e pouco ortodoxas do sujeito, até Daryl e Andrea, que mais tarde passa a ter uma queda sexual por ele.


O ápice da piração é atingido quando numa missão em uma escola com o caçador Otis, Shane é encarregado de pegar os suprimentos necessários para a operação de Carl e os dois se veem cercados por errantes. Se vendo com pouca munição, ferido e com poucas chances de escapar dali, Shane atira contra Otis e o deixa para trás como chamariz para os errantes, que atacam o homem sem piedade, enquanto Shane escapa da escola com todo o material médico necessário. A partir daí, o personagem de Jon Bernthal se torna cada vez mais psicótico, ele raspa a cabeça e começa a agir de forma ainda mais assustadora com todos na fazenda, causando-lhes desconfiança sobre a história de que Otis foi ferido acidentalmente e morrido em ação para salvá-lo.

Como aprendemos em Zumbilândia, quando a praga Zumbi se instaurou, os primeiros a morrerem foram os gordinhos e Otis se enquadra nessa característica!


Nada que aconteceu durante os sete episódios iniciais, no entanto, superou o impacto que foi a descoberta que ocorre no sétimo. Foi uma das maiores surpresas que já tive em séries em toda minha vida!

Os sobreviventes, em especial Daryl, que se compadece do sofrimento de Carol pelo desaparecimento de sua filha, passam a fazer buscas incessantes pela menina mata à dentro, mas a procura por Sophia se mostra cada vez mais infrutífera.

Na fazenda, Glenn começa a se envolver amorosamente com uma das filhas de Hershel, a intrépida Maggie (Lauren Cohan). Após transarem em um armazém onde eles se dirigem para buscar suprimentos de higiene para os moradores da fazenda, o coreano marca um encontro romântico com a moça no celeiro da fazenda à noite. Sem que ele saiba, no entanto, o local está repleto de zumbis que são alimentados como num cativeiro por Hershel e sua família. Todos os errantes são conhecidos do velho médico e ele os mantém ali na esperança de que haja uma cura para o mal que assolou seus parentes. Ledo engano.



Incapaz de manter aquilo em segredo, Glenn compartilha com Dale a informação do cativeiro de errantes, o que causa um conflito entre os moradores da fazenda e o grupo de Rick, que se sente ameaçado por estar próximo a galpão cheio de mortos vivos que podem escapar a qualquer momento.

Nesse momento entra uma questão bem curiosa: O que você faria se um ente querido seu se transformasse em um zumbi devorador de carne humana? Você manteria as esperanças de uma cura ou terminaria de uma vez com seu sofrimento?


Shane é totalmente contra o cativeiro de zumbis, e num ato impulsivo ele quebra as correntes que mantêm o galpão trancado e permite que os zumbis saiam, iniciando um massacre. Quando os errantes começam a sair aos montes, T-Dog, Glenn e Andrea se juntam a ele, praticando tiro ao alvo com a cabeça dos mortos-vivos. Quando todos parecem ter sido dizimados, sob o olhar do desolado Hershel e de sua família, eis que surge por último de dentro do galpão uma menina-zumbi e todos percebem que é Sophia...




(Minuto de silêncio)

Sério.

Foi a coisa mais chocante que eu já vi em uma série.
A cena foi tão bem feita que eu me vi em desespero exatamente como os personagens naquele momento. Toda a composição ficou perfeita. Interpretações, trilha musical, fotografia. Tudo funcionou pra criar aquele clima de choque.
A menina que eles tiveram procurando todo aquele tempo e do qual não tinham nenhuma pista do paradeiro havia sido encontrada por Otis antes de sua morte, e colocada no celeiro, assim como os demais zumbis cativos.

Em nenhum momento os criadores da série dão qualquer dica de que a menina pudesse estar ali, e quando ela surge de dentro do galpão rastejante, transformada em zumbi, é uma das maiores surpresas da história da TV.

Acho que nem descobrir que Nina Meyers havia matado a esposa de Jack Bauer foi tão surpreendente!

Nem descobrir que o Locke já estava morto desde o começo da quinta temporada de LOST causou tanto impacto!
Depois disso a série sofre uma pausa pra galera recuperar o fôlego e volta com um desfecho inesperado, que se desenvolve dos episódios 8 ao 13.

Se a temporada tivesse terminado por aí, já teria valido a pena toda aquela enrolação pela busca da menina e o lenga-lenga das crises de inveja de Shane quanto a Rick e Lori, que descobre que está grávida, mas que não tem certeza qual dos dois é o pai!


Muita água ainda rola por debaixo da ponte até o último episódio. Tem o interesse de Carol por Daryl, tem o envolvimento sexual entre Andrea e Shane, tem a conversa de Lori com Rick, onde ela conta o que houve entre ela e Shane durante sua ausência e tem a recaída de Hershel ao alcoolismo, onde por causa de uma de suas fugas ao antigo bar onde antes ele costumava ter suas bebedeiras, Rick e Glenn acabam tendo que levar com eles de volta para a fazenda Randall, um rapaz membro de um grupo de mercenários que ataca o trio dentro do bar.


Por ser um estranho no ninho, Randall, que está ferido na perna, acaba criando todo o desconforto entre os sobreviventes e a família Greene, que não sabem o que fazer com ele. Quando todos optam por sacrificá-lo para que ele não entregue a posição da fazenda para seus comparsas, Dale se coloca rigidamente contra a decisão e saí para caçar durante a noite, onde é atacado por um errante que abre seu abdômen, matando-o. Naquele mesmo dia, horas antes, Carl havia saído para passear próximo a um rio e lá ele encontra um errante atolado numa poça de lama. Empunhando uma arma roubada de Daryl, o garoto ameaça matar o zumbi, mas acaba se assustando quando este avança sobre ele, e foge dali. Curiosamente, aquele errante é o mesmo que acabou matando o seu tio Ben Dale mais tarde...



Carl aprendeu da pior maneira que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades!

É ou não é essa passagem muito parecida com a origem do Homem Aranha?

Depois da morte de Dale, Rick decide honrar sua vontade antes de morrer, e comunica que dará uma chance a Randall e que irá soltá-lo na estrada longe da fazenda, sem eliminá-lo a sangue frio.

Cansado das ordens de Rick, Shane resolve armar um plano para liquidar o “amigo”, e começa libertando Randall, simulando uma fuga. O maluco arma uma emboscada para o Xerife, atraindo-o para um local ermo onde pretende matá-lo. Porém no último instante ele amolece e permite que Rick se aproxime o suficiente para apunhalá-lo no estômago. Carl chega ao local minutos depois, e vê o pai ajoelhado próximo ao corpo de Shane.



O garoto aponta a arma em direção ao pai, mas no momento exato ele desvia e atira em Shane que está atrás de Rick transformado em zumbi, matando-o de vez.



O episódio final começa imediatamente após a morte de Shane, e quando notam, Rick e Carl estão cercados por uma horda de errantes que se aproximou atraída pelo tiro disparado pelo garoto contra Shane. Sem outra opção, os dois fogem e ao chegarem à fazenda, percebem que o local está infestado de mortos-vivos, que chegaram ali atraídos pelo som de um helicóptero durante o dia.

Em menor número, com pouca munição, os sobreviventes e a família Greene são obrigados a abandonar aquela que fora sua morada durante todo aquele tempo. Incansáveis e vorazes, os zumbis atacam tudo que veem pela frente, e Patricia (Jane McNeill) e Jimmy (James McCune), filhos de Hershel são brutalmente devorados. Rick, Hershel e Carl conseguem escapar em um dos carros, Daryl salva Carol no último instante, enquanto T-Dog consegue levar Lori e Beth (Emily Kinney), outra das filhas de Hershel. Glenn e Maggie também conseguem se safar, mas Andrea acaba ficando para trás e é encurralada por zumbis, o que a obriga a fugir pela floresta.


Esse episódio final é um dos mais apavorantes das duas temporadas. Aquela sensação de desespero vivida pelos personagens enquanto eles começam a ver os mortos vivos surgirem de todos os lados é passada para o espectador de forma muito intensa. Ao mesmo tempo que você quer ver o que acontece em seguida, fica aquela torcida para que todos consigam escapar com vida.

Quando Andrea fica para trás confesso que torci com toda minha força para que ela não morresse até o momento que ela é ajudada na floresta por uma misteriosa figura de capuz e lâmina que elimina o zumbi que fatalmente a mataria.


O desfecho da história com Rick mostrando ao grupo quem é que manda naquela porra também é bem interessante.
Sinceramente, o personagem Rick, apesar de toda aquela odisseia que ele passa na primeira temporada, sozinho, andando por uma Atlanta tomada por zumbis e tentando encontrar desesperadamente a esposa e o filho, depois que ele se junta ao grupo de sobreviventes se torna meio maçante. Cada uma de suas decisões parece mais equivocada que a anterior, e junto à visão que o próprio Shane tem dele, nós acabamos duvidando de sua capacidade de liderança também. Confesso que preferia o Shane em alguns episódios, e aquela imagem de bundão que Rick acaba passando cansa os espectadores. E olhe que não costumo torcer pra nenhum bad boy! Quem leu um dos meus primeiros artigos do blog A vez dos cascas-grossas, sabe o que penso sobre o assunto.


Para que Shane pudesse ser eliminado ao fim da temporada (na HQ ele morre bem antes) transformaram-no num tremendo filho da puta, o que acabou justificando seu fim. Sem isso, duvido que alguém concordasse com sua morte, até porque, nos parecia que Rick realmente estava fazendo uma merda atrás de outra.



No final da temporada, após eliminar Shane, Rick enfim consegue se impor a seu grupo, e numa atitude autoritária, porém necessária, já que ele pretende manter todos ali em segurança, ele decide que todos vão obedecê-lo quer queiram ou não. “A partir de agora isso não é mais uma democracia!”.

Agora sim senti firmeza, senhor Rick Grimes.

Acho que agora enfim The Walking Dead me cativou e a terceira temporada promete manter esse clima meio que claustrofóbico de viver em um mundo onde praticamente todos estão infectados pelo vírus zumbi, inclusive eles mesmos! E mais uma vez eu estarei lá.

NAMASTE!

29 de março de 2012

Índia! A exposição

Ao chegar ao prédio do Centro Cultural Banco do Brasil somos recepcionados logo na entrada, por uma imensa escultura de Ganesha, o deus hindu do intelecto e da sabedoria. Lá está ele com sua pele amarelada, cabeça de elefante num corpo de homem de quatro braços sentado sobre um rato, exatamente como ele sempre é representado. Nossos ouvidos são agraciados com um som característico de música indiana e o subsolo do espaço do Banco do Brasil, bem como os demais andares superiores estão prontos para nos transportar ao mundo da Índia, atualmente um dos países mais populosos da Terra e cuja cultura rica e em certos termos ainda desconhecida no Ocidente, espera para nos ser apresentada.
A exposição Índia! reúne arte antiga, popular e contemporânea, em diversos suportes espalhados desde o subsolo do prédio até o 3º andar do mesmo. O conjunto é abrangente também no aspecto temporal, uma vez que estão presentes peças com mais de dois mil anos (e ficar frente a frente com esse tipo de arte antiga é fascinante) e outras realizadas especialmente para a exposição no Brasil. O passeio oferece uma visão rica sobre a diversidade cultural do país, que em terras brasilis ficou popularizada através da novela de Glória Perez Caminho das Índias, cujos trechos são exibidos na exposição no térreo do prédio.
Admito que conheço pouco da cultura indiana, exceto por suas divindades (Ganesha, Krishna, Shiva) que me foram apresentadas ainda no Ensino Fundamental, e que foram melhor exploradas no Ensino Médio, mas a exposição nos ajuda a entender um pouco mais a riqueza cultural da Índia, uma vez que certos aspectos ainda nos soam estranhos como o machismo que impera por aquelas bandas, e pela forma como as mulheres são tratadas por seus maridos.
Senti falta de guias que explicassem o que representavam cada uma das peças e acessórios que podemos visualizar, mas o CCBB disponibiliza em horários mais adequados visitas guiadas. Pena que não pude acompanhar nenhuma delas.
Informação, no entanto, não falta, já que cada setor da exposição possui placas informativas em português e em inglês sobre os períodos históricos e detalhes característicos das peças. O acesso aos estandes e salões também é bem amplo com elevadores e escadas (pros adeptos de esportes) à disposição para circulação entre os andares. Em alguns locais não é permitido filmagens ou fotografias com flash, portanto, pra quem quer guardar alguma recordação da exposição, aproveite os espaços externos e o térreo. Faça uma pose ao lado de Ganesha, jogue sua moedinha na bacia dos pedidos e bom divertimento.
A exposição Índia! é gratuita e pode ser vista até 29 de Abril de Terça a Domingo.
Ela ocupa o subsolo, térreo, mezanino, 1º, 2º e 3º andares do CCBB.
O CCBB fica localizado na Rua Álvares Penteado, 112, Centro de São Paulo, próximo da estação São Bento do Metrô.
NAMASTE!

25 de março de 2012

Homenagem do Rodman: Chico Anysio


Poucos artistas contemporâneos, sejam eles de teatro, cinema ou TV, podem ser reconhecidos ou reverenciados como mestres, e Francisco Anysio de Oliveira Paula com certeza é um deles.
No dia 23 de Março de 2012 a luz de Chico Anysio se apagou, depois de uma longa luta contra as complicações pulmonares causadas pelo tabagismo. Nessa data com certeza o riso se enfraqueceu, e o mundo tornou-se menos engraçado, pois é isso que acontece quando pessoas tão talentosas partem. Elas não só deixam saudades pra quem fica, mas também levam consigo parte da magia que fazia com que elas fossem especiais, tornando o que resta mais pobre. Sim, nesse dia, o Brasil se tornou mais pobre e sem graça.
Chico dedicou mais de seis décadas a sua carreira de ator/humorista/compositor/cronista/ e escritor, criou mais de 200 personagens e os encarnou ao longo dos anos tão perfeitamente, que quando criança, vendo seus programas na Globo, eu nem imaginava que se tratava da mesma pessoa que os interpretava. Assim como os Trapalhões, A Praça é Nossa e até mesmo o próprio Jô Soares, Chico era minha referência de humor na infância, e foi com ele que cresci sabendo o que era dar boas risadas. Chico não precisava apelar para grosserias, não precisava ofender ninguém e muito menos se render a escatologia. Seu humor era simples e direto. Ríamos porque era engraçado e era engraçado porque era feito com inteligência.


Como ele mesmo disse em uma de suas últimas entrevistas, “Só existe dois tipos de humor, o humor engraçado e o sem graça”.
Presente na Globo desde tempos imemoráveis, trazido para o canal pelo amigo Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o ex-todo poderoso da TV platinada), Chico fez parte não só da programação padrão do canal por vários anos como também fez parte da vida do público em geral. Tendo criado vários programas na TV ao longo das décadas, dois dos que mais me recordo são da Escolinha do Professor Raimundo e Chico Total, programa de humor ao estilo Zorra Total que passava em meados de 1997 no mesmo horário que o programa atual, aos sábados à noite. Nele, Chico desfilava seus diversos tipos toda semana, em sketchs que sempre traziam como convidados algum outro artista da Globo. Dentre vários os personagens que Chico interpretava estavam Bento Carneiro, o vampiro brasileiro, Painho, Aroldo (aquele que era mais fingia que não), Bozó (que era uma clara alusão ao amigo Boni), Qualhada (o jogador perna de pau), Justo Veríssimo (o que quer mais que pobre se exploda), Nazareno (que adorava a empregada gostosa, mas que era casado com um tribufú) e o astro e símbolo "sesqual" e que é o "másquimo" Alberto Roberto. 



Com certeza devido a maior exposição e também por ter tido um programa próprio nas tardes da Globo, o Professor Raimundo é o personagem mais conhecido do público brasileiro e também aquele pelo qual todo mundo aprendeu a ter mais carinho.
O Professor Raimundo não era exclusivamente o dono do bordão que todo assalariado costuma usar quando se maldiz de suas mazelas financeiras. Com ele, Chico Anysio serviu de escada para diversos outros atores e humoristas, e lançou também ao estrelato dezenas deles, artistas que hoje em dia são conhecidos e adorados graças a uma carteira que Chico lhes deu em sua Escolinha. Caras como Pedro Bismarck, o Nerso da Capitinga e Tom Cavalcante tiveram sua primeira chance no humorístico liderado por Chico, e atualmente dá pra matar as saudades do tempo em que as piadas não precisavam ofender ninguém para serem funcionais, pelo canal VIVA, onde a Escolinha é exibida nos domingos à noite.
Além das revelações de talentos, pela atração também passaram grandes mestres do humor como Costinha e Grande Otelo, e quem não se lembra dos personagens Seu Ptolomeu (interpretado pelo filho do Chico e dublador Nizzo Neto), Paulo Cintura, Castrinho, Baltazar da Rocha (Walter D'Ávila), Dona Cacilda (Cláudia Gimenez também lançada na Escolinha), Dona Maria da Glória (Tássia Camargo em sua fase de gostosa), Samuel Blaustein, o judeu avarento ou o Seu Boneco, “ligadão nas quebradas, chefia. Que hora que é a merenda?”, vivido por Lug de Paula, outro dos filhos do Chico? Quem viveu nessa época deve lembrar e com carinho desse tempo bom.


Depois do fim da Escolinha e também do fim de Chico Total, que mais tarde deu lugar a Zorra Total, Chico ainda voltou a interpretar seus personagens clássicos no programa que reunia os maiores nomes do humor do canal platinado como Nair Bello, Rogério Cardoso(da Escolinha também e da Grande Família), Nerso da Capitinga e Tom Cavalcante, antes de sua ida para a Record. Devido uma entrevista sincera para a revista IstoÉ, Chico acabou se indispondo com a diretora da Globo na época (Marluce Dias) e acabou enfrentando uma geladeira que durou quase dez anos. Chateado por estar fora do ar por tanto tempo e impossibilitado de deixar o canal onde ele se consagrara por medidas contratuais, Chico começou a dar entrevistas cada vez mais polêmicas para a imprensa o que ajudou a piorar o relacionamento dele com a grande “chefona” da Globo. Nada disso, porém, jamais impediu que o artista continuasse sendo um dos grandes ícones da TV brasileira de todos os tempos ou manchasse sua carreira gloriosa.
Depois da geladeira forçada, Chico retornou à TV, com a saúde já bem fragilizada e atuou em novelas como Sinhá Moça (o remake de 2006), Pé na Jaca (Novela de Carlos Lombardi de 2007) e em Caminho das Índias (de 2009). Também atuou como o pai do noivo na continuação de sucesso Se eu Fosse Você 2, filme que se manteve por muito tempo como uma das maiores bilheterias brasileiras do cinema. Falando em cinema, pra quem curte animação e em especial a dublagem brasileira, deve se lembrar que Chico deu voz ao velhinho rabugento Karl de UP – Altas aventuras, e esse foi provavelmente um de seus últimos trabalhos. Depois disso, o velho mestre começou a frequentar cada vez mais os hospitais do Rio de Janeiro apesar de viver em São Paulo, devido problemas de saúde, e jamais voltou à cena, para infortúnio de todos os seus fãs.



Chico se vai depois de 80 anos bem sucedidos de vida, deixando para trás um legado impressionante que poucos podem ter a honra de ostentar. Para o humor brasileiro fica uma lacuna irreparável e para o público em geral sobram as lembranças daquilo que ele mais sabia fazer: Graça.
Vai em paz, grande Mestre!


NAMASTE!

22 de março de 2012

Qual o filme mais esperado para 2012?

A fim de saber qual é a expectativa dos leitores do Blog acerca dos filmes de fantasia e/ou aventura para esse ano, lancei uma enquete há um mês perguntando qual era o filme mais esperado de 2012, e muitos visitantes deram sua opinião.
No universo da pesquisa, 55 leitores se manifestaram sobre qual dos filmes de heróis e de fantasia mais se destacam (e ouriçam os fanboys!), Batman The Dark Knight Rises, filme de Christopher Nolan que encerrará a trilogia iniciada com Batman Begins, O Espetacular Homem Aranha, o reboot/Prequel/Sequência que mostrará a visão do diretor Marc Webb sobre o Escalador de Paredes, O Hobbit, filme que levará para as telas o primeiro livro de J.R.R. Tolkien que fala sobre a Terra Média e seus seres fantásticos, e Os Vingadores, filme dirigido por Joss Whedon que adaptará para o cinema a famosa união dos maiores heróis da Terra dos quadrinhos.
O resultado foi o seguinte:

Com 42% do público do Blog do Rodman, Os Vingadores é o filme nerd mais esperado do ano, seguido por Dark Knight Rises com 31%, O Hobbit 16% e O Espetacular Homem Aranha 11%.
O fato de ser, por assim dizer, a única novidade da lista, uma vez que Batman e Homem Aranha já estão popularizados no cinema e o Hobbit seja visto pelo público médio como uma sequência de o Senhor dos Anéis, Os Vingadores despontam como o filme mais esperado do ano justamente por esse cheirinho de novo. Nunca vimos Homem de Ferro, Thor, Capitão América e companhia agindo juntos na telona, e todo esse clima pipocão que os trailers do filme trazem faz com que haja maior interesse dos espectadores em ver o filme no cinema.
Esse resultado não desabona, claro, a qualidade dos demais filmes. Ninguém pode afirmar com certeza que Os Vingadores será o melhor filme de todos, a sequência de Batman promete fechar com chave de ouro a trilogia de Christopher Nolan (será que ele consegue superar Dark Knight?) e o Hobbit está sendo bastante esperado pelos fãs do livro de Tolkien e também por aqueles seguidores que foram gerados devido o sucesso da trilogia do Anél de Peter Jackson.
Já o Homem Aranha...
Bem, parece que a galera, assim como esse que vos fala, não parece muito animada com esse reboot/prequel/Sequência.
Pretendo ver os quatro filmes no cinema, e claro que pelos próximos meses estarei dando minhas impressões por aqui.
Quando todos tiverem estreado, eu volto para colocar aqui o ranking de qualidade.
E você? Aposta em qual dos quatro como o Melhor filme de 2012?

Trailer dos Vingadores:



Trailer de Batman Dark Knight Rises:



Trailer de O Hobbit:



Trailer de Espetacular Homem Aranha




NAMASTE!

12 de março de 2012

Galeria do Rodman #7

Houve uma época em que eu parei de simplesmente copiar os desenhos dos meus personagens preferidos, como fiz durante um longo período da minha infância, e passei a criá-los, imaginando novas poses, cenários próprios e um design de montagem diferente do que eu via nas HQs. Claro que nunca fiz nada 100% inovador ou inédito, mas alguns dos desenhos que eu fazia com certeza não poderiam ser achados no Google, por exemplo. Era algo meu, desenvolvido e colorido por mim.
Além de encontros inusitados como Conan e Glory (aquela da Image) e Wolverine e Tomb
Raider
, eu imaginei também parcerias mais tradicionais como Wolverine e Elektra, o que acabou rendendo o trabalho publicado nesse post.
A ideia inicial era mostrar Elektra (sim, de novo ela!) como a ninja gostosa que ela é, com aquela pose típica de capa de Playboy em que a modelo vira pra galera e mostra a bundinha na hora da foto.

Aiie, Rodman. Como você é tarado!

E quem não é na adolescência, caro padawan?


Para o Wolverine, eu queria algo menos animalesco como era de costume, e decidi trajá-lo com uma roupa de ir comprar pão na esquina, calça jeans e camiseta.
Todo mundo imagina o Wolverine com aquela cara de enfezado, mas decidi fazê-lo mais próximo ao que o Hugh Jackman representa para o personagem no cinema, o de galã com garras de adamantium, e usei referências fotográficas para compor a imagem tanto do carcaju quanto a da Elektra.


Mas, Rodman, isso não combina com o personagem!


Ué! Vai lá e fala isso pra Fox que colocou o Jackman (de quase um metro e noventa) pra interpretar o baixinho canadense!
Admito que na hora da adaptação, ao tentar refinar o traço e deixar o desenho mais realista, eu cometi alguns erros de anatomia. Reparem no braço esquerdo do Logan. É impossível que o membro esteja nessa posição sem que ele tenha ejetado as garras no próprio saco!

O braço direito da Elektra que segura a sai também está meio desajustado e foi complicado encaixá-lo ali de forma que parecesse que ela estava apoiando a arma ninja no braço esquerdo.



Para publicar o desenho (feito em 2004) no blog dei uma mexida nas cores, tirei algumas sujeiras do lápis e aumentei alguns efeitos de brilho e sombra, utilizando o Photoshop. No traço não mexi um centímetro, por isso, o que ficou ruim no original, continuou ruim na cópia.

Mas quem liga?


O Rob Liefeld está no mercado de quadrinhos até hoje cometendo erros grotescos de anatomia e ainda o pagam por isso! Sendo assim, que mal há num bracinho retorcido, não é mesmo?


Você pode estranhar também a aparência meio de fracote do Logan, mas a ênfase nesse desenho era mesmo na gostosura da Elektra.
Aliás, se você olhou bem para o desenho, duvido que tenha reparado nos erros de anatomia do Wolverine até eu comentar!

Como as demais artes da Galeria, eu rascunhei o desenho com lápis HB e reforcei o traço com o 2B. Detalhei cabelos, olhos e algumas partes das vestimentas com caneta esferográfica e só depois eu colori com lápis de cor seco e giz de cera vermelho pra aumentar a pigmentação.

Não fazia ideia do que colocar no cenário (aprendiz do Liefeld detected!!) então enfiei um ninja do Tentáculo da forma mais clichê possível, além dos logotipos dos dois personagens e alguns kanjis orientais.

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

Devo admitir que esse não é um dos meus trabalhos preferidos, mas vale ser colocado na galeria pela diversão de revisitar um desenho feito há oito anos atrás.


NAMASTE!

11 de março de 2012

Do Fundo do Baú - Robocop - O policial do Futuro

Passei quase toda minha infância e adolescência me refestelando com filmes de ação com heróis brucutús que passavam na Tela Quente, Supercine e Sessão da Tarde, e na lista dos que eu mais gostava constava Robocop, filme de 1987 dirigido irretocavelmente por Paul Verhoeven.
Digo irretocavelmente porque Robocop é um filme que possui uma história completa, cujo único defeito hoje são mesmo os efeitos visuais, que dataram miseravelmente, infelizmente.
Reassisti a fita recentemente e me peguei reagindo da mesma forma que antigamente ante as cenas mais violentas e emocionantes, como a morte do Murphy e quando a Polícia, a mando da OCP, fuzila o pobre Policial do Futuro. Claro que tem toda a nostalgia de estar vendo algo que fez parte da minha infância de novo, mas são raros os filmes que nos fazem ter o mesmo sentimento que da primeira vez, mesmo que revisto dezenas de vezes, e Robocop ainda é muito bom mesmo 24 anos depois de sua criação.
O enredo não nos traz nada de muito complexo ou original, e mostra a cidade de Detroit em um futuro próximo quase que inteiramente dominada pela violência e corrupção. A força Policial ameaça entrar de greve quando os homens que tentam defender a lei começam a ser abatidos nas ruas sem que haja qualquer repreensão a seus assassinos, e entre esses carniceiros está Clarence Boddicker (Kurtwood Smith), um poderoso traficante de drogas que parece rir da justiça e que goza de algo semelhante a uma imunidade.
Entra em jogo então a empresa OCP (Omni produtos de Consumo) cujo vice-presidente Dick Jones (Ronny Cox) pretende transformar a cidade de Detroit em Delta City, livrando-a da criminalidade com seus robôs policiais ED-209, fazendo com que a Polícia aja sob suas ordens, como uma empresa de segurança e ao mesmo tempo controlando também os bandidos da cidade, mantendo-os sob rédeas curtas.

O projeto Robocop que visa criar um policial perfeito que não precisa descansar ou comer e que obedece a ordens sem questionamentos, surge depois que o protótipo do ED-209 falha em uma demonstração, assassinando um dos executivos da OCP. Na carência de um voluntário para o projeto que transformaria um homem comum em um ciborgue obediente, o visionário e oportunista Bob Morton (Miguel Ferrer), criador do projeto Robocop, vê sua chance surgir quando Clarence Boddicker e sua gangue faz mais uma vítima, o policial recém admitido ao distrito de Detroit Alex Murphy (vivido por Peter Weller), que é brutalmente alvejado ao tentar deter as ações de Boddicker ao lado da parceira Anne Lewis (Nancy Allen). Murphy passa por um processo de revitalização e é transformado em um ciborgue à serviço da lei conhecido como Robocop.



A ideia de ter um robô completamente obediente e eficiente na guerra contra o crime cai por terra quando as memórias residuais de Murphy começam a voltar à tona apesar de uma lavagem cerebral feita no processo. Entre lembranças de sua esposa, filho e casa, o policial se lembra de seus assassinos e começa a caçá-los, sem imaginar que está entrando em um complexo jogo de poder em que diretores da própria OCP estão envolvidos.

O roteiro do filme, desenvolvido por Edward Neumeier e Michael Miner, nos transporta para um futuro onde a corrupção é algo inerente ao ser-humano moderno, e que pessoas boas como o capitão de polícia Warren Reed (Robert Doqui), Anne Lewis e o próprio Murphy perdem espaço, sendo tratados como idealistas de fundo de quintal. 

Há o sarcasmo nas falas de alguns personagens como Bob Morton e Johnson Marison (Felton Perry), que é um dos executivos da OCP, há também o sadismo nas ações de Boddicker e seus comparsas, assim como há a prepotência de Dick Jones (Ronny Cox) em achar que ele sozinho pode controlar toda uma cidade, e do outro lado da tela nos sentimos impotentes, quase que sem esperanças quanto à realidade daquela Detroit. O quanto desse roteiro se mostra real hoje em dia em algumas cidades norte-americanas e em especial brasileiras?
O quanto desse domínio de grandes corporações que querem nos dizer como agir, como se comportar e como pensar existe atualmente?
E o quanto já estamos reféns de bandidos que agem até mesmo sob a vista-grossa daqueles que deviam fazer cumprir a justiça, recebendo propina e suborno em troca do complemento do ganha-pão do mês?


O quanto da realidade fantasiosa de Robocop se equivale ao que vemos nos recônditos mais obscuros das cidades onde moramos ou mesmo à luz do dia, onde traficantes de todo tipo de drogas nem se preocupam mais em se esconder, sabendo o quanto estão imunes pela lei, agindo com impunidade?
Talvez Robocop não seja só um filme blockbuster que fala de um robô que caça bandidos. Há uma mensagem bem interessante por trás do roteiro de Neumeier, de Miner e da direção fantástica de Paul Verhoeven.

Paul Verhoeven é um diretor holandês de 74 anos conhecido especialmente por ter dirigido Robocop, um de seus trabalhos de maior expressão ao lado de Total Recall, filme estrelado por Arnold Schwarzenegger e que no Brasil ficou conhecido como O Vingador do Futuro (afinal, o subtítulo "do futuro" parecia garantir boa bilheteria!). Além desses clássicos de ação, o diretor também esteve à frente do infame, porém divertido, Tropas Estelares e do masturbatório Instinto Selvagem, protagonizado por Sharon Stone ("gostosa") e Michael Douglas.
Em Tropas Estelares, o diretor dá um tom parecido ao que deu à Robocop, criando um clima sombrio e caótico ao filme, mostrando sua visão peculiar sobre os rumos que a sociedade tende a trilhar daqui pra frente (o que eu não duvido que se torne real). Tanto em Tropas quanto em Robocop, a corrupção parece ser o mote principal da história, e o futuro vislumbrado pelas duas fitas não nos parece muito animador.
É engraçado perceber como o diretor brinca com a questão da mídia em ambos os filmes, tratando a TV como se sua programação fosse inteiramente criada para exibir apenas atrações sensacionalistas como os programas da Sônia Abrão, do Datena e do Marcelo Rezende. Do jeito que a TV está atualmente, não me surpreenderia se daqui há alguns anos só esse tipo de coisa passasse nos canais abertos! 

Verhoeven sabe trabalhar cenas de ação como poucos na indústria de cinema. As cenas que ele dirige se tornam tão impactantes que você dificilmente as esquece, mesmo se passando anos da primeira execução.
A cena em que Murphy é sadicamente fuzilado pelos capangas de Boddicker jamais saiu da minha cabeça, e ela é chocante até hoje, enquanto vemos a mão do policial ser explodida ante um tiro de doze ou seu braço arrancado do corpo por novas balas.
Eu fico imaginando como a decáda de 90 era mais liberal com relação a hoje. Robocop passava na Sessão da Tarde da Globo na época, mesmo sendo um filme que contém um altíssimo nível de violência. Me lembro que nunca antes tinha visto a mão de Murphy ser explodida até adquirir o filme em DVD, mesmo porque a cena era editada pela Globo e depois mais tarde também pela Record, mas eles não se importavam de mostrar o herói cibernético espetando o pescoço de Boddicker com sua entrada USB em forma de faca ou o capanga Antonowsky (Paul McCrane) perambulando com o corpo deformado por um produto químico e mais tarde sendo feito em pedaços, atropelado pelo próprio Boddicker. Porra! Isso era bizarro e passava 3 horas da tarde na TV!

Me lembro o quanto eu imitei essa cena, andando todo torto com a língua pra fora satirizando o Antonowsky todo esculhambado! 

Talvez o Robocop seja um robô feio, bobo e com cara de melão para a nova geração massa véio, hoje acostumada com robôs gigantes com gíria de malandro e que balançam suas bolas metálicas para impor respeito, mas é indiscutível o quanto o design do personagem é bem trabalhado. Acima de tudo ele é um robô, e como tal, se move vagarosamente, sem executar peripécias físicas e contando mais com seu revestimento de titânio para se manter intacto de tiros e qualquer outro tipo de agressão.
Como disse anteriormente, o filme de 1987 hoje está datado pelos efeitos visuais contidos nele. O velho ED-209 é o que mais evidencia a idade do filme, e algumas de suas cenas em stop-motion chegam até a causar risos, vistos com mais calma atualmente (ri muito com a cena em que ele cai da escada!). Se tivessemos um Robocop nos dias de hoje (e vem por aí um remake, como já comentei aqui) ele seria recheado de efeitos especiais, talvez o ED-209 fosse mais moderno, seus movimentos seriam críveis e sua interação com o Robocop podia ser mais realista, mas será que ele conseguiria manter a aura do filme original?

No primeiro filme, o recurso stop-motion que permite inserir criaturas inexistentes no contexto das cenas é muito pouco utilizado se comparado com suas sequências (aí o Robocop voa, pula em cima de um robô gigante, é feito em pedaços, etc, etc.), o que não desabona de modo algum a qualidade técnica do filme no quesito maquiagem, por exemplo.
Eu estava falando do visual do Policial do Futuro, né?
Pois bem.
Seu exoesqueleto feito de titânio passa a noção exata de que ele é um imbatível soldado de aço, e ele passa metade do filme gozando dessa superioridade física, até levar uma surra do ED-209 quando o policial ousa enfrentar o vice-presidente da OCP.
Tudo no Robocop é funcional, desde sua interface de conexão em forma de punhal até o compartimento em sua coxa onde ele guarda a arma que não descarrega nunca!
As partes que se conectam na armadura do chassi de titânio até as partes pretas de fibra de carbono nos fazem crer que aquele é mesmo um robô e não um Homem de Ferro

Até mesmo quando Murphy retira o elmo protetor, já na sequência final do filme, ainda existe a credibilidade que ele é um ciborgue, num misto de homem e máquina. A parte robótica de seu crânio é perfeitamente encaixada na parte do crânio que ainda tem a pele do homem e isso sem precisar mencionar a feição do ator Peter Weller que passa a frieza de um homem-máquina.
Além disso, Weller se mostrou um excelente mímico de corpo, andando e movimentando-se como um robô autêntico, girando a cabeça antes do tronco indicando a direção para onde o corpo deve seguir ao andar. Sensacional!

Seu capacete, que possui todo tipo de visão desde a térmica até a microscópica tem um dos design mais bacanas para um robô na história do cinema, e fico imaginando o quanto será difícil para José Padilha (de Tropa de Elite) e seus manipuladores colegas de set criarem algo tão icônico para o remake do século XXI quanto a aparência clássica do Policial do Futuro.

Se você não vive em Marte, deve saber que José Padilha, o diretor brasileiro de Tropa de Elite 1 e 2, foi colocado à frente da direção de um remake do filme de 1987 do Robocop, e que ele terá a ingrata missão de nos fazer esquecer de tudo que sabemos ou nos lembramos do personagem, tornando-o mais agradável para os dias atuais e remodelando os efeitos visuais, características que na minha opinião, são as únicas que não fazem com que o filme antigo seja nota 10.
A questão é: O quanto Padilha vai poder incorporar de seu estilo ao filme norte-americano sem que o estúdio ou os podutores interfiram, tranformando a fita em um Blockbuster descerebrado (Transformers, Cof! Cof!!!)?

Tropa de Elite possui quase o mesmo contexto que Robocop, com exceção da parte fantástica.
Esqueça o robô, esqueça o processo que o torna um ciborgue e se foque no que comentei anteriormente sobre corrupção e grandes corporações que dominam seu modo de pensar e agir.
Se foque na parte do policial que se deixa corromper em troca de dinheiro ou na questão de que uma empresa ou grupo específico pode dominar a Polícia, fazendo com que ela aja de acordo com o que essa empresa deseja.
Em Tropa de Elite o tráfico de drogas, bocas de fumo e traficantes não subornam policiais, fazendo com que eles façam vista-grossa ao crime?
O Capitão Rocha (Sandro Rocha) não é um policial corrupto que forma uma Milícia para lucrar com as necessidades da favela?

Não é o mesmo que Clarence Boddicker indiretamente faz em Robocop??
Ele é "financiado" por Dick Jones, e em troca presta seus serviços de mercenário e assassino, e isso tudo não está muito longe da realidade que vemos em Tropa de Elite, por exemplo. Resta saber como Padilha trabalhará com a parte fantástica da história, e como ele irá aliar isso com aquilo que ele saber lidar melhor, que é mostrar violência e corrupção nua e crua. 

A identificação do universo criado por Verhoeven e seus roteiristas e o universo criado por Frank Miller na clássica Cavaleiro das Trevas publicada apenas um ano antes (1986) que o lançamento de Robocop nos cinemas foi tão grande, e a similaridade entre as histórias foi tão intensa que o escritor de HQs foi chamado para escrever o roteiro do segundo filme (Robocop 2 de 1990) e dirigir o terceiro (1993), que cá entre nós, é o pior de todos.
Em Cavaleiro das Trevas vemos a cidade do Batman, Gotham City, completamente decadente e dominada pelo crime. As ruas estão tomadas por uma gangue conhecida como "Os mutantes" que incitam a violência e a anarquia, e o Batman está aposentado, muitos anos depois da morte do segundo Robin Jason Todd (lembrando que Cavaleiro das Trevas faz parte de uma linha temporal alternativa). 

Quando o justiceiro encapuzado retorna de seu auto-exílio na mansão Wayne, mais velho e longe da forma física que tivera outrora, ele volta a se dedicar a limpar as ruas da cidade que jurou proteger, exatamente como faz Alex Murphy pouco depois de ser transformado em um ciborgue.
O caos futurista de Gotham e Detroit é similar, assim como o conceito de que ambas as cidades estão sendo dominadas por uma mega corporação, OCP em Detroit e a Lexcorp em Gotham (embora isso só seja melhor esclarecido em Cavaleiro das Trevas 2).
Não deve ter sido à toa que Frank Miller pirou na direção do terceiro filme e colocou o Policial do Futuro para voar por aí com uma jetpack e enfrentar ninjas cibernéticos. Ele queria transformar o Robocop em um herói de quadrinhos e acabou misturando tudo num baita de um samba do robô doido!

Robocop marcou minha infância mais pelas explosões, tiros e cenas massa véio, óbvio, mas hoje vejo com clareza a mensagem principal que ele passa e todo o universo imundo onde a narrativa é criada e que me remete à realidade dos centros urbanos. Nossa realidade não está tão longe daquela da velha Detroit, o único problema é que não teremos um robô justiceiro para limpar nossas ruas dos traficantes ou prender aqueles que causam desordem naquilo que chamamos de Sistema.
E agora? Quem poderá nos defender?
O Sistema é foda, companheiro, e eu pago um Dólar por isso!
Confiram também minhas impressões sobre Tropa de Elite aqui e aqui

NAMASTE!

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