9 de dezembro de 2012

Review - A Cruzada das Crianças

Esse post contém SPOILERS sobre a saga citada! 



Não consegui achar uma correlação do título desse especial lançado no Brasil pela Panini com a Cruzada das Crianças ocorrida historicamente no século XIII (d.C), exceto o fato de que um grupo de crianças (ou “homens jovens”) saem em uma cruzada de um país a outro em busca de um objetivo comum a eles. Porém, no entanto, todavia, Allan Heinberg, o escritor da história, deve ter tido um bom motivo para batizar "sua criança" com esse nome, que a princípio, em minha total ignorância acerca do fato histórico ocorrido na França e em Jerusalém, eu achava ridículo. Vivendo e aprendendo.

Não tenho lido tantas HQs quanto gostaria nos últimos meses, mas posso afirmar com toda certeza que A Cruzada das Crianças é a melhor história da Marvel que já li recentemente, e me remeteu e muito aquelas velhas sagas que eram lançadas nos encadernados de mais de 100 páginas que a Editora Abril publicava ainda em formatinho pelo Superalmanaque Marvel ou em alguma edição especial lá nos idos anos 90. 

Pra quem não sabe, Allan Heinberg é o escritor dos Jovens Vingadores desde seus primórdios, e foi ele quem praticamente criou todo o universo dos herdeiros dos Maiores Heróis da Terra, incluindo aí a relação homossexual entre Wiccano e Hulkling, a versão jovem de Kang o Conquistador (O Rapaz de Ferro), a inclusão de uma Gaviã Arqueira no universo Marvel e de Estatura, a filha do falecido Homem Formiga/Scott Lang. A Cruzada das Crianças marca o ápice da superequipe de adolescentes e sua derrocada em um texto brilhantemente escrito por Heinberg e fenomenalmente desenhado por Jim Cheung, artista que também está no título desde o começo.      
O primeiro visual dos Jovens Vingadores pouco depois de "A Queda"
Mostrando que fez a lição de casa direitinho, que pesquisou todos os fatos mais recentes do universo da Casa das Ideias nos últimos anos e fazendo ótimas referências a fatos mais antigos, como as Guerras Secretas (aquela do Beyonder), Heinberg une todos os principais conflitos dos heróis em um argumento muito plausível, levando o leitor e os próprios heróis a se perguntarem: “Afinal, de quem foi mesmo a culpa do Dia M?”.
A história começa a todo vapor no momento em que os Jovens Vingadores se vêem obrigados a intervir quando um grupo de terroristas racistas ameaça detonar uma bomba nuclear no centro da cidade. Quando um dos líderes da facção intitulada Os Filhos da Serpente (que prega a pureza racial e moral) ameaça a vida de Hulkling, seu namorado Wiccano perde a cabeça e usa seus poderes de origem mística para deter os terroristas, o que gera um conflito entre os garotos e os Vingadores, que chegam ao local tentando botar ordem na casa.


Wiccano aparentemente não se lembra que usou seus poderes para colocar os racistas em coma, o que leva o Capitão América, O Homem de Ferro e Miss Marvel a questionarem se o garoto tem controle sobre seus dons e se ele não pode vir a se tornar uma ameaça, assim como aconteceu com a Feiticeira Escarlate num passado não muito distante. 
Entra em jogo a grande questão da HQ, que é o papel que os Vingadores assumiram depois que sua parceira Wanda Maximoff enlouqueceu, assassinando amigos de equipe e pouco depois criando um mundo onde os mutantes dominavam (a Dinastia M). O que eles devem fazer com aqueles que perdem o controle de seus dons?


Decidido a avaliar os poderes de Wiccano a fim de evitar os erros do passado, o Capitão América convence William a se dirigir até a sede dos Vingadores junto de Teddy, o Hulkling, situação que os demais Jovens Vingadores discordam, fazendo com que eles ajudem os amigos a escaparem daquilo que eles acreditam ser uma prisão temporária. Nessa hora surge o Mestre do Magnetismo Magneto, que lhes propõe uma aliança para que juntos eles procurem por sua filha Wanda, que está desaparecida desde o desenrolar dos fatos da Dinastia M. Apelando para o possível parentesco que tem com Wiccano e Célere (Thomas, o irmão gêmeo de Wiccano), Magneto se revela muito mais compreensivo do que antes, quando era um terrorista mutante, e tenta persuadir os garotos a ajudá-lo a achar Wanda, expiando assim seus pecados do passado. Os Vingadores, claro, discordam dessa aliança, e tem início um conflito entre eles e o Mestre do Magnetismo. 
Magneto X Vingadores

Mais do que trazer à baila questões raciais e o preconceito contra “desiguais”, com o qual podemos fazer um claro paralelo com nossa realidade, A Cruzada das Crianças tenta unir várias pontas soltas que ficaram pelo meio do caminho enquanto a Marvel nos enfiava goela abaixo mega-saga atrás de mega-saga, terminando de certo modo, o trabalho iniciado por Brian Michael Bendis (um dos melhores escritores de HQ da atualidade) lá em Vingadores: A Queda

Pontos Positivos

Devido às diversas sagas que a Marvel já criou desde Dinastia M e toda a bagunça cronológica que acaba acontecendo no meio do caminho, deve ter sido bem difícil para Allan Heinberg sustentar sua história em A Cruzada das Crianças e alinhá-la com o restante do Universo 616, o que só comprova a competência desse autor que antes de escrever quadrinhos, era roteirista de seriados de TV como Party Of Five, The O.C e Sexy and The City.
Homossexual assumido, ele criou a história entre Wiccano e Hulkling  após a sugestão de Tom Brevoort (Hulkling havia sido pensado como um Kree/Skrull transmutado em um corpo de mulher), o que deu o sinal verde para que houvesse então, dois personagens gays em uma equipe de destaque dentro da Marvel. 

Seja como for, embora incomode um pouco a maneira forçada como o escritor parece nos querer mostrar a todo momento que os dois são gays e que são namorados em seus diálogos (é só perceber quantas vezes durante a história eles se referem um ao outro como “meu namorado” e não simplesmente como Billy e Teddy), a orientação sexual dos personagens não interfere no enredo, e em nenhum momento é o fio condutor dele, servindo apenas como mais um aspecto isolado da discussão principal, assim como a condição dos mutantes, que por muito tempo foi usada como metáfora para a própria homossexualidade e a questão do preconceito nas HQs dos X-Men.
Todos os personagens que não fazem parte do círculo dos Jovens Vingadores, a meu ver, estão perfeitamente bem caracterizados, até mesmo aqueles que recentemente mudaram de postura e que hoje mais parecem reflexos distorcidos do que já o foram no passado (Como Magneto, Ciclope e Magnum) estão muito bem inseridos no contexto, defendendo seus pontos de vista.
Do lado dos Vingadores, é a visão radical de Wolverine que cria os melhores diálogos da saga, colocando em conflito aquilo que a equipe acredita ser justiça. Nem mesmo o Capitão América ou o Homem de Ferro sabem o que fazer quando encontrarem a Feiticeira Escarlate, e ambos assumem uma posição covarde quanto a isso, preferindo que ela se mantenha oculta para não terem que lidar com o fato de que se a encontrarem, terão que sacrificá-la pelos crimes que ela cometeu. 

Para Wolverine, a sentença é simples: Wanda tem que morrer!
Para Wolverine, a questão é mais simples. Wanda usou seus poderes para criar uma utopia mutante e depois, arrependida, simplesmente apagou milhares de mutantes do mundo com três palavras “Chega de Mutantes” e por isso ela deve morrer. O mutante canadense sai sozinho em busca do rastro dos Jovens Vingadores e de Magneto (que no meio do caminho ainda encontram com o Mercúrio) decidido a dar cabo não só de Wanda como também de seu filho Wiccano, cujos poderes podem vir a ganhar a mesma extensão que os da mãe.
Enquanto isso, tentando evitar algo ainda pior, Os Vingadores usam a assinatura energética do Magnum (que só está vivo porque Wanda o “conjurou” de volta após sua morte) para rastrear Wanda que está na Latvéria, sob os cuidados do Dr. Destino!

Cara! Heinberg conseguiu juntar na mesma história os Vingadores (minha equipe de heróis favorita), os X-Men (minha segunda equipe de heróis favorita), a Feiticeira Escarlate (uma das minhas heroínas preferidas) e ainda colocou no caldeirão o Magneto e o Dr. Destino (que saem na mão!), simplesmente dois dos vilões mais mothafuckers do Universo Marvel e dos quais eu sou fã. E não, a história não vira um samba do afro-descendente doido como o viraria nas mãos de roteiristas menos gabaritados. 
Em busca da Feiticeira Escarlate cada um deles com seus próprios objetivos (Wolverine para matá-la, os Jovens Vingadores para lhe contar a verdade sobre seus filhos, Os Vingadores para ajudá-la, O Magneto para se redimir de seus erros e os X-Men para levá-la a justiça), os heróis e vilões entram em conflito na Latvéria, onde Wanda estivera desde o fim da Dinastia M, sem memória e noiva do Dr. Destino.
A arte de Jim Cheung, esse desenhista inglês de descendência oriental e que também é co-criador dos Young Avengers (por criar os concepts de uniformes e características físicas dos personagens) é outro ponto elogiável da saga A Cruzada das Crianças

A arte de Jim Cheung
Quando ele surgiu lá na edição (nacional) de nº 25 dos Vingadores, confesso que não fui muito com a cara de seu traço, e que aqueles rostos iguais que ele fazia para todos os personagens (fossem eles velhos, jovens... todo mundo tinha a mesma cara!) me incomodavam de certa forma. Aquela sua capacidade de desenhar todo mundo com cara de moleque me remeteu a outro artista que tinha essa mesma característica, Tom Grummett, que não coincidentemente ficou famoso por desenhar o Superboy (o havaiano de jaquetinha) e o Robin/Tim Drake na DC.

Sem máscara todo mundo é igual!
Seja como for, Cheung possui uma qualidade ímpar que é a de desenhar cenas gigantescas e com diversos personagens (ponto também para o colorista das duas edições Justin Ponsor e seu trabalho fantástico), dando uma vivacidade única a história, nos fazendo mergulhar de cabeça no enredo. Sua arte compõe perfeitamente a narrativa de Heinberg, e exatamente por isso, as duas edições de A Cruzada das Crianças valem e muito a pena de serem adquiridas. 

Como costumo dizer aqui, não sou um grande fã de scans e meio que tenho uma resistência em ler conteúdo de quadrinhos através da tela do computador, por isso, ver a arte de Cheung em páginas impressas foi um deleite.

Uma das grandiosas cenas de batalha de Cheung
Só fica a dica... Ô Cheung! Tenta dar uma mudada nos rostos dos personagens. Às vezes até é difícil identificá-los quando estão sem máscara!

Não posso deixar de mencionar também, o bom humor de algumas falas da HQ, quebrando por vezes o clima sério da história. Homem Aranha (pra variar) e Homem de Ferro estão afiados nas piadas e comentários sarcásticos! O Aranha e a ironia do SHAZAM e Tony Stark pronto a "ejetar" o Mercúrio do jato dos Vingadores é hilário!

"Vamos segui-los."
"Como? A menos que você seja o tipo de Marvel que pode convocar relâmpagos mágicos--"
Pontos Negativos

Até agora só fiquei aqui tecendo elogios à narrativa de Allan Heinberg, aos desenhos do Jim Cheung e piriri e pororó. Mas A Cruzada das Crianças só tem coisas boas? A história é mesmo essa Coca-Cola toda?
Não, caro padawan, nem tudo são flores.
Reitero tudo que já disse aqui, mas a HQ possui soluções (em especial na segunda edição) que estão no melhor padrão Joe Quesada de qualidade, dando desculpas esfarrapadas para responder aquilo que todo mundo achava que sabia, como pra pergunta que fiz no início do post: “Afinal, de quem foi mesmo a culpa do Dia M?”.


Descobrir que afinal, a Feiticeira Escarlate esteve o tempo todo sendo dominada por uma força maior (a tal da Força Vital) que a tomou quando ela quis resgatar a alma de seus dois filhos, aparentemente mortos, com a ajuda do Dr. Destino, e que NENHUMA das ações que ela cometera até então podia ser de sua total responsabilidade, foi um tanto quanto clichê. Sem falar que, onde foi que já vimos isso antes?
Jovem heroína é tomada por uma entidade cujo poder é sem precedentes e que comete crimes influenciada por esse poder. 


Essa é a Saga da Fênix!
E outra, Wanda alega que pediu a ajuda de Destino porque sua magia é mais poderosa do que a do Dr. Estranho.
Como assim?? O cara era o Mago Supremo da Terra até então!
É a segunda vez que um herói em desespero apela pra um vilão porque o Dr. Estranho não pode ajudá-lo, não é mesmo Homem Aranha??


No meio do caminho, usando uma infundada viagem temporal comandada pelo Rapaz de Ferro (que volta a nossa linha temporal do nada, por que o Wiccano precisava dele!) os Jovens Vingadores tentam mudar a história, retornando ao ponto específico do tempo onde o Valete de Copas aparece putrefato diante da Mansão dos Vingadores, pronto a explodir a porra toda, evento que deu início a Queda dos Vingadores.

Como resultado, os Jovens Vingadores acabam viajando de volta no tempo com o confuso Scott Lang a tira-colo, salvando-o da morte certa, e é nesse momento que os poderes da Feiticeira Escarlate retornam, junto com sua memória. 
Não. Sério. Pra que trazer o Homem de Formiga de volta à vida e dessa maneira clichezenta?
Segundo uma entrevista dada pelo próprio Heinberg ao site Comic Book Movie a volta de Lang “Parecia como uma consequência lógica da motivação de Cassie para querer encontrar a Feiticeira Escarlate, em primeiro lugar”.

O Valete de Copas reencontra a Feiticeira Escarlate
Então tá.
Com a volta de Lang, e do Gavião Arqueiro (que pra quem não lembra também ressuscitou num passe de mágica) e com o ressurgimento do Visão clássico, uma vez que sua versão jovem foi destruída pelo Rapaz de Ferro ao fim da Cruzada, todos os pecados de Wanda acabam sendo amenizados, já que sua tentativa de restaurar os poderes dos mutantes que ela retirou no Dia M falha por culpa do Patriota
Assim, Wanda está perdoada e pode voltar a fazer parte dos Vingadores a hora que quiser.


Outro fato que me desagradou (além do Dr. Destino em posse da Força Vital se tornar um gigante!!) foi a morte de Cassie Lang, que é justificada pelo mesmo Allan Heinberg como a consequência natural dos atos dos Jovens Vingadores. Cassie acaba pagando por um erro que todos eles cometeram, e tanto ela quanto o jovem Visão (que possuía padrões mentais do Rapaz de Ferro) acabam perecendo de maneira “irreversível”, criando mais um final clichê como tantos das mega-sagas da Marvel.
Com isso, o roteiro de Heinberg que vinha sendo construído de maneira brilhante acabou sendo maculado no final, quando o roteirista acabou sendo forçado a apelar para a mesma solução que ele procurava consertar: A morte de heróis. 

Sem falar que já está batido esse final do vilão que em posse de poderes incomensuráveis se torna um gigante para que todos os heróis o enfrentem de uma vez. Sério. Já vi isso umas quinze vezes nos últimos dez anos. Sem falar que PORQUE EM NOME DE ODIN ESSES ESCRITORES GOSTAM TANTO DE GIGANTES?? PERSONAGENS GIGANTES NÃO SÃO INTERESSANTES!

Não pensem você, no entanto, que esses detalhes finais desabonam a HQ. A meu ver, A Cruzada das Crianças continua proporcionando uma ótima leitura e um ótimo exercício para a memória (apesar do fim clichê), já que nos força a lembrar de detalhes obscuros mencionados em edições e sagas anteriores.
A conclusão a que Célere chega de que tanto Vingadores quanto X-Men só sabem agir com base nos próprios colhões sem medir as consequências e a definição de Magnum de que os Vingadores não são mais uma família de heróis e sim um exército nos levam a refletir afinal se estamos certos em torcer para as duas equipes.
O breve conflito entre Vingadores e X-Men pelo destino de Wanda Maximoff, no entanto, esquenta os tamborins para a vindoura saga Avengers X X-Men, que já está sendo concluída lá nos States. E aí? De que lado você estará?

Todo mundo pra trás que o pau vai comer!
A Cruzada das Crianças nos proporciona aquele tipo de leitura viciante, do qual você não larga enquanto não vê a última figura e o último balão de fala. Devido sua narrativa empolgante cheia de ação, e do texto inteligente de Heinberg, que não descaracteriza nenhum dos vários personagens com as quais lida na HQ, A Cruzada coloca os devidos pingos nos “is” que faltavam na cronologia Marvel (pelo menos no que tange Vingadores/X-Men) sem deixar de criar novas situações que ligam essas pontas soltas. Uma pena que tivemos que esperar mais de três meses para ver a conclusão da Saga, que por aqui, saiu em duas edições especiais devido o atraso que a edição americana também sofreu por lá até ficar pronta. 
A HQ é mais do que recomendada para quem gosta dos personagens criados por Allan Heinberg e mais do que obrigatória para quem acompanhou toda a saga da Feiticeira Escarlate desde a Queda. 

Nota: 9,0.

NAMASTE.

1 de dezembro de 2012

Cine Brasil: O Ano em que meus pais saíram de férias





"Meu pai diz que no futebol todo mundo pode falhar, menos o goleiro!"


Dirigido e escrito por Cao Hamburger, mais a colaboração de Adriana Falcão, Claudio Galperin, Anna Muylaert e Bráulio Mantovani, o longa-metragem O Ano em que meus país saíram de férias foi lançado nos cinemas brasileiros em 2006, e na época surgiu como uma grata surpresa, uma vez que destoava de tudo que vinha sendo lançado como um padrão naquele período, apesar de tratar, sobretudo, de um assunto polêmico: A Ditadura Militar

O enredo se passa em 1970, e conta a história de Mauro (Michel Joelsas) um menino mineiro que é obrigado pelos pais Daniel (Eduardo Moreira) e Bia (Simone Spoladore) a viajar para São Paulo, onde irá passar um período, segundo eles curto, na casa do avô, um barbeiro judeu vivido pelo ator Paulo Autran. Embora o pequeno Mauro nem imagine, seus pais são militantes de esquerda, e estão fugindo do Governo opressor brasileiro, que na época, saía à caça de qualquer pessoa que apresentava ideais igualitários e que expunha esse tipo de sentimento em público. O título do filme é bem representativo para esse fim, e mostra que as “férias” que Daniel e Bia estão tirando, nada mais são do que a desculpa que eles resolveram dar para que seu filho pudesse entender sua ausência. 

Mauro é deixado na porta do prédio aonde o avô mora, no bairro de Bom Retiro, local conhecido na época como um reduto judaico de São Paulo, e para onde imigrantes vindos da Polônia, Rússia e Lituânia começaram a se mudar, a partir da década de 20. Sem saber que o avô falecera horas antes de sua chegada ali, Mauro o aguarda na porta de seu apartamento, onde acaba sendo acolhido por um velho judeu, vizinho de seu avô, o ranzinza Schlomo, vivido magistralmente por Germano Haiut

Germano Haiut como Schlomo
Frustrado pela ausência do avô, e sem notícias de seus pais, Mauro é obrigado a se estabelecer num mundo diferente daquele que ele aprendeu a viver, e apenas sua paixão pelo futebol parece distraí-lo tempo suficiente de sua esperança de que seus pais voltem para buscá-lo. É o futebol que o aproxima das crianças da vizinhança, e que o leva a conhecer a esperta Hanna (Daniela Piepszyk ) e seus amigos, e mais tarde a simpática atendente de lanchonete Irene (Liliana Castro).   


Sem ter para onde ir, Mauro aprende a gostar de sua nova “família”, e o garoto acaba despertando a afeição de toda a vizinhança, que cuida dele enquanto o menino aguarda o retorno dos pais, cujas “férias” parecem se estender cada vez mais.
  

O roteiro desenvolvido por Hamburger e seus colaboradores é extremamente simplista, e o que vemos do início até o fim do longa é a visão que o pequeno Mauro tem dos fatos que se desenrolam à sua volta. É ele quem narra a história, a todo o momento estamos por dentro daquilo que ele sabe e é interessante notar alguns recursos técnicos que a direção toma para nos mostrar o ponto de vista de Mauro, como quando em meio a um conflito entre militares montados a cavalo e esquerdistas, a câmera está na altura do menino, nos dando o seu ângulo de visão, passando entre as pessoas para ver o que está chamando a atenção de todos. Em nenhum momento é dito que seus pais são militantes e que a Polícia os está perseguindo para prendê-los, ou que aquele termo “férias”, se refere a o exílio que muitos brasileiros foram obrigados a fazer por conta da Ditadura Militar e sua perseguição política, e embora isso fique claro para o espectador em alguns momentos, o próprio Mauro jamais fica sabendo da verdade. É brilhante essa decisão de Hamburger em mostrar um período tão caótico da história do Brasil pelo ponto de vista de uma criança e toda sua inocência. 


O futebol é outro ponto fundamental para o desenrolar da trama, uma vez que a paixão de Mauro pelo esporte o faz viver várias situações com os demais personagens, além de contar a história também por essa linha narrativa de quem aprecia o jogo. 


Se o tema política não atrai tantas pessoas, essa paixão nacional pode ser uma forma interessante de atração, e o filme cumpre bem esse papel, mostrando que, apesar de todas as diversidades étnicas (representada pelo namorado negro de Irene), religião (na figura dos judeus) e de povos (no caso os italianos) ou mesmo a diversidade política, o futebol consegue unir todas as pessoas, que torcem juntas em frente a TV enquanto Pelé, Tostão e Rivelino comandam a melhor Seleção de todos os tempos rumo ao Tri-Campeonato mundial no México. 

O Capitão Carlos Alberto levanta a taça

A cena em que o personagem Ítalo (Caio Blat), um esquerdista amigo do pai de Mauro declara em voz alta pouco antes do primeiro jogo da competição que se a Tchecoslováquia (primeiro adversário do Brasil na Copa) vencer representa uma “vitória do Socialismo”, sua comemoração discreta quando o time europeu marca o primeiro gol e logo depois a explosão dele e dos amigos em comemoração ao empate e depois à vitória da Seleção Brasileira, mostra que crença ou visão política nenhuma resiste ao “patriotismo” brasileiro quando seu time está em campo. Independente das injúrias vividas pela população, o futebol sempre consegue dar esperança, fazendo o país parar para assistir seus ídolos da bola do outro lado do mundo defendendo as cores brasileiras. 

E não é assim até hoje?
 
O Ano em que meus pais saíram de férias é um excelente filme dessa nova safra iniciada no fim da década de 90 para o chamado “Cinema novo” brasileiro, e prova que uma história pode ser contada de forma simples e inocente, sem recorrer a palavrões, sexualidade ou situações apelativas que atraem o público. Se as atuações não são tão inspiradas, excetuando talvez a de Germano Haiut que realmente convence como um judeu com dificuldades em falar o português e a de Caio Blat como o revolucionário que acaba entrando em conflito com o Governo, o roteiro e sua linearidade nos fazem mergulhar de cabeça na história, que é cativante assim como seu protagonista. 

Caio Blat como Ítalo

Embora em algumas cenas o jovem Michel Joelsas pareça estar sempre com o texto ensaiadinho na ponta da língua não dando muita vivacidade a seu Mauro, em outras ele consegue tirar gargalhadas do público e emocionar devido a singeleza com que conduz seu personagem, o que lhe garante mais pontos positivos do que negativos a sua atuação. 


O Ano em que meus pais saíram de férias levou 70 mil espectadores ao cinema e ganhou o prêmio de 2006 no São Paulo International Film Fest, o que para termos de faturamento, nem de longe configura o filme como um sucesso de público, não figurando nem entre os 70 filmes mais vistos no Brasil nas últimas décadas, de acordo com dados divulgados pela Ancine


Mesmo assim, O Ano, é um filme bonito e que cativa por sua simplicidade, além de nos motivar a querer aprender mais sobre os temas nele discutidos como a Ditadura, a cultura judaica e a história dos imigrantes estrangeiros que moram em São Paulo. 


PS.:Era boa a época em que a distração das crianças não passava do inocente jogo de botão (e como eu joguei botão na mesa lá de casa!!), futebol na rua ou colar figurinhas em álbuns!!

Bons tempos que não voltam mais!


NOTA: 8


NAMASTE!

23 de novembro de 2012

Lançamento do Livro do Fim do Mundo


Há quase um ano, eu publiquei aqui no Blog do Rodman um post falando sobre a minha experiência em escrever um texto para o Site O Livro do fim do Mundo, que foi criado sob a batuta dos idealizadores do site Geração X².
A ideia era publicar e mais tarde selecionar alguns textos que fariam parte de um projeto ainda maior, um livro, onde os contos sobre o fim do mundo seriam publicados, dessa vez em material impresso.

E não é que o projeto saiu do papel (ou NO papel)??

O lançamento do Livro do Fim do Mundo de responsabilidade do Kchaço, do Marreco Bill e do restante do pessoal do Geração X² já ocorreu em dois estados (Paraná e Rio de Janeiro) e ontem (24/11) aconteceu em São Paulo na Livraria Cultura do Shopping Market Place.

E sabem o que é ainda melhor?

O meu texto A Salvação faz parte da coletânea de contos e eu estive lá no lançamento paulista junto do pessoal do Geração X² no Shopping Market Place, que fica na Avenida Doutor Chucri Zaidan, 902 - Santo Amaro. 

Olha o meu nome ali ó

Foi muito bacana conhecer de perto o pessoal do site e do Podcast Geração X² Kchaço (Eder Fabrilo), o Marreco (Alessandro Finardi), a Carol (Calamidade) e os demais autores paulistas do projeto, com a qual deu tempo de bater um papo BEM nerd entre um autógrafo e outro.

Alguns dos autores do Livro

Sim. A sensação de dar autógrafo e assinar dedicatórias foi uma das mais satisfatórias de minha vida (e senti que posso me acostumar a isso. Fácil!!), mas poucas sensações conseguem bater a de ver o meu nome em um livro e a possibilidade de que um texto escrito por mim seja lido por muitas pessoas por aí.

O Marreco ali no meio e eu

O lançamento do Livro do Fim do Mundo é um passo muito importante para a minha e para as carreiras de meus colegas que assinam textos da coletânea, e temos que agradecer e MUITO a iniciativa do Kchaço e do Marreco, que além de serem dois caras gente finíssima (pessoalmente também) souberam conduzir muito bem o projeto, desde a criação do site do Fim do Mundo até o lançamento na Livraria.

Que esse seja o primeiro passo de muitos que iremos dar rumo ao mundo literário!


E o livro já está à venda no site da Livraria Cultura:

Clica aí no link pra comprar ou visite a Cultura do Shopping Market Place.



NAMASTE!

3 de novembro de 2012

Estreias de temporadas na TV




Começou a temporada de séries de fim de ano nos canais por assinatura (ou no Torrent mais perto de você!), e com essas estreias aumentou a nossa vontade de assistir todas de uma vez como se não houvesse amanhã... E como se não tivéssemos mais nada para fazer na vida a não ser assistir TV.
Claro que quarenta minutos de ócio não fazem mal a ninguém (eu, por exemplo, vejo alguns episódios no celular, no caminho de volta pra casa!), e como em alguns casos a curiosidade não mata só o gato, decidi me aventurar a acompanhar três das séries mais badaladas do momento: The Walking Dead (FOX), American Horror Story – Asylum (FOX) e Arrow (Warner).
As séries citadas estão em começo de temporada, com dois (ou três) episódios lançados até o momento cada uma, e portanto, ainda é muito cedo para se ter uma ideia precisa se elas serão sucessos estrondosos ou fracassos estupendos.
Mesmo assim, é possível se ter uma primeira impressão sobre o que eu vi até agora, analisando os dois primeiros episódios de cada série, e como diz uma impressora amiga minha, “a primeira impressão é a que fica”.



Com o fim de Smallville (“Somebody Saaaaaaaaaaaaaaave me!”) a Warner decidiu apostar em outro dos heróis advindos do seriado do Clark Kent adolescente de quarenta anos, para quem sabe, estrelar mais dez temporadas, e a bola da vez é o Arqueiro Verde (ou “Flecha Verde", como achar melhor).
Estrelada pelo ator Stephen Amell, que também encarnou o mesmo personagem em Smallville, a série Arrow aposta alto no clima dark para dar vida a um dos heróis mais carismáticos que já passaram pela Liga da Justiça, contrabalanceando essa soturnez com ótimas cenas de ação e um mistério envolvente, que na minha opinião, é um dos ingredientes essenciais para que uma série consiga me prender do primeiro capítulo ao último. 


O primeiro episódio não se parece com o início de uma série. Tem-se a impressão de que você começou a acompanhar a história do meio dela e que você está tão perdido quanto o personagem título no enredo, o que acaba sendo um dos pontos positivos da produção. Somos instigados a querer saber mais da história daquele cara e o que irá acontecer a ele nos próximos episódios.
O plot é simples e funcional. Oliver Queen é o herdeiro bon vivant de um industrial residente em Starling City (nos quadrinhos Star City, a cidade do Arqueiro Verde) que desaparece junto do pai e da amante em um naufrágio. O que aparentemente não passa de uma fatalidade, se torna um plano mortal arquitetado por alguém bem próximo de Queen, e que o faz ficar perdido em uma ilha durante cinco anos. Dado como morto e resgatado por pescadores, Queen retorna a sua cidade, porém algo aconteceu a ele na ilha durante aqueles cinco anos, fazendo com que ele se torne uma verdadeira arma viva, treinada para matar... 


Ou pelo menos, muito bem treinado em parkour e no tiro ao alvo!
A atmosfera sombria da série me atraiu bastante desde o comercial veiculado pela Warner, e mesmo vendo a série, me vi bastante interessado nos primeiros quinze minutos. A passagem rápida de tempo já depois da volta de Oliver a Starling City, as situações meio desconexas e a atuação do protagonista (que se sai bem nas cenas de ação) me incomodaram um pouco. Com cara de constipado e alternando entre um olhar perdido e um humor forçado, o Oliver Queen da série meio que não convence como um cara sofrido que passou cinco anos em uma ilha comendo o pão que o diabo amassou. 


Os caras de LOST convenciam bem mais, tanto que terminaram a série bem mais velhos, depois de assarem no sol do Havaí onde rolavam as gravações das seis temporadas!
O segundo episódio já apresenta melhor qualidade que o anterior, e achei que Amell, um pouco mais à vontade no papel, conseguiu passar melhor as emoções de seu personagem, dando alma a ele, em especial em suas cenas com seu par romântico Laurel (que aparentemente será a Canário Negro num futuro próximo da série... Ou não!). 


Claro que ainda é muito cedo para julgar a série, e acompanharei os próximos episódios com atenção, esperando que a qualidade estética permaneça e que tanto atuações quanto roteiro melhorem significativamente.
Não espero fidelidade às HQs (até porque se seguir o que vimos em Smallville...), mas confesso que estou ansioso para as aparições do Exterminador (cuja máscara já dá as “caras” no 1º episódio) e de outros vilões recorrentes no universo do Arqueiro Verde como o Pistoleiro (Deadshot). 


Quem sabe Arrow não surpreenda e se torne a primeira série relevante com super-heróis da TV?



Se a primeira impressão é mesmo a que fica, vou detestar a segunda temporada da série criada por Ryan Murphy e Brad Falchuck, cuja primeira temporada eu resenhei aqui com todo carinho e dedicação.
Como já havia sido anunciado, o foco da série se desvia da família Harmon e sua casa assombrada, e apesar de usar três atores da primeira temporada, que interpretam novos personagens (Jessica Lange, Evan Peters e Zachary Quinto), a série não tem NADA A VER com sua origem, se passando dessa vez em um asilo (ou hospício), onde coisas sinistras parecem acontecer desde a década de 60.

 
A excelente Jessica Lange, que recebeu o Emmy de melhor atriz coadjuvante por seu papel em AHS, retorna à segunda temporada, dessa vez na pele de uma Madre pra lá de casca-grossa, que comanda o asilo do título com mãos de ferro, botando as noviças e empregados na linha. Ao mesmo tempo em que ela nutre fantasias com o Monsenhor vivido por Joseph Finnes (da falecida Flashforward), ela acaba batendo de frente com o Doutor Arthur Arden (vivido por Jamespai do Babe, o porquinho atrapalhadoCromwell), um médico que aparenta fazer estranhas experiências com pacientes do local, e que não aceita muito bem suas ordens.
Em paralelo a isso, conhecemos superficialmente a história do personagem vivido por Evan Peters (O psicótico Tate da primeira temporada), que aparentemente vive uma vida pacata ao lado da namorada negra (lembrando que isso era quase improvável na década em que se passa a história) até que um estranho fenômeno os apanha desprevenidos em sua casa. 


O que vemos em seguida, depois do que parece ser uma abdução alienígena (e pelo que eu entendi, com direito até a introdução a sonda anal!), é Kit, o personagem de Peters, chegando ao Asilo Briarcliff acorrentado e sendo tratado como um terrível serial killer conhecido como Face Sangrenta.
Ok. Rola um mistério para te deixar ligado nos próximos episódios. Tem algumas cenas de softporn para apimentar as coisas, mas, porém, no entanto, todavia... A série não me apeteceu com essa nova roupagem.
Sério que agora vai rolar alienígenas na mistura do caldeirão?
Em vez de espíritos obsessores atormentados vamos ter criaturas que devoram suas vítimas e que todo o enredo vai se desenvolver com base nisso?


É.
Como disse no tópico de Arrow, é muito cedo para especular se essas ideias serão ou não boas o suficiente para segurar firme durante quase vinte episódios, mas me senti incomodado com o que foi apresentado, e não como na primeira temporada, que só a abertura já dava um cagaço impressionante. AHS – Asylum não é assustadora, e embora seja um ponto positivo tentar mudar as coisas para manter a série interessante, ainda acho que essa mudança aconteceu de forma muito radical.
Aguardemos os próximos capítulos.  



Diferente das series anteriores citadas, The Walking Dead começou sua Terceira temporada (resenha da primeira temporada aqui e da segunda aqui) com um tapa na cara e os dois pés nas caixas dos peitos no quesito tensão.
Quem conhece a série sabe o quanto ela é capaz de surpreender até o mais frio telespectador, porém estamos acostumados a ver isso acontecer mais pro meio da temporada. Pelo ritmo, a 3ª temporada guarda surpresas do início ao fim, e começando exatamente de onde a anterior parou (com uma passagem de tempo de sete meses), a série recomeça com a busca incansável de Rick e seu grupo por um lugar seguro para que eles possam finalmente parar para descansar longe dos mortos-vivos espalhados por todo lugar. 


Com o bebê-Shane (como brinca Daryl sarcasticamente) à caminho, é necessário que Lori tenha um local seguro para dar a luz a qualquer momento, o que leva o grupo a encontrar uma prisão abandonada que parece perfeita para os refugiados. Cercada por zumbis, a prisão é invadida, e é necessário que todos eles façam um grande esforço para manter a segurança do portão para dentro, tarefa que Rick faz impondo sua nova política de “aqui quem manda sou”, vista no fim da temporada anterior após a morte de Shane


Uma vez dentro da prisão, os sobreviventes acabam descobrindo que não estão completamente seguros, e os antigos “moradores” do local assim como policiais zumbificados surgem para reivindicar seu espaço.  


Fora do núcleo principal da trama, descobrimos enfim quem era a figura sinistra que aparece ao fim da temporada 2 de espada em punho com dois zumbis sem braços e mandíbulas presos a uma corrente para salvar Andrea da morte certa, e paralelamente ao que acontece com Rick e sua turma, acompanhamos o destino das duas sobreviventes, que sozinhas encaram todas as adversidades daquele novo mundo recheado de canibais mortos-vivos por todos os lados. 


Envolta em mistérios, Michonne (Danai Gurira) carrega o próprio namorado e seu melhor amigo zumbificados acorrentados com ela, para que junto deles seu cheiro humano não seja captado, exatamente como Rick e Glenn fizeram na primeira temporada ao “tomarem um banho” com sangue de morto-vivo para passarem incólumes em meio a eles. De onde ela veio ou o que a levou a se tornar uma “justiceira ninja” ninguém sabe (exceto os leitores da HQ, claro), e os próximos capítulos prometem ser eletrizantes enquanto desvendamos todos os mistérios


The Walking Dead é de longe a melhor estréia da temporada na TV por assinatura, mas estarei acompanhando de perto as três séries citadas e ver no que vai dar seus enredos.  
Em breve resenhas sobre as temporadas completas.

NAMASTE!

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