20 de junho de 2013

Faroeste Caboclo - O Review



“Não tinha medo o tal João de Santo Cristo era o que todos diziam...”.

Dirigido pelo estreante René Sampaio e escrito por Paulo Lins (autor do livro Cidade de Deus que inspirou o filme), o longa-metragem Faroeste Caboclo chegou aos cinemas depois de um grande período de espera desde que foi anunciado, e arrebatou um público surpreendente (em torno de 1,3 Milhões de espectadores) logo no primeiro mês da estreia.

Baseado na música homônima de Renato Russo (líder da Legião Urbana falecido em 1996) o filme conta a história de João (Fabrício Boliveira), um rapaz negro, pobre e nordestino que decide mudar sua própria sorte indo de Santo Cristo para Brasília, a capital de seu país. Cansado de sua vida dura e sofrida, João passa por diversas provações enquanto procura seu lugar ao sol próximo do Planalto Central, local bastante retratado nas canções de Renato Russo à frente da Legião. 

"Ele ficou bestificado com a cidade"

Os fãs fervorosos de Renato e da Legião Urbana talvez se decepcionem com a montagem adaptativa que René Sampaio procurou fazer para a música, que muitos apontavam como um roteiro pronto de cinema devido sua qualidade descritiva, e já em seus primeiro minutos, a narrativa visual do longa deixa bem clara as intenções do diretor em transformar Faroeste Caboclo (o filme) em algo além do que um simples videoclipe da música.




O elenco do filme é integrado por bons nomes como o ator baiano Fabrício Boliveira, a atriz Isis Valverde, Marcos Paulo (ator falecido no final de 2012 que interpreta o Senador pai de Maria Lúcia) e Antônio Caloni, o diretor até consegue conduzir boas cenas de drama e de ação utilizando o talento do elenco, porém o filme carece de um ritmo definido, o que faz com que alguns momentos-chaves sejam quebrados o tempo todo por flashbacks inesperados e cortes secos em cenas mais movimentadas.

"Quando criança só pensava em ser bandido..."

A montagem de Sampaio tem um quê de cinema americano, em alguns momentos somos transportados para o clima de velho-oeste (com boa trilha incidental), em outros somos surpreendidos por angulações de câmeras em locais inesperados (como dentro de um balde d’água vindo de um poço artesiano), mas na maioria das vezes ele torna as cenas um tanto quanto monótonas, com uma película envelhecida que dá ao filme aquele clima tão característico de desolação nordestina, do qual já estamos meio fartos de assistir desde a infância. Afinal, o que é que o cinema brasileiro produzia antigamente além de filmes sobre o Nordeste brasileiro?

Mas, Rodman... O João é nordestino! Como você queria que fosse a retratação do Nordeste no filme?

O problema nem é com a retratação do Nordeste, e sim com o tipo de montagem que o diretor escolheu, fazendo com que o filme não possuísse características próprias.

"Era o terror da cercania onde morava..."

A falta de trilha sonora na maioria das cenas incomoda. Ouvimos acordes de Faroeste Caboclo no início do filme, algumas músicas que remetem a filmes de velho-oeste (por vezes cortadas secamente ao estilo Tarantino) e há também o bom Rock N’ Roll brasileiro (músicas da Plebe Rude e do próprio Aborto Elétrico, antiga banda de Renato Russo), mas na maioria das cenas só o que escutamos é o silêncio. Até mesmo nas mais tensas demonstrações dramáticas.  

"Coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu..."

O texto de Paulo Lins constrói uma narrativa objetiva e de fácil digestão, porém muda (como toda boa adaptação) pontos principais da música da qual se baseia, o que faz com que tenhamos surpresas na linha de roteiro com a qual já estávamos acostumados desde que decoramos a letra de nove minutos para cantar nas rodas de violão da hora de intervalo da escola. Não, João de Santo Cristo não sobrevive nessa versão, se é o que você está pensando, jovem padawan, mas existem sim muitas alterações na história

"Maria Lúcia era uma menina linda..."

Seja por redução de custos (o filme tem apenas 1h40 e iniciou com um orçamento de 6 Milhões) ou por questões de alteração de mídia (da música pro cinema) algumas soluções encontradas foram interessantes, como a razão da traição de Maria Lúcia (Isis Valverde), o desenvolvimento da personalidade do primo Pablo (César Troncoso) ou a criação dos coadjuvantes que cercam os personagens que aparecem na letra da música (como o “padrinho” do Jeremias vivido por Antonio Caloni). Outras, no entanto, enfraqueceram a história original e não apresentaram inovações, como a mudança de cenário para o duelo entre João e Jeremias (Felipe Abib). Cadê as bandeirinhas, o povo a aplaudir, o sorveteiro, as câmeras e a gente da TV que filmavam tudo ali?

Achei desnecessária essa alteração.

"Jeremias maconheiro sem vergonha organizou a Roconha e fez todo mundo dançar..."

Por falar no duelo final, o que me levou a dar a nota que darei ao filme ao fim do post foi justamente o clímax dessa cena. Eu encarei todas as alterações de roteiro ao material original como “licença poética”, aceitei as cenas corta-tesão, ignorei o fato do filme ter um ritmo meio cansativo e aceitei até a falta de trilha-sonora impactante... Mas não consegui engolir a sequência final, onde (sem nenhum Spoiler) Jeremias mata João, que mata Jeremias que mata Maria Lúcia.

"Maria Lúcia pra sempre vou te amar..."

Esse trecho da música, a elevação do som, dos acordes mais agressivos marcam a mudança de clima da trajetória de vida do personagem principal. João perdeu tudo que mais amava para seu pior inimigo, ele não está satisfeito e chama o traficante para um duelo em plena Brasília. Ceilândia. Lote 14. 

Essa parte da história dá praticamente o título da música. É o que esperamos ver desde o começo do filme (que numa bela montagem, mostra o desfecho logo no primeiro minuto da reprodução), e aí René Sampaio numa falta de colhões épica tira todo o impacto da cena para que ela fique mais “romântica”?

"... e um filho com você eu quero ter."

Cadê todo aquele “ódio por dentro”? Cadê a frase “Olha pra cá filho da puta sem vergonha Dá uma olhada no meu sangue E vem sentir o meu perdão” que funcionaria como um tremendo bordão para desfecho de cena? Cadê o sangue no “zóio” do Santo Cristo por tudo que Jeremias lhe fez ao longo da história?

Achei o final bem apagado para a minha expectativa, e em minha opinião não fez jus ao desfecho grandioso da obra de Renato Russo. A meu ver, faltou colhões para fazer de Faroeste Caboclo um filme muito mais corajoso do que o que acabou saindo. No final, percebemos que a história tinha grande potencial, mas acabou se rendendo ao clichê, não permitindo um desenvolvimento melhor e mais aprofundado.


"Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu..."

Faroeste Caboclo não é nem de longe um filme juvenil como muitos que são lançados no Brasil todos os anos, ele possui cenas fortes de violência, mostra sexo de maneira quase explícita (e sim! Tem peitinhos de Isis Valverde!) e tira ótimas atuações de seus atores, porém, deixa a desejar em vários aspectos, o que o permite figurar apenas na média de bons filmes fracos que o país verde e amarelo produz.

"Mas Pablo trouxe uma Winchester .22"

Não li nenhum crítica ao filme, favorável ou não, portanto não faço ideia como ele foi recebido aí fora. Como grande fã da música da Legião Urbana o filme não me agradou muito, e como apreciador de cinema, apenas o deixei na categoria de filmes bons, mas nem um pouco memoráveis.

NOTA: 7 


PS.: Nada contra a atuação de Fabrício Boliveira, mas eu torceria muito mais para o João de Santo Cristo se ele fosse vivido pelo Seu Jorge. Aí sim teríamos um Santo Cristo foda, a nível Django do Tarantino!

NAMASTE!

14 de junho de 2013

Velozes e Furiosos 6: Entrando com os dois pés no seu peito.


Devo admitir que até o quarto filme da série, eu nunca tinha sido um grande entusiasta da franquia Velozes e Furiosos. Tinha gostado do primeiro, mal tinha visto o segundo e nunca tinha parado pra ver o terceiro, mas algo me pegou a partir de Velozes e Furiosos 4, e de lá para cá me tornei um fã da série, o que me fez ir ao cinema pela primeira vez para conferir um filme narrando as aventuras de Dom Toretto, Brian O’Conner e seus amigos.

Dirigido mais uma vez pelo taiwanês Justin Lin e escrito por Chris Morgan, Velozes e Furiosos 6 é com segurança um dos melhores filmes da franquia, e entra com os dois pés no peito no quesito ação e adrenalina, jogando de vez a série num universo mais policial e menos no de rachas e carros tunados, o que foi a sua principal marca no início dos anos 2000. Juntos desde Desafio em Toquio, Lin e Morgan já haviam provado que sabiam escrever e filmar cenas de ação alucinantes com os filmes anteriores, mas os dois decidiram estourar todos os limites com o sexto filme, nos fazendo pular da poltrona do cinema até mesmo em sequências inacreditáveis, daquelas dignas dos filmes do 007 de Pierce Brosnan. Não foi raro ouvir a galera soltando aquele clássico bordão “puta, que mentira!” durante a exibição, mas o ritmo do filme é tão bem cadenciado entre cenas de perseguição de tirar o fôlego e ação mirabolante que ninguém se importa quando uma marmelada ou outra nos faz acionar nosso "desconfiômetro" quanto à seriedade do filme.


É certo que os capítulos anteriores da série procuravam se levar mais a sério, e que pautavam mais suas histórias no que realmente atraia o público na época, que eram rachas com carros tunados, algumas gostosas desfilando enquanto os garotões se exibiam com seus motores potentes e algumas cenas de ação, mas desde o quarto filme a pegada tem sido mais bem elaborada, e o próprio Justin Lin admitiu em entrevista que sua ideia era mesmo fechar a história em uma trilogia (no caso o quarto, quinto e o sexto), e que o que vemos no cinema com a estreia de Velozes 6 é mesmo o amarrar das pontas que se soltaram de lá pra cá. 


Realmente há muitas citações aos demais filmes, e dessa vez nada fica em aberto, nem mesmo a principal confusão que causava na cabeça da galera o fato do 3º filme se passar na verdade depois dos demais, cronologicamente falando. Até a abertura do filme, enquanto rola a apresentação do elenco, mostra as principais cenas que aconteceram nos demais filmes, como que reavivando a memória do público quanto ao que eles devem se preocupar na sexta parte. Embora não seja o último filme, devido a cena final que mostra que o bicho vai continuar pegando, tudo parece direcionar para isso, amarrando muito bem a história e dando um fim plausível a todos os personagens.


Mas chega de falar de roteiro. Vamos falar de coisa boa.

Pancadaria e velocidade.

Justin Lin é um excelente diretor de ação, e com o sexto filme o cara se firmou, em minha opinião, de vez no universo cinematográfico dirigindo cenas espetaculares de perseguição que realmente marcam o espectador. Estou cansado de sair do cinema e esquecer o filme que assisti uns trinta minutos depois, mas as sequências de ação de Velozes e furiosos 6 conseguiram me fazer relembrar por mais tempo o que tinha visto, e isso graças ao toque genial desse diretor taiwanês de 40 anos.


Pra começar, a maioria dos atores manda muito bem em cenas de ação, e além da dupla principal Vin Diesel e Paul Walker, todo o restante consegue se destacar em sequências exclusivas de tiroteio e pancadaria, até mesmo a dupla de alívio cômico formada por Roman Pearce (Tyrese Gibson) e Tej (Ludacris) têm seus momentos, dando tiros e socos, além de fazerem o que sabem melhor: Fazer o público rir. Nesse quesito aliás, o personagem de Tyrese é mestre, e praticamente todas suas aparições vêm com alguma sacada engraçada, até mesmo quando ele faz dupla com Han (o coreano Sung Kang). O que dizer da cena de luta entre os dois e o capanga oriental do vilão Shaw (Luke Evan) em plena estação do Metrô londrino? Foi um dos momentos mais hilários do filme.

Han (Sung Kang) e Pearce (Tyrese Gibson)

O bacana é que mesmo em meio a todo esse excesso de testosterona, sobra tempo para Lin construir seus personagens, e fixar bem a personalidade de cada um deles. Mesmo os que têm menos destaque recebem um background interessante, e todos eles possuem características próprias como o fato de Han estar sempre comendo algum salgadinho (por ter sido um fumante inveterado, como foi dito no quinto filme), o de Gisele (Gal Gadot) ser uma perita em armas ou o de Tej ser um especialista em informática. Cada um deles tem vida própria e personalidade definida, o que faz com que nos importemos com eles também, além da dupla Toretto e O'Conner. O personagem de Paul Walker, aliás, agora tem uma razão mais forte para se afastar daquela vida de perigos que é Jack, o filhinho dele com Mia (Jordan Brewster), e até mesmo o relacionamento do casal, que teve início no primeiro filme, apresenta uma evolução. Nada é gratuito em Velozes e Furiosos 6, e isso faz com que o filme seja bem mais do que simplesmente um blockbuster. 


O agente da DSS (Serviço de Segurança Diplomática) Hobbs (Dwayne “The Rock” Johnson) está de volta na sexta parte da série, e no encalço de um perigoso artefato que corre o risco de cair em mãos erradas, ele acaba pedindo a ajuda de Toretto (Vin Diesel) e sua equipe, para encontrar o chefão do crime que anda aterrorizando a Europa e ainda no percurso salvar a vida de Letty (Michelle Rodriguez), dada como morta no 4º filme. Sem memória após o “acidente” que quase a matou, Letty agora age ao lado de Owen Shaw ajudando-o com seus assaltos e fugas espetaculares pelas ruas de países europeus, sem saber que seus amigos estão bem perto dela. Quando descobre que sua ex-namorada está viva, Toretto reúne novamente sua equipe e parte para ajudar Hobbs e sua nova agente Riley, vivida pela lutadora de MMA Gina Carano.  


O plot do filme é muito parecido com o de Mercenários 2, “temos que impedir um vilão de colocar as mãos em um artefato poderoso nem que pra isso tenhamos que destruir metade do mundo”, mas a execução é infinitamente melhor do que a que Simon West optou por fazer no filme dos mercenários dispensáveis do Stallone. Pra começar, as cenas de perseguição são excelentes, salvo alguns exageros como personagens saltando de viadutos sobre carros sem sofrer nenhum arranhão, porém o que mais me empolgou no filme foi a pancadaria
Com dois peritos da boa e velha arte de enfiar a mão na cara do adversário presentes no elenco, que são The Rock e Gina Carano, as cenas de lutas vão muito além das expectativas.  O cinema moderno tem carecido de lutas impactantes no desenrolar de uma boa trama, mas Velozes e Furiosos conseguiu trazer essa arte de volta, e dá pra destacar pelo menos uns três excelentes arranco-rabos do filme.

Michelle "Sou mais macho que você" Rodriguez

Eu não sei o quanto Michelle Rodriguez precisou enfrentar Gina Carano de verdade nas filmagens e o quanto ela usou sua dublê (na verdade dá pra perceber em alguns momentos), mas o que a moça deve ter apanhado na vida real não deve ter sido brincadeira! As duas beldades se engalfinham duas vezes no filme em longas sequências de pancadaria, e desde os tempos de Cynthia Rothrock (a musa da porradaria dos anos 90) eu não via uma troca de socos e pontapés entre mulheres tão empolgante na tela. Gina Carano vai com tanta sede de quebrar Michelle que realmente chega a dar pena em alguns momentos, sem falar no medo da lutadora arrebentar a atriz de verdade em cena. Claro que com a ajuda da magia do cinema, Michelle (que como já pudemos testemunhar várias vezes é muito mais macho que muito macho por aí!) consegue lutar de igual pra igual com a moça porradeira, mas é de encher os olhos as lutas das duas.

Gina Carano: A Porradeira.

Destaque para a luta final entre Toretto e o gigante guarda-costas de Shaw com a participação de Hobbs e depois o acerto de contas entre Toretto e Shaw, cujo intérprete Luke Evans, aliás, mandou muito bem, tanto em sua atuação dramática quanto nas lutas. As cenas são tão bem coreografas que me senti dentro de um ringue de MMA, (sem aquele agarra-agarra frescurento) e vibrei com cada porrada, cabeçada e chute que rolava. Só faltou cadeirada nas costas, mas de resto rolou de tudo.

Luke Evans é Owen Shaw

Tudo que senti falta em Mercenários 2, Velozes e Furiosos 6 me entregou, e saí do cinema com aquela vontade de sair fazendo racha na rua e de dar voadora nos outros muito satisfeito, apesar de ter ido assistir o filme sem grandes expectativas, além do que já sabia que a série era capaz de entregar. Pra quem gosta de filme de ação recheado de cenas ultra-exageradas, perseguições bem executadas e pancadaria dentro de um roteiro que não chega a te insultar (exceto pelo fato de um agente especial pedir ajuda para um criminoso e ir contra tudo que acredita o tempo todo inclusive ficando contra superiores), Velozes 6 é uma ótima pedida para um Sábado a noite. A diversão é garantida.


Depois do que Justin Lin fez com a série, dando-lhe uma pegada de filmes de assalto e transformando a equipe de Toretto numa espécie de Força-tarefa mercenária em vez de fugitivos sem eira nem beira, vai ficar difícil para Stallone e os Mercenários 3 empolgarem seus fãs tanto assim no cinema. Se bem que a influência de um para o roteiro do outro ficou bem clara nesse sentido.

NOTA: 9. E só não é 10 porque até pro Massa Véio tem limite!


 

NAMASTE!

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