13 de outubro de 2013

Eu dei uma espiada nos Diários do Vampiro (1ª Temporada)


Vampiros sempre inspiraram curiosidade e fascínio, e isso desde que as primeiras obras de Bram Stoker (considerado por muitos o “pai” dos vampiros na literatura) publicadas no Século XIX começaram a ser adaptadas já no Século seguinte. O filme “Drácula de Bram Stoker” de 1992, estrelado por Gary Oldman e Wynona Ryder, foi o primeiro talvez, a trazer à tona o gênero “vampiro” para a Cultura Pop moderna e retirar os sedutores dentuços do ostracismo, o que durou aí por volta de uma década.

Nos anos 2000, seja pela conjunção dos astros, solstício de verão, Era de Aquário ou pelo simples fato de que histórias de vampiros atraíam as pessoas (em especial mulheres), ocorreu um boom na literatura fantástica norte-americana, e várias escritoras começaram a lançar obras sobre o tema, incluindo aí Charlaine Harris com sua série The Southern Vampire Mysteries (2001), livros que contavam a saga da jovem garçonete Sookie Stackhouse que inspiraram a série da HBO True Blood, e claro, Stephenie Meyer com Twilight (2005), obra que inspirou a série de filmes da Saga Crepúsculo. Longe da literatura, mas ainda assim inserido na cultura pop, o filme Underworld – Anjos da Noite foi lançado mundialmente em 2003, e também aproveitou desse filão vampiresco, incorporando a (na época) inédita guerra entre os dentuços branquelos e sua nêmese peluda, os lycans (ou lobisomens, para os menos cultos).  


Enquanto Anne Rice, provavelmente a escritora mais famosa e mais prestigiada da literatura americana sobre vampiros, lançava seus livros com certa periodicidade (entre eles Entrevista com o Vampiro de 1976 e A História dos Ladrões de Corpos de 1992), outra escritora menos famosa e menos prestigiada surgiu no cenário literário e lançou seu livro chamado The Vampire Diaries: O Despertar, em 1991. Lisa Jane Smith (ou simplesmente L.J Smith) começou a escrever a história da jovem Elena Gilbert e seu triângulo amoroso com os irmãos vampiros Damon e Stefan Salvatore lá no início dos anos 90, tendo terminado a primeira série em 1998. Curiosamente, os livros só chegaram ao Brasil mais de dez anos depois, com o sucesso do lançamento da série de televisão The Vampire Diaries, estrelada por Ian Somerhalder, Nina Dobrev e Paul Wesley, e desde então a história que se passa na cidade fictícia de Mystic Falls (nos livros Fell’s Church) tem atraído uma legião crescente de fãs, sobretudo mulheres.

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Mas Rodman, porque diabos você resolveu assistir essa série?

Boa pergunta, caro padawan.


Quando assisti o primeiro Anjos da Noite me vi interessado por aquilo que eu considerava algo inédito, a briga histórica entre duas das criaturas sobrenaturais fantásticas mais fascinantes que existiam: Vampiros e Lobisomens. Depois disso, começou a ficar cada vez mais comum ver essa “briga” entre as duas raças na mídia, incluindo aí nas insossas intervenções artísticas de Stephenie Meyer em seus livros e depois no cinema. Antes disso, o tema vampiro só havia me interessado em Entrevista com o Vampiro (o filme de 1994) e com o surgimento de Blade (1998), personagem da Marvel criado por Marv Wolfman e adaptado para o cinema na pele de Wesley Snipes. Esse lance de vampirinhos apaixonados realmente me broxavam, até eu perceber que isso era recorrente desde Drácula de Bram Stoker. Eu já tinha achado Crepúsculo e todas suas variantes um saco, filme insosso sem atrativos e cansativo, resolvi dar uma chance para True Blood (que resenhei aqui e aqui), série que começou bacana, mas que depois virou um samba do afrodescendente desprovido de faculdades mentais e tinha combinado comigo mesmo passar bem longe de qualquer coisa que tratasse de vampiros e que não tivesse um caçador arrancando suas cabeças envolvido.

Motivos para ver a série? Que tal esses?

Então resolvi dar uma chance para The Vampire Diaries. Afinal, não se pode falar mal de algo sem conhecer do que se está falando.

A série criada por Kevin Williamson e Julie Plec conta a história de Elena Gilbert (Nina Dobrev), uma jovem de 17 anos órfã que perdeu os pais num fatídico acidente automobilístico em que ela sobreviveu milagrosamente. Sob a responsabilidade da jovem tia Jenna (Sara Canning), Elena e seu irmão mais novo Jeremy (Steven R. McQueen) procuram restabelecer suas vidas após o trauma da perda dos pais, e para isso contam com o apoio dos amigos de escola. 


Enquanto a garota é confortada pelas amigas Bonnie (Katerina Graham), Caroline (Candice Accola) e pelo ex-namorado e amigo Matt (Zach Roerig), eis que ela se sente atraída por um misterioso jovem recém-surgido na escola (e não, não estou falando de Edward Cullen!!) chamado Stefan Salvatore (Paul Wesley). Embora acreditemos nisso até metade da primeira temporada, o encontro de Elena e Stefan não é NADA casual, e enquanto os dois começam a se envolver amorosamente, a garota descobre que Stefan já a havia conhecido bem antes da escola, e que ele (SPOILER) havia sido o responsável por tirá-la do carro no acidente que matou seus pais.


Mais tarde, Elena se vê envolvida na misteriosa história da família Salvatore e ela conhece o enigmático Damon (Ian Somerhalder), o irmão mais velho de Stefan que retornou a Mystic Falls depois de um longo afastamento para atazanar a vida do caçula. Cheio de sarcasmo e cinismo, Damon volta acompanhado de uma onda de mortes que começa a assolar a cidade, o que passa a preocupar Stefan, que diferente do irmão, não mata vítimas inocentes para saciar sua sede por sangue.



OH, MY FUCKIN' GOD! Eles são vampiros, Rodman??

Claro, Mané! Achou que bonitos, sarados, perfeitos e usando gola em V desse jeito eles seriam o quê? Elfos da floresta??


Enquanto descobre os segredos assustadores dos irmãos Salvatore, Elena se vê envolvida em uma rede de intrigas e mentiras que a faz pensar em “onde fui amarrar meu jegue?”. Apaixonada por Stefan e sentindo coceirinhas por Damon, a menina chega a terrível constatação de que seu grande amor é uma criatura da noite que se alimenta de sangue para sobreviver, e apesar disso, decide aceitar sua real natureza, confiando que ele não vai rasgar sua jugular durante a noite na cama. Assim como nos livros, o roteiro da série deixa bem clara a questão maniqueísta de bem e mal, pelo menos nos primeiros episódios. 


Stefan é o irmão vampiro bonzinho que voltou para Bon Temps Mystic Falls para viver em paz enquanto persegue o amor que nunca mais encontrou desde que sua amada Katherine (que é a cara de Elena!) morreu em um incêndio um século antes. Ele se alimenta de coelhinhos da floresta (como ele é fofo, né?), respeita a vida humana e aceita sua própria humanidade, traço que ele luta para não perder, apesar de ser um morto-vivo. Já Damon é o vampiro clássico, que gosta de se esbaldar na luxúria, não está nem aí para os humanos (e quem pode condená-lo por isso?) e que simplesmente apertou o foda-se para o mundo, afinal ele é lindo, tesão, bonito e gostosão e ainda é praticamente imortal. O conflito entre bem e mal é bem construído no início da primeira temporada, mas como nem tudo é preto e branco, é bacana perceber que os irmãos Salvatore mantêm características contraditórias em suas personalidades, fazendo o espectador perceber que Damon não é afinal tão filho da puta assim e nem que Stefan é praticamente um Dalai Lama de bondade. Obviamente, o fã-clube de Damon é muito maior entre as espectadoras. Por que será, hein?? (Já discuti esse conflito ideológico aqui certa vez).


Se a série se desdobrasse inteira somente nesse triângulo amoroso, eu já a teria abandonado logo nos primeiros episódios, mas a história por trás do passado de Mystic Falls, a relação dos Salvatore com os fundadores da cidade (as famílias Fell, Gilbert, Forbes e Lockwood) é bem atraente e todo o misticismo ao redor de alguns personagens, como a magia de Bonnie, que é herdeira das bruxas de Salem, me interessou a continuar acompanhando. Em nenhum momento me senti agredido pelo roteiro ou percebi que os roteiristas estavam de brincation with me, tipo falando que vampiros não andam no sol porque eles brilham feito umas fadas loucas ou que eles procriam (!!). Muito da mística criada por Stoker e mantido por Anne Rice encontram espaço em The Vampire Diaries (sem toda aquela homossexualidade característica dos textos da autora americana, claro), e desta forma, vampiros continuam morrendo com estacas de madeira, continuam não podendo andar nas ruas durante o dia e ainda fingem serem pessoas normais para comer o cu do coveiro emboscá-las à noite.

Tyler Lockwood e Caroline Forbes

Diferente das demais séries longas (que em geral possuem de 20 a 23 episódios por temporada), todos os episódios de TVD parecem ser relevantes para a trama principal e não sofrem daquela enrolação ao estilo Supernatural, em que somente os dois primeiros episódios e os dois últimos realmente mudam alguma coisa na trama. Ou seja: perder um episódio significa ficar também perdido no decorrer da história.

Dobrev, Wesley, McQueen, Graham, Somerhalder e Accola

Além do enredo amarradinho cheio de mistérios e reviravoltas, a série conta também com um bom elenco jovem. Quase nenhum dos atores decepciona em suas atuações (além de serem TODOS, sem exceção, bonitos), o que é com certeza uma das minhas maiores críticas aos filmes da Saga Crepúsculo, por exemplo, com os bonecos de cera Kristen Stewart e Robert Pattinson nos papeis principais. Graças à interpretação dos atores, nós conseguimos nos importar com os personagens, mesmo os coadjuvantes. 

Apesar de seu ar meio sonso, Nina Dobrev convence com sua romântica Elena, e ela é tão graciosa que entendemos perfeitamente porque Stefan, Damon e Matt morrem de amores por ela. Em contraposição a sua bondosa e certinha Elena, é notável perceber o quanto ela consegue parecer mais audaciosa na pele de Katherine, o grande amor do passado dos irmãos Salvatore, que aparece em flashbacks do século XIX e que ressurge vivíssima da Silva no fim da temporada. Embora se trate de uma mesma atriz interpretando duas personagens, é explícito quando estamos vendo uma e a outra, graças ao talento de Nina Dobrev. Em alguns momentos, aliás, até dá pra esquecer que é a mesma atriz interpretando. Isso sem falar que Nina é uma graça, um verdadeiro pitéu! 


Ian Somerhalder (e as mina pira) é sem dúvida o grande nome da série. Seu personagem é insuportavelmente carismático, e mesmo quando Damon age como um completo psicopata nós conseguimos dar risada de seu sarcasmo, sua marca registrada na série (sua “zoeiragem” com Crepúsculo e as referências ao mundo pop são hilárias!). Pra quem se lembrava do ator apenas como o nervosinho Boone de LOST, que só servia para tirar a meio-irmã Shannon de enrascadas, além de ser usado pela ilha como um sacrifício, é interessante notar o quanto ele evoluiu como profissional para o personagem principal de TVD. Vale lembrar que LOST teve seu último episódio lançado em 2010, e Somerhalder já vivia Damon Salvatore quando voltou a aparecer por lá como o Boone nos flashsideways que mostravam o “futuro” dos sobreviventes do voo 815 da Oceanic Airlines.


Dos três atores principais, Paul Wesley é com certeza o menos talentoso, o que não necessariamente prejudica a história, já que seu personagem Stefan é mesmo mais introspectivo. O “mocinho” nunca rende tantas possibilidades de interpretação quanto o vilão, e apesar daquela primeira impressão de que ele é um mau ator, o cara consegue convencer em cenas mais dramáticas do meio da primeira temporada para frente. Resisto em aceitar esse lance de que sempre “há luz na escuridão e trevas na luminosidade”, portanto tenho mais facilidade em torcer para Stefan do que para Damon em relação ao coração da heroína Elena, o que indica que o ator afinal, tem sim algum carisma.


 Independente de quem vai ficar com Mary Elena, do 5º episódio em diante já é bem fácil torcer pelo elenco todo, e aquele efeito The Walking Dead começa a nos tomar como espectador, rezando para que aquele personagem específico não morra. E apesar de ser uma série de certo modo leve e para toda a família (já que não mostra nudez ou cenas de sexo, pelo menos não mais que a novela das 9!!), morre bastante gente no decorrer dos 22 episódios, embora o sangue não jorre de maneira agressiva como acontece, por exemplo, em True Blood, onde o termo “família” não se aplica bem ao público do seriado.


Os 22 episódios fluem de maneira bem impactantes dentro do contexto da série, e cada capítulo ocorre sem grandes enrolações. Temos a clara noção de que estão nos querendo contar uma boa história ali, e não apenas ganhar números no ibope para o canal CW que transmite The Vampire Diaries. No decorrer da série diversos outros personagens são inseridos acrescentando mais vigor à história, como o professor de nome estranho Alaric Saltzman (Matthew Davis) que surge com a missão de caçar o vampiro que raptou sua esposa Isobel (Mia Kirshner), que mais tarde é revelada como (SPOILER) a verdadeira mãe de Elena, a vampira Annabelle (Malese Jow) que se envolve amorosamente com Jeremy após usá-lo para encontrar um meio de reviver sua mãe Pearl (Kelly Hu, a Lady Letal de X-Men 2), presa nos escombros abaixo da igreja após o incêndio que “vitimou” também Katherine, e o primeiro interesse romântico de Jeremy, a irmã de Matt e viciada em drogas Vicki Donovan (Kayla Ewell), que acaba tendo que ser sacrificada por Stefan após ser transformada em vampira por Damon e ameaçar matar Elena.


Ufa!

The Vampire Diaries possui diversos atrativos narrativos (mais para meninas, claro) e é uma boa série para se acompanhar periodicamente, essa aliás, uma especialidade do canal Warner. Comecei a acompanhar cheio de preconceitos do tipo “que série de menininha!”, “vampirinhos boiolas!”, mas acabei convencido pelo bom andamento dos episódios muito bem escritos e dirigidos. Assim como Arrow, Supernatural e porque não dizê-lo Smallville (todas da Warner, aliás) The Vampire Diaries é concebida para agradar mais o público feminino, mas não ofende o público masculino por conta disso. É ótima para acompanhar com a namorada e depois ver seus argumentos sobre a perfeição de Damon Salvatore caírem todos por terra quando você tentar convencê-la do contrário. Sinceramente, já vi muita série pior por aí e não me arrependi de ter começado a assistir a saga dos vampiros bonitões de Mystic Falls.

NOTA: 8

Ps. A magia é usada como muleta para tudo que é inexplicável na série e às vezes nossa inteligência é insultada com a facilidade com que Bonnie enfeitiça certos artefatos e convenientemente os fazem funcionar com sua magia. Nível Doutor Estranho, essa bruxinha!



Ps. 2 – bacana criarem outra fraqueza para os vampiros como a planta verbena, mas ao que me consta, essa porra nasce em Mystic Falls mais do que cai kryptonita em Metrópolis! Todo mundo tem um pouquinho em casa.

NAMASTE!

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